A preparação e a resposta a pandemias de influenza,
como a que ocorreu em 2009, foram temas abordados nesta quarta-feira (5),
último dia do 54º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical
(Medtrop). Em 2018, completaram-se 100 anos da maior crise de saúde pública da
história moderna: a gripe espanhola, que infectou cerca de um terço da
população mundial em 1918.
Um século depois, o conhecimento e as tecnologias
para lidar com tais pandemias são sofisticados e podem ajudar não só os países
a responderem a elas, mas também a diminuírem seus efeitos devastadores – como
é o caso das vacinas. Roberta Andraghetti, assessora regional em Regulamento
Sanitário Internacional (RSI) da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização
Mundial da Saúde (OPAS/OMS), apresentou algumas ferramentas disponíveis para
uso dos Estados Membros.
Segundo Roberta, o Programa Mundial de Influenza da
OMS, que existe há 70 anos, tem como principais componentes a resposta e a
vigilância a essa enfermidade. A iniciativa conta atualmente com uma rede de
144 laboratórios nacionais, seis centros colaboradores, quatro laboratórios
reguladores essenciais, 13 laboratórios de referência, um centro colaborador para
vigilância epidemiológica e outro para estudos ecológicos.
A vigilância em nível mundial, de acordo com
Roberta, é realizada com base em fatores epidemiológicos e virológicos. A
vigilância virológica é feita por meio da plataforma online FluNet,
que gera tabelas, gráficos e mapas com dados em nível de país que são
atualizados semanalmente. Essa ferramenta também serve para rastrear o
movimento dos vírus da influenza globalmente e interpretar dados
epidemiológicos.
Já a vigilância epidemiológica se dá por meio da
plataforma FluMart, desenvolvida para facilitar a troca de
dados, harmonização, consolidação e armazenamento de dados relacionados à
influenza. “Os produtos gerados nessa ferramenta trazem mapas com análises e
relatórios com a distribuição dos vírus gripais e dos casos, entre outros. Além
disso, é possível comparar o estado de ‘virabilidade’ da influenza em
diferentes partes do mundo e visualizar a distribuição de indicadores
qualitativos, como a geografia da atividade viral, impactos, tendências e
intensidade”, afirmou Roberta.
O conceito de avaliação da gravidade e da resposta
ante a influenza pandêmica ou não pandêmica “resulta da pandemia de gripe H1N1
em 2009, pois antes se utilizavam parâmetros de visualização em nível de
distribuição epidemiológica, mas não em nível de gravidade do fenômeno que
estávamos observando”, alegou Roberta. A assessora regional afirmou também que
a definição da gravidade de uma pandemia é estabelecida em função de três
indicadores, sendo eles a transmissibilidade do vírus (o número de pessoas
doentes), a gravidade da doença e seu impacto nos sistemas de atenção à saúde e
na sociedade em geral.
Outra ferramenta apresentada é o Pandemic Influenza
Preparedness Framework (PIP), que tem como principal objetivo criar um
sistema para “melhorar e fortalecer o intercâmbio de vírus gripais com
potencial pandêmico no ser humano e conseguir com que os países que necessitam
de vacinas e medicamentos para salvar vidas tenham um acesso mais previsível,
eficiente e equitativo a elas em futuras pandemias”. Dessa forma, o componente
propicia que os Estados Membros, o setor industrial, outros setores e a OMS se
dediquem de forma conjunta a pôr em prática uma estratégia mundial de
preparação e resposta ante a uma pandemia de influenza.
Influenza
no Brasil
Walquiria Aparecida Ferreira de Almeida, técnica da
Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde do Brasil, afirmou que
a pandemia de 2009 foi um marco importante para o aprimoramento da vigilância
no país. “Precisamos conhecer os vírus da influenza e o comportamento da
doença. Temos que lembrar que eles podem dizimar populações”, pontuou. Um dos
desafios sublinhados por ela é conseguir uma maior adesão nas campanhas de
vacinação de massa. “Toda a população está exposta, então as medidas preventivas
são extremamente importantes”, complementou.
Nancy Bellei, infectologista da Universidade
Federal de São Paulo (Unifesp), falou sobre a droga utilizada para influenza
atualmente no Brasil, o oseltamivir, e sobre os medicamentos que estão em
processo de desenvolvimento e testagem e que, em breve, devem estar disponíveis
como outras opções de tratamento.
Crédito
da foto: Shutterstock.com/Frontpage
0 comentários:
Postar um comentário