Para
debater questões de produtividade no Brasil e fortalecer uma agenda de Estado
consistente, o Comitê de Desburocratização da Fiesp realizou na manhã desta
terça-feira (18 de setembro) um encontro com especialistas para analisar como a
burocracia atrapalha a eficiência da indústria nacional.
Na
avaliação do presidente do Conselho Superior de Economia da Fiesp, Delfim
Netto, “o Tribunal de Contas da União [TCU] é um dos exemplos mais claros de
como o caos pode produzir a ordem”. Para ele, a instituição figura como uma das
entidades mais perfeitas do Estado brasileiro, treinada por pessoas competentes
e que estão encontrando uma nova utilidade, que é criar produtividade no
Brasil, característica que o país deixou de ter.
“Durante
40 anos nós [Brasil] crescemos mais que o mundo. Nos últimos 40 anos nós
estamos crescendo menos que o mundo, aconteceu qualquer coisa em desarranjo
fundamental que é expresso na produtividade do país”, afirmou. Na visão de
Delfim, apesar do cenário econômico atual, “o Brasil não deve ser visto
como um fracasso, somos 210 milhões de habitantes, somos a oitava economia do
mundo, um país pobre e desigual, mas temos tudo para voltar a crescer”,
defendeu. Para além das cifras econômicas, ele completou: “crescimento é um
estado de espírito, só cresce quem sabe por que quer crescer, crescimento não é
uma coisa simples. Crescimento é uma disputa, uma corrida na qual morre quem
fica parado e quem corre é atropelado”.
A
análise de Delfim foi compartilhada pelo diretor da Faculdade de Economia e
Administração da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP),
Antonio Corrêa, sobre considerar o Brasil um país de sucesso. “Poucos países
conseguiram essa transformação brilhante, de sair de uma economia primária
exportadora para uma economia industrial”, disse.
Já
o pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação
Getulio Vargas (FGV) do Rio de Janeiro, Fernando Augusto Veloso, lembrou como a
temática da baixa produtividade do país foi camuflada por causa do chamado
bônus demográfico, em que a população em idade para trabalhar estava crescendo
acima do nível geral da população, permitindo incorporação de mão de obra que
fez com que o padrão de vida das pessoas pudesse crescer acima do que a
produtividade permitia. Rendas e salários, principalmente nos anos 2000, cresceram
muito acima da produtividade. Do Observatório das Empresas Estatais da FGV de
São Paulo, o diretor Márcio Holland de Brito exemplificou o problema da
produtividade com o aumento do número de servidores públicos nos últimos anos,
que não refletiu uma melhora dos serviços prestados. “É falta de controle e
cobrança de uma administração eficiente”, completou.
Sobre
a experiência do TCU, o coordenador do projeto de Eficiência e Produtividade
Fernando Camargo reforçou a ideia de que o Brasil passa pela armadilha do baixo
crescimento, da renda média. “O dinheiro acabou, estamos em uma crise fiscal e
com uma dívida pública de 75% do PIB [Produto Interno Bruto]. O TCU pode ajudar
como órgão de Estado e não de governo. Sem preocupações com agendas políticas”,
afirmou. O secretário de Controle Externo do Desenvolvimento Econômico do
TCU, Fernando Antonio Magalhães, garantiu que a ideia da instituição é
contribuir para uma agenda contínua de melhora no ambiente de negócios
brasileiro. Durante o encontro, o ministro do TCU Vital do Rêgo Filho
chamou o trabalho de uma jornada de desburocratização.
O
secretário de Controle Externo de Santa Catarina e coordenador da fiscalização
das disfunções burocráticas que afetam a indústria do TCU, Waldemir
Paschoiotto, apresentou um levantamento sobre produtividade e detalhou que 21%
da riqueza do país sai da indústria, assim como 32% da arrecadação federal e
quase 10 milhões de empregados. “TCU é mais conhecido pela auditoria, mas
atuamos com mais que instrumentos de fiscalização, como pesquisas e
diagnósticos”, garantiu.
Finalmente,
o gerente de Departamento de Economia, Competitividade e Tecnologia da Fiesp,
Renato Corona, falou da burocracia como grande gargalo para a produtividade da
indústria brasileira. “Em um ranking de 43 países, o Brasil aparece como
primeiro em burocracia tributária, o que implica em um custo maior, uma das
economias que mais gastam com Justiça e desperdiçam com corrupção”, lamentou.
Foto:
Helcio Nagamine, Mayara Baggio, Agência Indusnet Fiesp
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