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quinta-feira, 20 de setembro de 2018

"TCU É UM DOS EXEMPLOS MAIS CLAROS DE COMO O CAOS PODE PRODUZIR A ORDEM", DIZ DELFIM NETTO


Para debater questões de produtividade no Brasil e fortalecer uma agenda de Estado consistente, o Comitê de Desburocratização da Fiesp realizou na manhã desta terça-feira (18 de setembro) um encontro com especialistas para analisar como a burocracia atrapalha a eficiência da indústria nacional.

Na avaliação do presidente do Conselho Superior de Economia da Fiesp, Delfim Netto, “o Tribunal de Contas da União [TCU] é um dos exemplos mais claros de como o caos pode produzir a ordem”. Para ele, a instituição figura como uma das entidades mais perfeitas do Estado brasileiro, treinada por pessoas competentes e que estão encontrando uma nova utilidade, que é criar produtividade no Brasil, característica que o país deixou de ter.

“Durante 40 anos nós [Brasil] crescemos mais que o mundo. Nos últimos 40 anos nós estamos crescendo menos que o mundo, aconteceu qualquer coisa em desarranjo fundamental que é expresso na produtividade do país”, afirmou. Na visão de Delfim, apesar do cenário econômico atual, “o Brasil não deve ser visto como um fracasso, somos 210 milhões de habitantes, somos a oitava economia do mundo, um país pobre e desigual, mas temos tudo para voltar a crescer”, defendeu. Para além das cifras econômicas, ele completou: “crescimento é um estado de espírito, só cresce quem sabe por que quer crescer, crescimento não é uma coisa simples. Crescimento é uma disputa, uma corrida na qual morre quem fica parado e quem corre é atropelado”.

A análise de Delfim foi compartilhada pelo diretor da Faculdade de Economia e Administração da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Antonio Corrêa, sobre considerar o Brasil um país de sucesso. “Poucos países conseguiram essa transformação brilhante, de sair de uma economia primária exportadora para uma economia industrial”, disse.

Já o pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV) do Rio de Janeiro, Fernando Augusto Veloso, lembrou como a temática da baixa produtividade do país foi camuflada por causa do chamado bônus demográfico, em que a população em idade para trabalhar estava crescendo acima do nível geral da população, permitindo incorporação de mão de obra que fez com que o padrão de vida das pessoas pudesse crescer acima do que a produtividade permitia. Rendas e salários, principalmente nos anos 2000, cresceram muito acima da produtividade. Do Observatório das Empresas Estatais da FGV de São Paulo, o diretor Márcio Holland de Brito exemplificou o problema da produtividade com o aumento do número de servidores públicos nos últimos anos, que não refletiu uma melhora dos serviços prestados. “É falta de controle e cobrança de uma administração eficiente”, completou.

Sobre a experiência do TCU, o coordenador do projeto de Eficiência e Produtividade Fernando Camargo reforçou a ideia de que o Brasil passa pela armadilha do baixo crescimento, da renda média. “O dinheiro acabou, estamos em uma crise fiscal e com uma dívida pública de 75% do PIB [Produto Interno Bruto]. O TCU pode ajudar como órgão de Estado e não de governo. Sem preocupações com agendas políticas”, afirmou. O secretário de Controle Externo do Desenvolvimento  Econômico do TCU, Fernando Antonio Magalhães, garantiu que a ideia da instituição é contribuir para uma agenda contínua de melhora no ambiente de negócios brasileiro. Durante o encontro, o ministro do TCU Vital do Rêgo Filho chamou o trabalho de uma jornada de desburocratização. 

O secretário de Controle Externo de Santa Catarina e coordenador da fiscalização das disfunções burocráticas que afetam a indústria do TCU, Waldemir Paschoiotto, apresentou um levantamento sobre produtividade e detalhou que 21% da riqueza do país sai da indústria, assim como 32% da arrecadação federal e quase 10 milhões de empregados. “TCU é mais conhecido pela auditoria, mas atuamos com mais que instrumentos de fiscalização, como pesquisas e diagnósticos”, garantiu.

Finalmente, o gerente de Departamento de Economia, Competitividade e Tecnologia da Fiesp, Renato Corona, falou da burocracia como grande gargalo para a produtividade da indústria brasileira. “Em um ranking de 43 países, o Brasil aparece como primeiro em burocracia tributária, o que implica em um custo maior, uma das economias que mais gastam com Justiça e desperdiçam com corrupção”, lamentou.

Foto: Helcio Nagamine, Mayara Baggio, Agência Indusnet Fiesp



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