MCTI investiu R$ 23 milhões na
rede composta por 17 laboratórios responsáveis pela estruturação do
sequenciamento genômico no Brasil; Organização em rede mobiliza cientistas e
fomenta capacidades nacionais para atender outras demandas de saúde pública
Imagem: FreePik
Em três anos de atuação na
pandemia de Covid-19, os 17 laboratórios associados da Rede Corona-ômica.BR,
uma sub rede da RedeVírus MCTI, contabilizam pelo menos 70 mil genomas
sequenciados no Brasil e depositados no GISAID, plataforma internacional aberta
que reúne dados globais. No total, estima-se que o Brasil tenha depositado
cerca de 200 mil genomas nessa plataforma. Além disso, a Rede permitiu a
consolidação de infraestrutura e capacidade técnica nas universidades
brasileiras para a vigilância genômica, o que pode ser utilizado para o
enfrentamento de outras doenças virais.
Neste momento, a Rede está mobilizada para conseguir amostras de um surto de
chikungunya que está acontecendo no Paraguai, onde mais de 8 mil casos foram
reportados na região central do país e na capital. “A ideia é sequenciar o
genoma do vírus para avaliar se o surto é devido a uma nova variante mais
agressiva”, explica o coordenador-geral de Ciências da Saúde, Biotecnológicas e
Agrárias (CGSB) do MCTI, Thiago Moraes. A CGSB exerce a secretaria-executiva da
RedeVírus MCTI.
O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação investiu R$ 23 milhões na Rede
Corona-ômica.BR MCTI. Responsável pela vigilância genômica, a ação foi
essencial para prever os rumos da pandemia, o aparecimento de variantes, o
escape vacinal ou novas ondas de infecção. “A Rede é importante porque fornece
informações valiosas sobre a disseminação da epidemia de Covid-19 e os fatores
associados à severidade da doença. Esses dados permitem uma análise detalhada
das variações genéticas presentes nos vírus circulantes no país, ajuda a
identificar as cepas mais prevalentes, os fatores que contribuem para sua
disseminação e para a severidade da doença ”, detalha Moraes sobre como os
dados auxiliam a guiar as decisões de saúde pública e o desenvolvimento de
estratégias eficazes para o enfrentamento da pandemia. “Hoje, o Brasil está
muito mais preparado para o enfrentamento de pandemias no campo da vigilância
genômica”, avalia Moraes.
A Rede oferece suporte também aos estudos de transcriptômica, um conjunto
completo de RNAs utilizado para acompanhar a evolução do vírus no Brasil. A
análise desses dados fornece informações sobre os mecanismos biológicos que
estão por trás da severidade da doença, o que pode ser útil para o
desenvolvimento de terapias mais eficazes.
Além disso, a Rede permitiu a consolidação de infraestrutura e capacidade
técnica nas universidades brasileiras para a vigilância genômica, o que pode
ser utilizado para o enfrentamento de outras doenças virais. “Acredito que este
seja o maior legado dessa Rede. Hoje, o Brasil está muito mais preparado para o
enfrentamento de pandemias no campo da vigilância genômica”, ressalta Moraes.
Segundo o coordenador da Corona-ômica e professor da Universidade Feevale,
Fernando Spilki, a constituição da Rede foi uma das principais capacidades que
a ciência brasileira construiu a partir do enfrentamento da pandemia. “A
constituição de uma rede como a Corona-ômica, que permite não só auxiliar as
autoridades sanitárias na vigilância genômica do SARS-CoV-2, mas de outros
vírus emergentes, está sendo uma experiência muito interessante de formação de
recursos humanos nessa área para o País, o que nos qualifica para o
enfrentamento de futuras epidemias”, avalia Spilki.
Segundo ele, atualmente, cerca de cem pesquisadores participam da Rede.
Além do GISAID, os genomas brasileiros são depositados em um servidor nacional
gerenciado pelo Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), unidade
de pesquisa vinculada ao MCTI, que, no princípio, também atuou no processamento
dos resultados para efeito comparativo das sequências. Entre os 17 laboratórios
associados estão unidades da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), vinculada ao
Ministério da Saúde, e de universidades, como Universidade de São Paulo (USP),
Universidade de Brasília (UnB) e Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ),
e Hospital Israelita Albert Einstein.
Além do sequenciamento – Responsável pelo primeiro sequenciamento genômico
no Brasil do SARS-CoV-2, a diretora do Instituto de Medicina Tropical da
Universidade de São Paulo (USP), Ester Sabino, relata como foi o início do
trabalho da Corona-ômica. “Logo no começo, o MCTI chamou vários laboratórios,
principalmente ligados às universidades, para que eles pudessem contribuir [no
combate] à pandemia. O meu foi um deles que se uniu a essa rede para que
pudesse aumentar a capacidade de sequenciamento no Brasil”, recorda Sabino.
Integrante da RedeVírus MCTI desde sua constituição, Sabino destaca que a Rede,
além de cumprir com o objetivo principal de realizar o sequenciamento, também
exerceu papel relevante ao tornar-se referência e, por isso, fomentar novas
subredes, atrair investimentos da iniciativa privada e promover intercâmbio de
grupos de pesquisa e treinar outros laboratórios pelo menos 20 estados. “A Rede
deu respostas locais e nacionais, treinou muita gente, estabeleceu novos
grupos, juntou os pesquisadores e trouxe a universidade para o contexto da
epidemia. Para responder à epidemia precisa ter muita gente treinada e capaz de
responder rapidamente. A gente não sabe onde o problema pode acontecer”, afirma
Sabino.
Segundo ela, a universidade tem muito a contribuir, pode rapidamente responder,
desenvolver novas tecnologias ou melhorar as existentes.
A cientista descreve que o trabalho da Rede envolve outras etapas muito
importantes no processo, como o isolamento e cultivo do vírus para ser
distribuído como controle positivo para os laboratórios que efetuaram as
confirmações de diagnóstico positivo para covid-19, mas também para outras
pesquisas que são necessárias para responder às demandas e para outras viroses.
“Quando surgiu a monkeypox [no ano passado], nós fomos o primeiro grupo a
sequenciar, isolar o vírus e distribuir para que as pessoas pudessem ter
controles positivos. Não é só sequenciar. É muito importante que faça todas as
etapas”, explica Sabino. “Em menos de uma semana o vírus já estava na mão de
muita gente, isolado e próprio para uso que era o que faltava para o
diagnóstico, os controles positivos”, complementa.
A pesquisadora indica que a organização e mobilização dos pesquisadores em
torno da Rede Corona-ômica, e com aporte contínuo de recursos, serão
fundamentais para sequenciar outros vírus de interesse para a saúde pública no
Brasil. “Precisamos fazer um esforço para aumentar o número de sequências de
doenças como dengue, chikungunya, mesmo influenza, que temos poucas sequências
brasileiras”, descreve Sabino. “A gente vai passar para um novo patamar de
capacidade de sequenciamento de agentes infecciosos, vírus e bactérias. Há
várias que precisam ser sequenciadas, como a tuberculose, para entendermos melhor
como esses agentes estão se espalhando no País”, conclui.
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