Já foram identificados até o
momento cerca de cinquenta tipos de sequelas em pacientes que tiveram a doença
Profissionais de saúde e
gestores públicos apontaram a necessidade de mudanças no sistema de saúde para
que o País possa atender aos pacientes de Covid-19 que tiveram sequelas. Em
audiência pública das comissões de Seguridade Social e Família; e dos Direitos
da Pessoa Idosa da Câmara nesta segunda-feira (19), eles afirmaram que as
consequências do novo coronavírus para a população ainda não são totalmente
conhecidas, mas que, seguramente, o tratamento vai além da alta hospitalar.
Cleia Viana/Câmara dos
Deputados
Autora do requerimento que
sugeriu o debate, a deputada Flávia Morais (PDT-GO)
salientou que as providências para o atendimento dos pacientes com algum
problema decorrente da infecção pelo coronavírus têm de receber mais atenção.
“Muitas vezes a atenção hoje,
de forma importante, decorre do tratamento de urgência, da necessidade da
vacina, mas nós temos aí uma grande parte dos pacientes que saem da Covid com
sequelas, que precisam de acompanhamento e que, infelizmente, estão sem nenhuma
assistência, nenhum acompanhamento”, disse.
Tipos de sequelas
A professora de medicina da Universidade de Brasília (UnB) Juliana Lapa
ressaltou que mais de 50 tipos de sequelas já foram identificados, do Acidente
Vascular Cerebral (AVC) à disfunção renal, além de fadiga, insuficiência
respiratória, ansiedade e depressão.
Segundo ela, sequelas são
sintomas que perduram por mais de 12 semanas depois da manifestação da doença.
Algumas pesquisas sobre a Covid-19 mostram que esses sintomas ultrapassaram
seis meses. Juliana Lapa recomenda políticas públicas específicas e a formação
de equipes multidisciplinares para o atendimento pós-hospitalar.
Geriatra do Hospital Sírio
Libanês, Samara Morais chamou atenção para as consequências do isolamento
social e da hospitalização, que podem provocar perdas cognitivas e funcionais
nos pacientes mais velhos.
“O idoso sai da internação
diferente do que ele internou e pode ser que essas sequelas sejam definitivas.
Há alterações osteomusculares, de paladar, que impactam na nutrição e que
diretamente impactam nesse cenário também e isso envolve uma mudança em toda a
logística familiar; o idoso precisa de um suporte social maior”, observou.
Reabilitação
O representante do Ministério da Saúde, Angelo Gonçalves, informou que o
governo federal está trabalhando em um projeto de reabilitação e de capacitação
de profissionais, tendo como base a ampliação da rede de Centros Especializados
em Reabilitação (CERs).
Cleia Viana/Câmara dos
Deputados
Já o secretário-executivo do
Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde (Conass), Jurandi Frutuoso,
lembrou que a crise sanitária desorganizou os setores de saúde e que mudanças
são necessárias para enfrentar o desafio pós-Covid.
“Como fazer essa restruturação
no sistema de saúde do ponto de vista da estrutura, do financiamento, da
capacitação e da contratação de RH [recursos humanos] para dar conta de toda
essa demanda?”, questionou Jurandi.
Saúde básica
Para a professora Carla Marques, da área de Saúde Coletiva da Universidade de
Brasília, o sistema básico de saúde tem de ser fortalecido para identificar
quantos são os pacientes com sequelas e que tratamentos são necessários. Para
ela, é a atenção primária que vai mapear quem são esses usuários que têm
necessidade de um acompanhamento secundário.
"A gente sabe da
dificuldade dessa rede secundária ser estabelecida, ser organizada, mas a gente
precisa que esse movimento aconteça, pois pode contar aí com um grande número
depois de afastamentos de trabalho, e esses afastamentos vão pesar depois na
questão do emprego, do desenvolvimento social e econômico do país”, comentou.
As pesquisas revelam que 53%
dos pacientes que tiveram formas leves da Covid-19 têm chance de desenvolver
sequelas. Entre os que tiveram as formas mais agudas da doença, a probabilidade
sobe para 80%.
Reportagem – Cláudio Ferreira
Edição – Roberto Seabra
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