Sem estrutura para produzir
(sintetizar o IFA), Furp só poderá encapsular fosfoetanolamina
Encontro em Américo
Brasiliense discutiu produção do composto para testes.
Segundo pesquisador, 4
empresas privadas teriam capacidade de sintetizar o " insumo farmacêutico
ativo - IFA".
Pesquisadores, representantes
da Fundação para o Remédio Popular (Furp) e médicos do Instituto do Câncer do
Estado de São Paulo (Icesp) se reuniram nesta segunda-feira (21), em Américo
Brasiliense (SP), para discutir a produção das cápsulas de fosfoetanolamina
sintética para os testes clínicos anunciados pelo Governo do Estado.
Na visita, foi constatado que
a Furp não teria a possibilidade de sintetizar o "ativo
farmacêutico", apenas de encapsular o composto já sintetizado, e que isso
seria possível apenas por meio de empresas privadas. Agora, o grupo pretende
levar o caso ao governador Geraldo Alckmin para verificar a possibilidade de
contratação de um local capacitado. No Estado de São Paulo existem empresas
privadas, autorizadas pela ANVISA capazes de produzir o IFA (Blanver,
Cristália, Globe e o INP). No Rio de Janeiro e Goias, também, tem uma empresas
de síntese química que poderiam se habilitar. Ainda não há prazo para o início
da produção.
Marcos Vinícius de Almeida, um
dos pesquisadores presentes no encontro, explicou que, exceto por vacinas, não
há uma empresa pública que faça o sal (IFA) utilizado nos remédios e que essa
mesma dificuldade foi encontrada no LAFERGS Rio Grande do Sul, o primeiro
estado a propor a realização dos testes.
Por conta disso, ele começou a
visitar laboratórios particulares e encontrou quatro empresas com capacidade de
produção. "Houve um desencontro de informações entre o político e o
técnico", avaliou.
Para Gilberto Chierice,
coordenador dos estudos com o composto, há um despreparo no setor. "As
empresas não fazem (o ativo farmacêutico) medicamentos", comentou.
A Secretaria de Estado da
Saúde informou que está em contato com outros laboratórios para verificar a
possibilidade de sintetizarem e fornecerem o sal (IFA) usado na produção da
substância.
A produção das cápsulas é
necessária para a realização dos testes clínicos e também para suprir a demanda
da Universidade de São Paulo (USP). Em novembro, o Tribunal de Justiça de São
Paulo (TJ-SP) suspendeu o fornecimento do composto, mas juízes de outros
estados e esferas têm entendimentos diferentes e continuam autorizando a
produção e a entrega para alguns pacientes. Nesses casos, a instituição de
ensino segue a determinação e envia a substância pelo correio.
Decepção
Furp em Américo Brasiliense não poderia sintetizar
as cápsulas no momento (Foto: Ely Venâncio/EPTV)
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Para familiares de pessoas com
câncer que aguardavam o resultado da reunião na entrada do prédio, a informação
de que a Furp não tem capacidade de produzir o composto foi recebida com
tristeza.
"Gostaria que fosse feito
aqui rapidamente e entregue para todos que têm liminares", disse Agnaldo
de Carvalho Oliveira, que entrou na Justiça para conseguir o composto para o
pai, que tem câncer no pulmão.
"Gostaria que fosse
produzido aqui", reforçou Dorival Luiz Guadagnini, que viajou de
Cosmópolis a Américo para representar a mulher, com câncer no intestino,
estampando na jaqueta a frase "Quem tem câncer tem pressa".
Em junho do ano passado, a USP
interrompeu a distribuição e os pacientes começaram a recorrer da decisão na
Justiça.
A fosfoetanolamina sintética
começou a ser estudada no Instituto de Química da USP pelo pesquisador Gilberto
Chierice, hoje aposentado, e as cápsulas foram entregues de graça a pacientes
com câncer por mais de 20 anos.
Em outubro deste ano, a briga
foi parar no Supremo Tribunal Federal (STF) e a distribuição voltou a ser
autorizada, mas, no dia 11 de novembro, o Órgão Especial do Tribunal de Justiça
de São Paulo determinou a suspensão do fornecimento.
A decisão, por maioria de
votos, foi tomada após recurso interposto pelo Estado de São Paulo, que
argumentou que a substância tem efeitos desconhecidos nos seres humanos, não é
considerada um medicamento, não possui o registro necessário perante a Anvisa e
que sua distribuição poderia acarretar graves consequências para os pacientes.
Diante do impasse na Justiça e
da repercussão do caso, a substância começou a ser discutida na Câmara e no
Senado e o Ministério da Saúde, o governo do Rio Grande do Sul e o governo de
São Paulo informam que vão realizar os testes para a conclusão da pesquisa e o
registro junto à agência de vigilância.
De acordo com o Ministério, a
expectativa é de que em março de 2016 seja possível liberar o composto para uso
compassivo e, segundo o governo paulista, os primeiros resultados dos testes no
estado devem ser divulgados em seis meses.
Manifestantes fizeram ato em
frente à USP São Carlos a favor da
fosfoetanolamina (Foto: Carol Malandrino/G1)
Com informações do Do G1 São
Carlos e Araraquara
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