Uma base de dados
bibliográficos que reunisse a ciência da saúde produzida na América Latina e
Caribe — e que, até então, tinha pouca visibilidade nos índices de comunicação
científica internacionais. Foi com este propósito que nasceu, em 1967, a Biblioteca
Regional de Medicina (Bireme), como um centro especializado da Organização
Pan-Americana da Saúde (Opas) / Organização Mundial da Saúde (OMS) com sede em
São Paulo. Cinquenta anos depois, o nome Bireme é reconhecido como um
bem-sucedido esforço em democratizar o acesso à informação científica e técnica
em saúde. Hoje, a antiga biblioteca regional chama-se Centro Latino-Americano e
do Caribe de Informação em Ciências da Saúde, e é referência no trabalho em
rede que tem ajudado a consolidar grandes avanços nas ciências da saúde.
(Confira o hotsite que comemora os 50 anos da Bireme)
Um dos principais frutos desta
trajetória é a LILACS (Literatura Latino-americana
e do Caribe em Ciências da Saúde), o mais importante e abrangente índice da
literatura científica e técnica da América Latina e Caribe. Até o fechamento
desta matéria, a base contabilizava mais de 750 mil registros, entre artigos
científicos, teses, áudios, vídeos, livros, resumos de pesquisa, trabalhos
apresentados em congressos, projetos etc. Destes, mais de 350 mil estão em
acesso aberto. Ou seja, disponíveis na íntegra, para qualquer internauta que
queira consultar seu conteúdo.
“Até a década de 1960, a
ciência da saúde feita na América Latina e no Caribe tinha pouca visibilidade
nas bases de dados bibliográficos. O acesso à produção científica ficava
concentrado em sistemas como o Medline, da Biblioteca Nacional de Medicina do
Estados Unidos, corroborando a hegemonia do pensamento produzido neste país e
na Europa”, explica a bibliotecária Luciana Danielli, coordenadora das
Bibliotecas Virtuais em Saúde (BVSs) da Fiocruz, um dos projetos feitos em
parceria com a Bireme. “Com o surgimento da então chamada Biblioteca Regional
de Medicina, foi possível instaurar um novo olhar sobre a forma de agrupar e de
tornar disponível o enorme conhecimento científico que vinha sendo produzido na
América Latina e no Caribe. Seu impacto foi enorme, porque não apenas ajudou a
divulgar essa produção científica, como também estimulou o trabalho em rede,
colaborativo, que é tão caro à evolução da ciência nessa região”, completa.
Cooperação
Com o passar dos anos, a
missão de ampliar as fontes de informação nesta região expandiu-se para a
formulação de projetos de cooperação técnica, que têm contribuído decisivamente
para o desenvolvimento de políticas, programas, padrões, metodologias,
tecnologias, projetos, produtos, serviços, eventos e atividades de informação científica
e técnica em saúde, em cooperação com instituições nacionais, regionais e
internacionais,— tudo em consonância com a estratégia da Organização
Pan-Americana da Saúde (OPAS) / Organização Mundial da Saúde (OMS) para atender
às prioridades dos países da região. Atualmente, a Bireme atua em cooperação
com 37 países e 2 mil instituições, dentro e fora da América Latina e do
Caribe.
“A criação da Bireme
sofisticou as bases de dados sobre os temas da ciência e da saúde, criando um
espaço de convergência do conhecimento que é precioso para o trabalho de
profissionais da saúde e cientistas, para as grandes descobertas científicas e
para o combate às epidemias e doenças características de nosso continente,
entre inúmeras outras coisas. Além disso, sua existência fomentou parcerias,
cooperações e trabalhos em rede que tiveram grande impacto para a melhoria das
condições de vida e da saúde das populações”, destaca Fátima Martins,
coordenadora da Rede de Bibliotecas Físicas da Fiocruz.
O desenvolvimento tecnológico
e a popularização da Internet também foram marcantes na trajetória da Bireme.
Entre os anos 80 e 90, o centro promoveu o uso de computadores em bibliotecas,
tanto para a produção descentralizada da base LILACS quanto para a pesquisa
bibliográfica em CD-ROM, que passou posteriormente a operar através da
Internet. É desta época também a criação do vocabulário Descritores em Ciências
da Saúde (DeCS), que contém a tradução do Medical Subject Headings (MeSH) ao
português e espanhol. Foi também a Bireme, com o apoio da Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que criou o SciELO – Scientific
Electronic Library Online, um modelo pioneiro de publicação em acesso aberto de
periódicos científicos na Internet.
Hoje, os desafios do Centro
estão concentrados, sobretudo, em ampliar a capacidade de atuação, dentro e
fora da América Latina e do Caribe e em fortalecer a cooperação técnica nos
países prioritários para a Opas/OMS e as alianças com outras instituições, como
define o diretor, Diego González. “Queremos aperfeiçoar os processos de decisão
nos sistemas de saúde, utilizando evidências de pesquisa científica para
responder às demandas dos gestores e profissionais dos serviços de saúde. Outro
objetivo é fortalecer a capacidade da Bireme e da Rede da Biblioteca Virtual em
Saúde (BVS) em processos e tecnologias de aprendizagem em rede, bem como
ampliar a participação em ações de capacitação presenciais e a distância.
Desenvolver e fortalecer continuamente o capital humano, intelectual e social é
uma meta que não sai de nosso foco”. A Bireme também pretende continuar
ampliando as redes de produtos, serviços e eventos em informação científica, e
fortalecer seus canais de comunicação institucional.
Fonte: Portal Fiocruz
0 comentários:
Postar um comentário