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quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Zika reduz número de bebês no país

IBGE mostra queda de 5% na natalidade brasileira em 2016, auge da epidemia

Logo se descobriu que grávidas infectadas pelo vírus corriam o risco de gerar bebês com microcefalia, má-formação que faz a criança nascer com crânio e cérebro menores do que o normal. O aumento expressivo no número desses casos começou a ser notado em outubro de 2015, e mais tarde foi comprovada a relação com a doença. Apenas em maio deste ano, o Ministério da Saúde declarou o fim da emergência nacional em saúde pública.

Segundo a pesquisa Estatísticas do Registro Civil 2016, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No ano passado, o número de nascimentos ocorridos e registrados no país teve um forte recuo, o primeiro desde 2010 - ano escolhido para ser o ponto de partida da série histórica da pesquisa. E a principal hipótese é a de que o grande número de casos de microcefalia gerado pela grande circulação do vírus da zika no país tenha feito uma parcela expressiva das mulheres adiarem a gravidez.

De acordo com o levantamento do IBGE, 2016 totalizou 2.793.935 nascimentos, uma queda de 5,1% em relação ao ano anterior.

MUDANÇA NO PERFIL DEMOGRÁFICO ERA ESPERADA

Gerente do Registro Civil do IBGE, Klívia Brayner de Oliveira conta que a "virada" no número de nascimentos no Brasil já era esperada diante das mudanças no perfil demográfico brasileiro indicadas pelo último censo geral realizado pelo instituto, em 2010, como o envelhecimento da população e a queda na taxa de fecundidade das brasileiras, mas o tamanho do recuo surpreendeu.

- As taxas de natalidade e fecundidade de fato vêm caindo no Brasil, com as mulheres adiando os planos de maternidade e tendo menos filhos, mas o tamanho deste recuo no ano passado chama a atenção - diz a especialista. Além de um sinal da mudança no perfil demográfico do Brasil, que o Censo de 2010 já indicava, há a possibilidade de esta queda muito acima do esperado ter sido provocada por uma questão epidemiológica. Em 2015 e 2016, vivemos o problema da epidemia de zika, e as mulheres brasileiras ficaram com muito medo da microcefalia, o que pode ter feito algumas delas abandonarem seus planos de engravidar naquele ano dos bebês que nasceriam em 2016. A pesquisa não é desenhada para identificar estes fatores, mas existe essa possibilidade.

PE TEVE MAIOR QUEDA NOS NASCIMENTOS

Um indício disso, cita Klívia, é o caso de Pernambuco. Um dos estados mais atingidos pela zika e o consequente surto de microcefalia nos bebês de mães infectadas pelo vírus durante a gravidez, o estado registrou o maior recuo no número de nascimentos no ano passado: uma diminuição de 10%.

Além dos dados sobre nascimentos, a pesquisa do IBGE também mostra um aumento no número de mortes no Brasil no ano passado. De acordo com o levantamento, foram registrados 1.270.898 óbitos em 2016, alta de 3,5% frente a 2015, e um aumento de 24,7% com relação a 2006. Segundo Klívia, os resultados também refletem as mudanças no perfil demográfico do país, bem como as melhorias no cenário socioeconômico brasileiro nas últimas décadas.

Enquanto em 1976 a fatia da população que mais morria era dos menores de 5 anos, com 34,7% do total, hoje a mortalidade infantil responde por apenas 2,9% das mortes no país. Já a participação dos maiores de 65 anos mais que dobrou no mesmo período, saindo de 29,1% em 1976 para 58,5% no ano passado.

- Esta alta nos óbitos já reflete o envelhecimento de nossa população, com mais pessoas chegando a idades mais avançadas e, assim, estando mais sujeita a mortes - pontua Klívia.
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Taxas de natalidade e fecundidade vêm caindo no Brasil, mas queda brusca no ano passado levou à associação com a doença

Com informações da reportagem de O Globo, sociedades, Ana Paula Blower, Cesar Bajma, Clarissa Pains e Sérgio Matsuura - sociedade@oglobo.com.br



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