IBGE mostra queda de 5% na
natalidade brasileira em 2016, auge da epidemia
Logo se descobriu que grávidas
infectadas pelo vírus corriam o risco de gerar bebês com microcefalia,
má-formação que faz a criança nascer com crânio e cérebro menores do que o
normal. O aumento expressivo no número desses casos começou a ser notado em outubro
de 2015, e mais tarde foi comprovada a relação com a doença. Apenas em maio
deste ano, o Ministério da Saúde declarou o fim da emergência
nacional em saúde pública.
Segundo a pesquisa
Estatísticas do Registro Civil 2016, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE). No ano passado, o número de nascimentos
ocorridos e registrados no país teve um forte recuo, o primeiro desde 2010 -
ano escolhido para ser o ponto de partida da série histórica da pesquisa. E a
principal hipótese é a de que o grande número de casos
de microcefalia gerado pela grande circulação do vírus
da zika no país tenha feito uma parcela expressiva das mulheres
adiarem a gravidez.
De acordo com o levantamento
do IBGE, 2016 totalizou 2.793.935 nascimentos, uma queda de 5,1% em relação ao
ano anterior.
MUDANÇA NO PERFIL DEMOGRÁFICO
ERA ESPERADA
Gerente do Registro Civil do
IBGE, Klívia Brayner de Oliveira conta que a "virada" no número de
nascimentos no Brasil já era esperada diante das mudanças no perfil demográfico
brasileiro indicadas pelo último censo geral realizado pelo instituto, em 2010,
como o envelhecimento da população e a queda na taxa de fecundidade das
brasileiras, mas o tamanho do recuo surpreendeu.
- As taxas de natalidade e
fecundidade de fato vêm caindo no Brasil, com as mulheres adiando os planos de
maternidade e tendo menos filhos, mas o tamanho deste recuo no ano passado
chama a atenção - diz a especialista. Além de um sinal da mudança no perfil
demográfico do Brasil, que o Censo de 2010 já indicava, há a possibilidade de
esta queda muito acima do esperado ter sido provocada por uma questão
epidemiológica. Em 2015 e 2016, vivemos o problema da epidemia de zika, e
as mulheres brasileiras ficaram com muito medo da microcefalia, o que pode
ter feito algumas delas abandonarem seus planos de engravidar naquele ano dos
bebês que nasceriam em 2016. A pesquisa não é desenhada para identificar estes
fatores, mas existe essa possibilidade.
PE TEVE MAIOR QUEDA NOS
NASCIMENTOS
Um indício disso, cita Klívia,
é o caso de Pernambuco. Um dos estados mais atingidos pela zika e o
consequente surto de microcefalia nos bebês de mães infectadas pelo
vírus durante a gravidez, o estado registrou o maior recuo no número de
nascimentos no ano passado: uma diminuição de 10%.
Além dos dados sobre
nascimentos, a pesquisa do IBGE também mostra um aumento no número de mortes no
Brasil no ano passado. De acordo com o levantamento, foram registrados
1.270.898 óbitos em 2016, alta de 3,5% frente a 2015, e um aumento de 24,7% com
relação a 2006. Segundo Klívia, os resultados também refletem as mudanças no
perfil demográfico do país, bem como as melhorias no cenário socioeconômico
brasileiro nas últimas décadas.
Enquanto em 1976 a fatia da
população que mais morria era dos menores de 5 anos, com 34,7% do total, hoje a
mortalidade infantil responde por apenas 2,9% das mortes no país. Já a
participação dos maiores de 65 anos mais que dobrou no mesmo período, saindo de
29,1% em 1976 para 58,5% no ano passado.
- Esta alta nos óbitos já
reflete o envelhecimento de nossa população, com mais pessoas chegando a idades
mais avançadas e, assim, estando mais sujeita a mortes - pontua Klívia.
-
Taxas de natalidade e
fecundidade vêm caindo no Brasil, mas queda brusca no ano passado levou à
associação com a doença
Com informações da reportagem
de O Globo, sociedades, Ana Paula Blower, Cesar Bajma, Clarissa Pains e Sérgio
Matsuura - sociedade@oglobo.com.br


0 comentários:
Postar um comentário