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quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Ex-governador de Alagoas era 'Bobão' na planilha da Odebrecht, diz Polícia Federal, Marco Fireman - SCTIE do MS era o Secretário de Infraestrutura do Estado

PF aponta prejuízo de R$ 70 milhões com pagamento de propina e superfaturamento em obras do Canal do Sertão. Houve buscas em Maceió, Salvador (BA), Limeira (SP) e Brasília.

Ex-governador de Alagoas Teotônio Vilela Filho é alvo de operação da PF

A Polícia Federal informou que o ex-governador de Alagoas Teotônio Vilela Filho (PSDB) aparece na lista de propinas da Odebrecht sob o apelido de 'Bobão'. Ele foi alvo da Operação Caribdis, deflagrada nesta quinta-feira (30) em Maceió, Salvador (BA), Limeira (SP) e Brasília para investigar fraudes em obras do Canal do Sertão.
A ação é desdobramento da Operação Lava Jato.

Além do ex-governador, também foram alvos Marco Antônio Fireman, atual Secretário da SCTIE/MS, que à época era secretário de Infraestrutura do Estado; e pessoas ligadas às empreiteiras Odebrecht e OAS.

"Na 23° fase da Operação Lava Jato, foi apreendida uma planilha e lá constavam alguns apelidos. Aqui para Alagoas eram Bobão, Faisão e Fantasma. Esses três apelidos somam a importância de R$ 2.814.000. Na oitiva dos delatores da Odebrecht eles falaram que esses valores foram pagos à cúpula passada do governo de Alagoas", disse o delegado Antônio José Lima de Carvalho, da PF.

Segundo a PF, Fantasma é o ex-secretário Marcos Antônio Fireman, que atualmente é secretário de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, e Faisão é Fernando Nunes, ex-secretário executivo da Infraestrutura do estado.

A assessoria de Teotônio Vilela informou que o ex-governador vai se pronunciar sobre o assunto por meio de nota. A reportagem do G1 não conseguiu contato com as defesas de Fireman e nem de Nunes.

O Ministério da Saúde informou que a PF realizou buscas no gabinete do secretário Marco Fireman, mas que os policiais não levaram nenhum documento. Disse ainda que ele está à disposição da PF para prestar todos os esclarecimentos.

Os mandados foram expedidos pela 2ª Vara Federal de Alagoas. No estado, houve buscas na casa do ex-governador, em Maceió, no bairro da Ponta Verde, e de Fireman, no condomínio Laguna, em Marechal Deodoro. Foram apreendidos computadores e celulares.

Segundo o delegado Antônio Carvalho, Teo Vilela recebeu três parcelas de propina. A primeira de R$ 1 milhão, a segunda de R$ 906 mil e a terceira de R$ 150 mil.

Ainda de acordo com as investigações, o Tribunal de Contas da União (TCU) a obra do Canal do Sertão foi estimada inicialmente em R$ 700 milhões. Mas o pagamento de propinas e superfaturamento levou a um prejuízo de R$ 70 milhões aos cofres públicos.

“Os colaboradores da Odebrecht estiveram em Maceió em 2009, e em 2014 eles retornaram, dessa vez para discutir valores de propina. Isso aconteceu no Hotel Radisson. E segundo relatores, em um determinado momento da conversa, Teotônio foi chamado pelo então assessor Beto Jucá a se retirar da sala. E quando ele se retirou, houve o pedido de vantagem indevida. Isso aconteceu por duas vezes. Na primeira não se chegou ao valor do pagamento. Mas na segunda reunião ficou acertado o valor de 2% em cima das medições”, disse o delegado da PF.

A PF informou ainda que pediu a prisão preventiva dos investigados, mas o pedido foi negado pela Justiça.

“Solicitamos ao juiz federal mandados de prisões preventivas e também de busca e apreensão. Mas a autoridade judiciária entendeu que não era caso de prisão e concedeu a expedição dos mandados de busca e apreensão. Estamos investigando o conteúdo de smartphones apreendidos, assim como conversas no WhatsApp”, disse o delegado Antônio Carvalho.

De acordo com o delegado Carvalho, a explicação dos delatores para o pagamento da propina é que o dinheiro seria usado para saldar dívidas de campanha e custear campanhas em 2014.

“Os pagamentos ocorreram no ano de 2014. E as pessoas investigadas não participaram de eleições naquele ano. Ouvindo os colaboradores da Odebrecht, principalmente o senhor Wilbert Silva, ele me falou o seguinte ‘Se o nome da pessoa está ali na minha planilha, não é doação eleitoral. É propina. Eu não trabalho com dinheiro lícito. Só trabalho com dinheiro ilícito.

Não trabalho na tesouraria. Eu trabalhava no setor de operações estruturadas da Odebrecht’”, revelou o delegado.

As informações sobre a operação foram passadas durante uma entrevista coletiva à impressa dada pelos delegados da PF Antônio Carvalho e Daniel Silvestre, pelo superintendente da PF em Alagoas Bernardo Torres e pela procuradora da república no Estado, Renata Baptista.

Coletiva na PF em Alagoas sobre operação que investiga fraudes nas obras do Canal do Sertão (Foto: Suely Melo/G1)

Canal do Sertão

O Canal do Sertão é uma obra hídrica para minimizar os efeitos da seca e promover o desenvolvimento socioeconômico das regiões do semiárido. A obra está inserida no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal
O Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou a PF a utilizar provas decorrentes de colaborações premiadas de pessoas ligadas à Construtora Norberto Odebrecht. Também foi somado ao inquérito relatórios do Tribunal de Contas da União constatando sobre preço em contrato firmado entre o governo de Alagoas e a Odebrecht no montante de R$ 33.931.699,46.

A PF apurou durante a investigação que também houve acordo para a divisão dos lotes da obra com a Construtora OAS.
Todo o material recolhido será encaminhado para análise da Superintendência da PF em Alagoas. A soma das penas máximas atribuídas aos delitos investigados pode chegar a 46 anos de prisão.




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