PF
aponta prejuízo de R$ 70 milhões com pagamento de propina e superfaturamento em
obras do Canal do Sertão. Houve buscas em Maceió, Salvador (BA), Limeira (SP) e
Brasília.
Ex-governador
de Alagoas Teotônio Vilela Filho é alvo de operação da PF
A
Polícia Federal informou que o ex-governador de Alagoas Teotônio Vilela Filho
(PSDB) aparece na lista de propinas da Odebrecht sob o apelido de 'Bobão'. Ele
foi alvo da Operação Caribdis, deflagrada nesta quinta-feira (30) em
Maceió, Salvador (BA), Limeira (SP) e Brasília para investigar fraudes em
obras do Canal do Sertão.
A
ação é desdobramento da Operação Lava Jato.
Além
do ex-governador, também foram alvos Marco Antônio Fireman, atual Secretário da
SCTIE/MS, que à época era secretário de Infraestrutura do Estado; e pessoas
ligadas às empreiteiras Odebrecht e OAS.
"Na
23° fase da Operação Lava Jato, foi apreendida uma planilha e lá constavam
alguns apelidos. Aqui para Alagoas eram Bobão, Faisão e Fantasma. Esses três
apelidos somam a importância de R$ 2.814.000. Na oitiva dos delatores da
Odebrecht eles falaram que esses valores foram pagos à cúpula passada do
governo de Alagoas", disse o delegado Antônio José Lima de Carvalho, da
PF.
Segundo
a PF, Fantasma é o ex-secretário Marcos Antônio Fireman, que atualmente é
secretário de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, e Faisão é Fernando
Nunes, ex-secretário executivo da Infraestrutura do estado.
A
assessoria de Teotônio Vilela informou que o ex-governador vai se pronunciar
sobre o assunto por meio de nota. A reportagem do G1 não conseguiu
contato com as defesas de Fireman e nem de Nunes.
O
Ministério da Saúde informou que a PF realizou buscas no gabinete do secretário
Marco Fireman, mas que os policiais não levaram nenhum documento. Disse ainda
que ele está à disposição da PF para prestar todos os esclarecimentos.
Os
mandados foram expedidos pela 2ª Vara Federal de Alagoas. No estado, houve
buscas na casa do ex-governador, em Maceió, no bairro da Ponta Verde, e de
Fireman, no condomínio Laguna, em Marechal Deodoro. Foram apreendidos
computadores e celulares.
Segundo
o delegado Antônio Carvalho, Teo Vilela recebeu três parcelas de propina. A
primeira de R$ 1 milhão, a segunda de R$ 906 mil e a terceira de R$ 150 mil.
Ainda
de acordo com as investigações, o Tribunal de Contas da União (TCU) a obra do
Canal do Sertão foi estimada inicialmente em R$ 700 milhões. Mas o pagamento de
propinas e superfaturamento levou a um prejuízo de R$ 70 milhões aos cofres
públicos.
“Os
colaboradores da Odebrecht estiveram em Maceió em 2009, e em 2014 eles
retornaram, dessa vez para discutir valores de propina. Isso aconteceu no Hotel
Radisson. E segundo relatores, em um determinado momento da conversa, Teotônio
foi chamado pelo então assessor Beto Jucá a se retirar da sala. E quando ele se
retirou, houve o pedido de vantagem indevida. Isso aconteceu por duas vezes. Na
primeira não se chegou ao valor do pagamento. Mas na segunda reunião ficou
acertado o valor de 2% em cima das medições”, disse o delegado da PF.
A PF
informou ainda que pediu a prisão preventiva dos investigados, mas o pedido foi
negado pela Justiça.
“Solicitamos ao juiz federal
mandados de prisões preventivas e também de busca e apreensão. Mas a autoridade
judiciária entendeu que não era caso de prisão e concedeu a expedição dos
mandados de busca e apreensão. Estamos investigando o conteúdo de smartphones
apreendidos, assim como conversas no WhatsApp”, disse o delegado Antônio
Carvalho.
De
acordo com o delegado Carvalho, a explicação dos delatores para o pagamento da
propina é que o dinheiro seria usado para saldar dívidas de campanha e custear
campanhas em 2014.
“Os
pagamentos ocorreram no ano de 2014. E as pessoas investigadas não participaram
de eleições naquele ano. Ouvindo os colaboradores da Odebrecht, principalmente
o senhor Wilbert Silva, ele me falou o seguinte ‘Se o nome da pessoa está ali
na minha planilha, não é doação eleitoral. É propina. Eu não trabalho com
dinheiro lícito. Só trabalho com dinheiro ilícito.
Não
trabalho na tesouraria. Eu trabalhava no setor de operações estruturadas da
Odebrecht’”, revelou o delegado.
As
informações sobre a operação foram passadas durante uma entrevista coletiva à
impressa dada pelos delegados da PF Antônio Carvalho e Daniel Silvestre, pelo
superintendente da PF em Alagoas Bernardo Torres e pela procuradora da
república no Estado, Renata Baptista.
Coletiva
na PF em Alagoas sobre operação que investiga fraudes nas obras do Canal do
Sertão (Foto: Suely Melo/G1)
Canal
do Sertão
O
Canal do Sertão é uma obra hídrica para minimizar os efeitos da seca e promover
o desenvolvimento socioeconômico das regiões do semiárido. A obra está inserida
no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal
O
Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou a PF a utilizar provas decorrentes de
colaborações premiadas de pessoas ligadas à Construtora Norberto Odebrecht.
Também foi somado ao inquérito relatórios do Tribunal de Contas da União
constatando sobre preço em contrato firmado entre o governo de Alagoas e a
Odebrecht no montante de R$ 33.931.699,46.
A PF
apurou durante a investigação que também houve acordo para a divisão dos lotes
da obra com a Construtora OAS.
Todo
o material recolhido será encaminhado para análise da Superintendência da PF em
Alagoas. A soma das penas máximas atribuídas aos delitos investigados pode
chegar a 46 anos de prisão.
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