Exigências do novo Sistema
Nacional de Controle de Medicamentos (SNCM) criam novas oportunidades e
incrementam o setor logístico. No entanto, a necessidade de investimentos em
tecnologia e automação coloca operadoras de carga em uma corrida contra o
tempo, para adaptarem-se às condições da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa).
Da indústria ao consumidor,
passando pelos distribuidores e operadores de logística, o SNCM deve estar
implantado até o final de 2016. Contudo, ainda em outubro deste ano a
expectativa é de que o projeto-piloto já deva estar pronto.
Com o SNCM, um conjunto de
procedimentos para o rastreamento de medicamentos será obrigatório. Isso por
meio de informações previamente registradas no sistema, que deve conter
identificação exclusiva do produto, prestadores de serviço e usuários. Além
disso, em cada etapa de produção, importação, distribuição, transporte,
armazenagem, dispensação e outros movimentos previstos deve haver um registro,
para que o sistema trace a rota e o histórico do medicamento.
A principal mudança para as
empresas de logística será o controle unitário do remédio. Antes, a checagem
era realizada por lote. Agora, cada unidade de medicamento deverá possuir um
código bidimensional Datamatrix, que terá de conter o número de série, o
registro, o lote e a data de validade. Ou seja, mesmo que a caixinha do insumo
seja separada de seu lote, ainda será possível identificar para onde ela foi
enviada.
O objetivo da lei é reduzir a
quantidade de medicamentos falsificados, adulterados, desperdiçados por manuseio
incorreto ou roubados. Remédio é um dos produtos mais visados por quadrilhas,
segundo a Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística
(NTC&Logística). “Com o controle tecnológico e eletrônico, não haverá a
possibilidade do paciente receber o remédio incorreto, além de reduzir a
possibilidade de contrabando”, afirma o professor titular da Escola Politécnica
da Universidade de São Paulo (USP), Eduardo Mario Dias.
Ganho de produtividade
Segundo a Anvisa, no período
de 2000 a 2006, cerca de 800 mil pessoas no mundo morreram por conta de
falsificação, contrabando e roubos. No Brasil, o contrabando chega a
representar uma perda de R$ 8 bilhões por ano e cerca de 20% dos medicamentos
em circulação são falsos. A média mundial é 10%, de acordo com dados do Fórum
Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade (FNCP) e da Organização Mundial da
Saúde (OMS).
Para o especialista, mesmo que
a implantação seja realizada por etapas, as empresas envolvidas devem estar
reparadas para o projeto piloto. “Apenas desta forma conseguiremos checar as
relações de toda a cadeia da indústria farmacêutica para ver se vai dar certo e
qual o impacto em cada companhia do setor”, analisa o professor.
Investimentos
“O maior foco da mudança está
na indústria, mas as operadoras logísticas e distribuidoras também deverão se
adaptar para proporcionar parte da informação, além de melhorar o processo de
controle serial e o nível de separação de pedido. A produtividade e a profissionalização
são necessárias”, analisa a gerente de logística da operadora e transportadora
Ativa, Elisa Pellinni. Para ela, o mercado pode passar por um momento de
consolidação, onde empresas que não conseguirem se adaptar podem sumir. “Somos
poucos, e quem ficar será mais valorizado”, ressalta.
Para Elisa, as empresas que
não atuavam com os sistemas automatizados devem sofrer intensamente o impacto.
“Com o Datamatrix não será possível fazer leitura manual sem o equipamento de
dados”.
Entre os investimentos que a
Ativa realizou estão horas de desenvolvimento para um novo sistema que suporte
toda a informação, espaço de armazenagem de dados em nuvem, além da compra de
escaners que leiam o código Datamatrix e coletores. “O investimento deve ficar
em torno de R$ 300 mil e R$ 350 mil para o aporte em tecnologia e entre R$ 20
mil e R$ 30 mil nos equipamentos de leitura”, afirma Elisa. Ela menciona também
que o gasto em material é menor, porque no ano anterior (com a possibilidade da
lei) já havia dobrado seu pedido de equipamentos de leitura.
Ainda segundo a executiva, o
desafio está em cumprir o prazo para o projeto piloto. “Para esta fase, a
indústria deve implementar o sistema em três lotes, mas para nós operadoras
seria mais fácil ter a mudança de uma vez. Desta forma teremos que operar nos
dois formatos”.
Já o diretor da Prosperity
Consulting, especializada em logística, Décio Tarallo, afirmou que na primeira
etapa as transportadoras terceirizadas (que apenas realizam o translado e não
armazenam) não devem se preocupar. Mas, as operadoras deverão participar do
piloto para mostrar às clientes que conseguirão realizar o processo.
“A rastreabilidade está sendo
realizada não apenas no Brasil, mas em outros países. Uma das maiores causas de
óbito no mundo é a aplicação incorreta do medicamento. O consumidor é o foco da
mudança, mais do que a segurança porque hoje temos sistema que controlam essa
parte”, conta. Questionado sobre a margem de lucro, o especialista acredita que
deve reduzir um pouco. “O custo das operadoras será repassado para a indústria
e consequentemente para o consumidor”, diz.
Distribuidoras
O diretor executivo da
Associação Brasileira de Distribuição e Logística de Produtos Farmacêuticos
(Abradilan), Geraldo Monteiro, explica que para amenizar o impacto e tornar o
processo mais viável, a entidade tem mantido contato com a Anvisa para repassar
material técnico sobre o segmento. “Medidas assim sempre melhoram o processo,
mas as políticas adotadas devem servir na prática.”
Gestão em hospitais
Com a necessidade da
rastreabilidade, as empresas de gestão de logística interna nos hospitais
também serão requisitadas. Um exemplo é a RV Ímola, que além de oferecer o
controle de fármacos dentro dos hospitais, também possui um galpão externo onde
é possível guardar todos os insumos.
“Hoje em dia, muitos hospitais
estão nos centros urbanos e é caro manter um armazém dentro do hospital”,
explica o vice-presidente comercial da empresa, Thiago Amaral.
Segundo ele, a companhia tira
o volume de insumos e ainda coloca funcionários para fazer a gestão no controle
do almoxarifado e nos estoques satélites (por andar) nos hospitais. “Fazemos
também a separação unitária do medicamento, seguindo exatamente a prescrição
médica”, confirma Amaral.
Dentro do centro hospitalar, a
separação é feita a cada seis horas e colocada de forma separada por paciente
em dispensários, que para serem abertos precisam do registro por código do
enfermeiro e do paciente.
Com a maior exigência da
rastreabilidade para medicamentos, a empresa afirma que espera superar R$ 200
milhões no faturamento em 2016. Este ano, a previsão é de R$ 180 milhões. “Em
pesquisas feitas com nossos clientes, percebemos um desperdício entre 20% e 30%
dos fármacos”, analisa.
Além disso, ao terceirizar o
serviço é possível reduzir o número de funcionários para o controle de remédios
de forma drástica. “O controle errado muitas vezes pode gerar perdas por
questões simples de resolver, como a validade ou a compra em volume
desnecessário”.
Fonte DCI
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