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quarta-feira, 20 de maio de 2015

Ortopedista nega ter recebido propina de fabricantes de próteses

Henrique Cruz: "Nunca fiz pedidos de cirurgia. Quem os fazia era o Fernando Sanchis"
Gabriela Korossy / Câmara dos Deputados

O ortopedista Henrique Cruz reiterou nesta terça-feira (19), em depoimento à CPI da Máfia das Órteses e Próteses, que não recebeu qualquer comissão de fabricantes em troca de prescrição de cirurgias desnecessárias. Ele também refutou a hipótese de ter assinado, “de forma consciente”, orçamento para cirurgias.

Cruz integrou a equipe do médico Fernando Sanchis de 21 de fevereiro ao final de julho de 2014, quando realizava sua especialização. Sanchis, que trabalhava no Hospital Nossa Senhora das Graças (RS), foi denunciado em reportagem exibida em janeiro pelo programaFantástico, da Rede Globo, por participar da suposta máfia.

“Eu nunca fiz pedidos de cirurgia. Na minha atividade, quem fazia os pedidos era o Fernando, a gente só auxiliava, e, de repente, se vê nessa situação”, declarou Henrique Cruz aos deputados. O ortopedista destacou que as liminares de Sanchis para liberação de cirurgias eram elaboradas pela advogada Nieli de Campos Severo, suspeita de integrar a “máfia”.

Justiça

O desembargador Ney Wiedemann, do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, reforçou o testemunho de Henrique Cruz ao afirmar que chegou à sua análise liminares para liberação de cirurgias solicitadas por Fernando Sanchis. “Quando me dei conta de que nós estávamos sendo usados, percebi que os pedidos suspeitos eram justamente dessa mesma ‘equipe’ (médico e advogada)”, salientou. Ele admitiu que existe “cruzamento” entre escritórios de advocacia: o mesmo advogado pode peticionar tratamento médicos tanto ao Sistema Único de Saúde (SUS) quanto à previdência complementar.

Aos deputados da CPI, Henrique Cruz disse que temeu retaliação ou ameaça à integridade física, e, por essa razão, não registrou boletim de ocorrência após ter constatado a fraude de sua assinatura.

Diante do relato da testemunha, o deputado Dr. João (PR-RJ) defendeu a prisão preventiva do médico Fernando Sanchis e salientou que a CPI que investiga o caso deveria trabalhar em conjunto com o Ministério Público e Polícia Federal.

Cirurgia induzida

Também nesta terça, o médico fluminense Marcelo Paiva Paes de Oliveira revelou à CPI os detalhes da cirurgia na coluna a que foi submetido em dezembro de 2013 e que lhe acarretou sequelas motoras na perna esquerda. Oliveira alega ter sido vítima do esquema denunciado pelo Fantástico: ele teve de pagar, somente para despesas com parafusos, R$ 208 mil.

"Não estamos tratando de um erro humano, nem de uma intercorrência médica, mas de uma cirurgia induzida e indicada para auferir outros recursos e não para melhorar a vida do paciente”, criticou.

O médico contou que move ação de foro administrativo contra o médico responsável pela cirurgia no Conselho de Medicina do Rio de Janeiro. Além disso, ingressou no Ministério Público contra a seguradora Assit, que atestou o laudo médico e a indicação de fornecedores exclusivos (Megasurgical e a Fusion) de aparelhos ortopédicos. Esse esquema, no seu ponto de vista, configura a “comercialização da medicina”.

Reportagem - Emanuelle Brasil
Edição - Marcelo Oliveira
Agência Câmara Notícias

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