Gabriela Korossy / Câmara dos Deputados
O ortopedista Henrique Cruz reiterou nesta
terça-feira (19), em depoimento à CPI da Máfia das Órteses e Próteses, que não
recebeu qualquer comissão de fabricantes em troca de prescrição de cirurgias
desnecessárias. Ele também refutou a hipótese de ter assinado, “de forma
consciente”, orçamento para cirurgias.
Cruz integrou a equipe do médico Fernando Sanchis
de 21 de fevereiro ao final de julho de 2014, quando realizava sua
especialização. Sanchis, que trabalhava no Hospital Nossa Senhora das Graças
(RS), foi denunciado em reportagem exibida em janeiro pelo programaFantástico,
da Rede Globo, por participar da suposta máfia.
“Eu nunca fiz pedidos de cirurgia. Na minha
atividade, quem fazia os pedidos era o Fernando, a gente só auxiliava, e, de
repente, se vê nessa situação”, declarou Henrique Cruz aos deputados. O
ortopedista destacou que as liminares de Sanchis para liberação de cirurgias
eram elaboradas pela advogada Nieli de Campos Severo, suspeita de integrar a
“máfia”.
Justiça
O desembargador Ney Wiedemann, do Tribunal de
Justiça do Rio Grande do Sul, reforçou o testemunho de Henrique Cruz ao afirmar
que chegou à sua análise liminares para liberação de cirurgias solicitadas por
Fernando Sanchis. “Quando me dei conta de que nós estávamos sendo usados, percebi
que os pedidos suspeitos eram justamente dessa mesma ‘equipe’ (médico e
advogada)”, salientou. Ele admitiu que existe “cruzamento” entre escritórios de
advocacia: o mesmo advogado pode peticionar tratamento médicos tanto ao Sistema
Único de Saúde (SUS) quanto à previdência complementar.
Aos deputados da CPI, Henrique Cruz disse que temeu
retaliação ou ameaça à integridade física, e, por essa razão, não registrou
boletim de ocorrência após ter constatado a fraude de sua assinatura.
Diante do relato da testemunha, o deputado Dr. João
(PR-RJ) defendeu a prisão preventiva do médico Fernando Sanchis e salientou que
a CPI que investiga o caso deveria trabalhar em conjunto com o Ministério
Público e Polícia Federal.
Cirurgia induzida
Também nesta terça, o médico fluminense Marcelo
Paiva Paes de Oliveira revelou à CPI os detalhes da cirurgia na coluna a que
foi submetido em dezembro de 2013 e que lhe acarretou sequelas motoras na perna
esquerda. Oliveira alega ter sido vítima do esquema denunciado pelo Fantástico:
ele teve de pagar, somente para despesas com parafusos, R$ 208 mil.
"Não estamos tratando de um erro humano, nem
de uma intercorrência médica, mas de uma cirurgia induzida e indicada para
auferir outros recursos e não para melhorar a vida do paciente”, criticou.
O médico contou que move ação de foro
administrativo contra o médico responsável pela cirurgia no Conselho de
Medicina do Rio de Janeiro. Além disso, ingressou no Ministério Público contra
a seguradora Assit, que atestou o laudo médico e a indicação de fornecedores
exclusivos (Megasurgical e a Fusion) de aparelhos ortopédicos. Esse esquema, no
seu ponto de vista, configura a “comercialização da medicina”.
Reportagem - Emanuelle Brasil
Edição - Marcelo Oliveira
Agência Câmara Notícias
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