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sexta-feira, 15 de maio de 2015

Representante de hospitais admite cobrança de porcentagem sobre próteses implantadas

O representante da Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Saúde do Rio Grande do Sul (Fehosul), Flavio Borges, admitiu nesta quinta-feira (14), em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Máfia das Órteses e Próteses no Brasil, que a maioria dos hospitais cobra porcentagens de 15% em média sobre cada prótese adquirida para os implantes.
Marcelo Bertani | Agência ALRS

Ele ressaltou, porém, que compete aos hospitais somente providenciar os materiais com as especificações determinadas pelos médicos cirurgiões que os utilizarão em seus procedimentos, não tendo o poder de indicar o uso de uma prótese nacional ou importada, por exemplo.

— O hospital cobra uma taxa percentual em relação à disponibilização do material, da prótese. O medico solicita a prótese. Se ela custa R$ 100 mil, o hospital compra e cobra R$ 115 mil — explicou.

Borges prestou depoimento em reunião na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre. Além dele, o presidente da CPI, senador Magno Malta (PR-ES), também ouviu o administrador Alcides Pozzobon, que já gerenciou três instituições hospitalares no estado. Ele frisou nunca ter lidado com tal situação nos períodos em que esteve à frente das casas de saúde.

Entretanto, Pozzobon disse que o problema não deixa de ser conhecido há tempos, de uma forma ou de outra, já que três anos atrás esteve em Brasília para ver o trabalho de um grupo formado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), com o intuito de estabelecer uma planilha de custos de órteses e próteses, pois os preços praticados no país estavam muito díspares.

— O grupo iria mostrar para o Brasil e para as operadoras de planos de saúde que estava havendo distorções homéricas — disse.

Durante seu depoimento, Pozzobon também cobrou uma postura diferenciada de todos os níveis de governo a respeito dos repasses para os atendimentos do Sistema Único de Saúde (SUS) feitos nas instituições privadas e nas entidades beneficentes, e que não chegam a cobrir os custos dos procedimentos.

— Os hospitais estão trabalhando com uma tabela do SUS que não paga mais que 60% dos custos — observou.

Delegados

Também prestaram depoimento os delegados da Polícia Civil gaúcha responsáveis pela investigação, estado considerado por Magno Malta a “ponta do iceberg” do problema, trazido à tona por reportagem veiculada no programa Fantástico em janeiro deste ano.

Joerberth Pinto Nunes e Daniel Mendelski Ribeiro explicaram as origens da investigação sobre a máfia das próteses. Segundo afirmaram, detectou-se um padrão: pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ou do IPE-Saúde, plano de saúde ligado ao Instituto de Previdência do Rio Grande do Sul, recebiam indicação para a realização da cirurgia de implantação, mas eram convencidos pelos médicos a utilizar uma “prótese importada e de mais qualidade” do que a normalmente ofertada pelo governo. Pagavam o procedimento “por fora” e depois entravam com ações pedindo ressarcimento das cirurgias. Enquanto uma prótese normalmente custa R$ 7 mil, as da máfia custavam mais de R$ 200 mil.

— O que buscam a Polícia Civil e o Ministério Público? Tratar de crimes de falsidade ideológica, descobrir se os laudos eram verdadeiros e os pacientes realmente precisavam da prótese; de estelionato, pois o Judiciário era enganado, e o Estado entregava indevidamente vantagem econômica a profissionais; e a associação criminosa — disse o delegado Joerbert

A maior parte de seus depoimentos, entretanto, foi reservada por tratar de dados sigilosos, ainda sob investigação.

Antes de iniciar a reunião, o senador Magno Malta afirmou que a CPI se reuniu no Rio Grande do Sul porque o problema eclodiu no estado, elogiou a coragem dos investigadores e afirmou que os médicos e até membros do Judiciário que integram a máfia forma uma verdadeira “quadrilha”, que movimenta recursos em patamares comparáveis aos do narcotráfico.

— A CPI vai investigar a máfia e também os crimes conexos dessa quadrilha, dessa verdadeira organização criminosa que opera no país inteiro — afirmou.

Magno Malta também disse que vai lutar para tipificar essa violação como crime hediondo.

Agência Senado Elina Rodrigues Pozzebom

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