Aline Salgado
Zika vírus e microcefalia: risco para grávidas e
mobilização de cientistas (Foto: Reprodução) |
Na luta contra a microcefalia associada à contaminação pelo zika vírus, uma parceria entre dois importantes centros de pesquisa do estado, anunciada nesta segunda-feira, 18 de janeiro, promete trazer alento especial às grávidas. A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e o Instituto Vital Brazil (IVB) fecharam acordo para desenvolver um soro contra o vírus transmitido pelo mosquito Aedes aegypti. Segundo os pesquisadores, após o diagnóstico do zika, por meio de um teste rápido, as grávidas contaminadas poderão receber o soro, possibilitando a redução da carga viral e, por consequência, os riscos de infecção do feto.
À frente das pesquisas para a produção do antígeno, um composto de proteínas recombinantes do zika, a coordenadora do Laboratório de Engenharia de Cultivos Celulares do Instituto de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe/UFRJ), Leda Castilho, conta que estudo está em fase preliminar, mas que o entusiasmo da equipe é grande. “Estamos em uma corrida contra o tempo. Em dezembro, tomamos a decisão de aplicar a nossa experiência em produção de proteínas recombinantes e no desenvolvimento de vacina contra a febre amarela para buscar ferramentas contra o zika vírus, tais como soros e, em mais longo prazo, vacinas. A ideia é avaliar o soro como uma ferramenta para situações de emergência, como no caso das grávidas. Reduzir a carga viral nessas pessoas infectadas trará maiores chances de que a doença não seja transmitida para o feto. Essa poderia ser uma das estratégias para reduzir os riscos de microcefalia em bebês”, explica Leda.
Assim como a febre amarela, os vírus da dengue e do zika pertencem à mesma família, a dos flavivírus. A partir da expertise do grupo de pesquisadores da Coppe/UFRJ, que atuam com Leda, a tática é iniciar os trabalhos pelo levantamento de bibliografia especializada sobre as sequências de proteínas estruturais do vírus para, em seguida, produzir proteínas recombinantes. “Já existem cepas do zika vírus com RNA sequenciado. É com base nessas sequências que vamos obter os genes sintéticos”, acrescenta a pesquisadora.
Com as proteínas em mãos, a UFRJ vai transferir a segunda etapa da missão para o IVB. Ao longo dos últimos anos, a FAPERJ tem apoiado importantes pesquisas realizadas pelo IVB, que tem sede em Niterói. Só na produção de soros hiperimunes, o instituto conta com uma experiência de 96 anos. Diretor científico do IVB, Claudio Mauricio Vieira de Souza prevê que o antígeno ficará pronto em três anos. “Todo o desenvolvimento é longo e três anos costuma ser o tempo prudente considerado. Mas, assim que recebermos o antígeno da UFRJ, iremos iniciar a produção do soro, usando cavalos da fazenda do instituto em Cachoeiras de Macacu, e proceder aos testes pré-clínicos”, diz Souza.
Leda Castilho: à frente da coordenação de pesquisa
para a produção do antígeno (Foto: Coppe/UFRJ) |
Na guerra contra o zika não faltam esforço e dedicação dos pesquisadores. Leda conta que está em busca de colaboração internacional para garantir o avanço rápido nas pesquisas. Em contato com especialistas do exterior, ela planeja fazer um estágio sênior de pesquisa, de quatro meses, em um laboratório americano com experiência no desenvolvimento de vacina gênica contra o vírus do Oeste do Nilo, que também é da família do zika. “O conhecimento acumulado por eles nos seria muito útil e poderia acelerar nossas pesquisas”, salienta.
Além da equipe da professora Leda, a UFRJ montou uma força-tarefa para o estudo de estratégias de combate ao vírus que vem provocando a microcefalia. Batizado de Núcleo Zika Vírus, o grupo conta com a participação do professor da Faculdade de Medicina e epidemiologista Roberto Medronho; o virologista do Instituto de Microbiologia Davis Ferreira; o professor da Faculdade de Medicina Edimilson Migowski; e a professora do Instituto de Química Mônica Ferreira. Cada pesquisador tem trabalhado em estudos específicos, que visam desde o combate ao vetor, o mosquito Aedes aegypti, e o desenvolvimento de vacinas, até o tratamento por meio de fitocomplexos e soros hiperimunes. O último informe epidemiológico do Ministério da Saúde, divulgado na quarta-feira, 20 de janeiro, mostra que de 1º de janeiro de 2015 até o dia 16 de janeiro deste ano foram notificados 3.893 casos de microcefalia com suspeita de infecção pelo vírus zika em 764 municípios de 21 estados do País e mais o Distrito Federal. Do total notificado, 224 tiveram confirmação de microcefalia, seis confirmaram a relação com o vírus zika e outros 282 foram descartados. Continuam em investigação 3.381 casos suspeitos da doença. A região Nordeste tem o maior número de casos suspeitos de microcefalia, com 3.402 notificações. No estado do Rio de Janeiro, levantamento da Superintendência de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Estado de Saúde aponta que, de 1º de janeiro de 2015 a esta terça-feira, 19 de janeiro, foram registrados 166 casos. Deste total, 133 são de bebês já nascidos e os outros 33 são referentes ao período intra-uterino. A microcefalia é uma malformação congênita, em que o cérebro do feto não se desenvolve de maneira adequada. Neste caso, os bebês nascem com um perímetro cefálico menor do que o normal, que habitualmente é superior a 32 cm.
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