Fórmula criada nos EUA é testada pela primeira vez
em humanos e tem resultados positivos quanto à tolerância e ao tratamento. Dos
55 imunizados, 90% mantiveram as células de defesa contra o vírus um mês depois
das aplicações
Pesquisadores dos Institutos Nacionais de Saúde dos
Estados Unidos (NIH, sigla em inglês) anunciaram o sucesso de uma vacina contra
o vírus zika, micro-organismo que, em gestantes, provoca anomalias
irreversíveis no feto em desenvolvimento. Eles descreveram, na revista The Lancet,
os resultados promissores de estudos clínicos de fase 1 -- que asseguram a
tolerância a um tratamento em humanos --, realizados em três centros
norte-americanos. Antes, a substância havia sido testada em animais.
"Precisamos urgentemente de uma imunização para
prevenir a infecção por zika, um vírus que pode causar defeitos no
nascimento e outras anomalias de desenvolvimento em bebês nascidos de mulheres
infectadas, assim como uma constelação de outros problemas de saúde em adultos
e crianças", disse, em nota, Anthony S. Fauci, diretor do Instituto
Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (Niaid), braço do NIH que desenvolveu
a substância descrita na edição de ontem The Lancet. "Estamos muito
confiantes com esses primeiros resultados que indicam que a vacina ZPIV é
segura e imunogênica", completou.
ZPIV é a sigla para vacina de zika com
vírus purificado e inativado, nome da nova substância. Os resultados mostraram
que, além de bem tolerada pelo organismo, ela conseguiu desencadear uma
resposta imunológica contra o vírus; ou seja, passou no teste da segurança e se
mostrou capaz de proteger contra o patógeno. A vacina contém partículas
do zika que foram inativadas e, portanto, não podem replicar e causar
doenças. Porém, como a capa proteica do vírus se mantém intacta, ele é
reconhecido pelo sistema imunológico.
Dos 67 participantes dos três estudos iniciais de
fase 1, 55 receberam a vacina e 12 ficaram no grupo do placebo. A ZPIV foi
administrada com um adjuvante (composto que ajuda a induzir uma resposta imune
ainda mais forte) contendo sais de alumínio. Todos os voluntários tomaram duas
injeções intramusculares com a mesma dosagem, administradas com um intervalo de
quatro semanas. Os ensaios foram duplo-cego, significando que nem os
pesquisadores nem os participantes sabiam quem estava com o placebo.
Periodicamente, foram retiradas amostras do sangue
dos voluntários. Em mais de 90% dos indivíduos que, de fato, receberam a
vacina, detectaram-se os anticorpos do zika até quatro semanas após a última
dose. Embora não tenha sido determinada ainda qual a concentração de anticorpos
necessária para combater a infecção congênita, estudos com animais estão
ajudando a levantar algumas pistas. Os pesquisadores investigaram o possível
mecanismo de proteção vacinal transferindo os anticorpos dos participantes
imunizados para ratos e, em seguida, infectando os animais com o vírus. Os
resultados indicaram uma proteção robusta contra a viremia (vírus detectados na
corrente sanguínea).
Com a segurança testada, o Niaid está liderando um
esforço internacional para avaliar a vacina em um estudo de fase 2, quando,
além da tolerabilidade, os pesquisadores se concentrarão na eficácia da
substância. "Logo após os primeiros relatos de que a infecção por zika
durante a gestação pode levar a defeitos congênitos, os cientistas do Niaid
criaram uma das primeiras vacinas experimentais contra a doença, usando uma
plataforma baseada em DNA, e iniciaram os estudos menos de um ano depois.
Agora, começamos os testes de fase 2 desse candidato, para determinar se ele
pode prevenir contra a infecção, e os promissores dados da fase 1 publicados
hoje (ontem) dão apoio a esse desenvolvimento", afirmou Anthony S. Fauci.
Brasil
Atualmente, os NIH testam outras imunizações em
potencial contra esse micro-organismo nos Estados Unidos e nas Américas Central
e do Sul. No Brasil, o Instituto Evandro Chagas (IEC), no Pará, anunciou, para
o próximo ano, os primeiros testes com humanos de uma vacina contra o zika. A
busca por uma fórmula eficaz de proteção mobiliza cientistas pelos efeitos do
zika no organismo e pelo seu avanço rápido. Desde 2015, segundo
a Organização Mundial da Saúde(OMS), cerca de 70 países e territórios das
Américas, África, Ásia e Pacífico Ocidental têm relatado casos de infecção.
O IEC, em parceria com a Universidade do Texas,
demonstrou, há três meses, que uma vacina contra o zika pode proteger os fetos
rapidamente, além de evitar infecções e danos testiculares em machos que
tiveram contato com o vírus. Os testes foram realizados em primatas não
humanos, e o resultado foi descrito em um artigo publicado na revista Nature
Communications. Estudos anteriores mostraram que homens infectados e que não
têm sinais da doença podem ter contagem de esperma reduzida. O vírus também se
mantém no sistema reprodutivo masculino por muitos meses, o que aumenta o risco
de transmissão sexual.
A vacina de dose única é feita com vírus vivo
atenuado e deve ser testada em humanos no ano que vem. "Ter uma vacina
contra zika que protege o sistema reprodutivo dos machos, as mulheres grávidas
e seus fetos vai melhorar os esforços de saúde pública para evitar defeitos de
nascimento e outros efeitos da doença nas regiões onde o zika circula. É
importante notar que o fato de a vacina exigir apenas uma dose é extremamente
importante: vacinas que requerem várias doses são impraticáveis para moradores
de regiões em desenvolvimento, onde o acesso a instalações médicas pode ser
limitado", explicou Pedro Vasconcelos, diretor do IEC e codesenvolvedor da
substância.
Correio Brasiliense
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