O atual surto de febre amarela
no Brasil levou as autoridades francesas a recomendar aos turistas que viajam
para qualquer parte do país, e não apenas para a região amazônica, a tomar
a vacina contra a doença. Mas, seguindo orientação da Organização Mundial
da Saúde, só é vacinado quem nunca tomou a injeção. Os demais são considerados
imunizados para a vida toda. O professor Eric Caumes, chefe do serviço de
Doenças Infecciosas e Tropicais do Hospital Pitiè-Salpêtrière, em Paris,
discorda dessa interpretação da OMS.
Com o surto da febre amarela
no Brasil e a recomendação feita aos turistas pelo Ministério das Relações
Exteriores, mesmo para as viagens a São Paulo ou Rio de Janeiro, o movimento
começou a aumentar nos centros de vacinação franceses. Não há fila, nem falta
do produto, que custa na França € 68 (cerca de R$ 280). A expectativa é que a
busca pela injeção aumente mais com a proximidade do Carnaval. “Mas a tendência
a longo-prazo é de uma redução devido à decisão da OMS de considerar a validade
da vacina vitalícia”, acredita a enfermeira chefe do Centro de
Vacinação Internacional da Air France, o mais importante de Paris.
Desde de 2013, estudos
realizados pela Organização Mundial de Saúde concluíram que uma única dose era
suficiente para imunizar a pessoa para o resto da vida contra a febre amarela. Antes,
uma nova dose a cada dez anos era necessária. O Brasil aceitou essa
recomendação da OMS em 2016 e desde então passou a vacinar apenas quem nunca
tinha tomado o produto. Os casos das vacinas fracionadas, atualmente utilizadas
na Brasil, são diferentes e necessitam uma atualização.
Diminuição de anticorpos
O professor Eric Caumes pensa
que a Organização Mundial da Saúde antecipou uma penúria do produto para
garantir a primo-vacinação nas áreas endêmicas. “Ninguém pode dizer hoje que
essa vacina protege a vida toda. Ao contrário, temos muitos elementos
para dizer que ela não protege a vida toda. Estudos, infelizmente poucos,
mostram que com os passar dos anos os anticorpos anti-febre amarela das pessoas
vacinadas diminuem”, explica. Ele compreende que a OMS tomou uma decisão de
saúde pública para proteger as populações em situação de risco, mas diz que a
recomendação “não é aceitável para os turistas que não vivem nessas áreas
endêmicas” e não estão expostos de maneira permanente ao vírus. Lembrando que poucas
vacinas têm validade vitalícia, ele recomenda a todos os viajantes uma nova
dose após dez anos da primeira.
O porta-voz da agência da ONU,
Tarik Jasarevic, reafirma a posição da entidade que também é defendida pelo
chefe do setor de vacinas do prestigioso Instituto Pasteur de Paris, Frédéric
Tangy. Ele explica que mesmo se os anticorpos diminuem, em caso de nova
infecção eles reaparecem a tempo de controlar a doença. “O que vemos hoje no
Brasil são novas contaminações, de pessoas que nunca tinham sido vacinadas. O
problema é a insuficiência da cobertura vacinal”, ressalta. Tangy aprova o uso
das doses fracionadas que, segundo ele, são tão eficientes quanto a vacina
padrão e contornam o problema da escassez do produto.
A campanha de vacinação
lançada no Brasil prevê a aplicação de 21,8 milhões de doses, sendo 16,5
milhões fracionadas. Entre julho de 2017 e 30 de janeiro de 2018, foram
registrados 213 casos da doença e 81 mortes, principalmente nos estados de São
Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
Risco de epidemia
Os dois especialistas
franceses estão preocupados com o risco de epidemia da doença no Brasil. Por
enquanto, os casos registrados ocorreram apenas por contaminações silvestres. Mas com a multiplicação dos
casos, o grande número de viajantes entre as cidades e as regiões, o risco de
contaminação urbana não pode ser excluído.
“Infelizmente constatamos, há
algum tempo, a expansão de casos da doença fora dos redutos originais,
como as florestas tropicais, na América Latina”, lamenta Eric Caumes, para quem
a penúria da vacina teria consequências desastrosas.
“A única recomendação
possível, além do combate ao mosquito, é vacinar o maior número possível de
pessoas, principalmente os mais vulneráveis como crianças e idosos”, prega
Frédéric Tangy. O especialista do Instituto Pasteur chega a propor a vacinação
obrigatória contra a febre amarela no Brasil e em outros países endêmicos da
África.
Somente quatro laboratórios no
mundo fabricam a vacina anti-febre amarela, entre eles o brasileiro
Bio-Manguinhos/Fiocruz. Frédéric Tangy pede que outros laboratórios
internacionais se interessem pelo produto. Ele não entende porque não existe um
estoque consequente da vacina para combater uma eventual epidemia
mundial que é uma “espada de Dâmocles” que ameaça o mundo, devido ao
aquecimento global e multiplicação das viagens, entre outras coisas.
Fonte: MSN
0 comentários:
Postar um comentário