A partir de 2020, quando será
feita a segunda etapa da pesquisa, será possível medir o impacto da vacinação
nessa população
Crédito: Nucom SVS
Estimativas atuais apontam que
cerca de 10 a 19% dos casos novos de câncer podem ser atribuídos a agentes
infecciosos, dos quais 30% são causados pelo vírus HPV. Devido ao alto risco, o
Ministério da Saúde, por meio do Programa Nacional de Imunizações (PNI) e do
Departamento das IST, do HIV/AIDS e das Hepatites Virais (DIAVH), encomendou
o Estudo de Prevalência do Papiloma vírus no Brasil: POP-Brasil,
que é o primeiro inquérito de infecção pelo HPV de abrangência nacional
realizado no país. O estudo foi conduzido pelo Hospital Moinhos de
Vento com recursos de isenção fiscal através do Programa de Apoio ao
Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS), e
recrutou jovens de 16 a 25 anos, das 26 capitais brasileiras e do
Distrito Federal, para participarem da pesquisa.
O secretário de Vigilância em
Saúde, Osnei Okumoto, que participou da abertura da apresentação do estudo,
nesta terça-feira (22), destacou a importância da iniciativa. “O POP-Brasil é
uma parceria de sucesso que traz uma prestação de contas para população,
mostrando como a vacinação é uma estratégia importante para proteger toda uma
geração que pode se beneficiar com a vacina e prevenir a ocorrência de diversos
cânceres relacionados ao vírus HPV”. E reforçou: “estaremos sempre
apoiando esse tipo de ação que dá subsídios teóricos para as práticas em saúde
pública que a SVS adota”.
No Brasil, segundo
estimativas, são registrados 16 mil casos de câncer de colo do útero por ano, e
5 mil óbitos de mulheres devido à doença. Mais de 90% dos casos de câncer anal
e 63% dos cânceres de pênis são atribuíveis à infecção pelo HPV, principalmente
pelo subtipo 16. E a maioria desses casos podem ser evitados com a vacina.
Além de determinar a
prevalência do HPV e seus tipos no Brasil, os resultados dessa primeira fase do
estudo teve como objetivo identificar fatores demográficos, socioeconômicos,
comportamentais e regionais associados à ocorrência da doença em mulheres e
homens entre 16 e 25 anos de idade. Com base nesses dados, o estudo busca
estabelecer uma linha de base para avaliação da efetividade da vacinação no
país. A partir de 2020, quando será feita a segunda etapa da pesquisa, será
possível medir o impacto da vacinação nessa população.
Para realização da pesquisa,
profissionais de saúde, entre médicos e enfermeiros, foram capacitados para
realização de entrevistas com os participantes e para as coletas das amostras
biológicas.
Ao final do estudo, 7.693
participantes foram incluídos. A idade média foi de 21,6 anos e 56,8% se autodeclararam
pardos. A prevalência do HPV no Brasil foi de 53,6%, sendo o HPV de alto risco
para o desenvolvimento de câncer presente em 35,2% dos 6.387 participantes com
amostras válidas. O estudo mostrou que a prevalência de HPV foi
significativamente maior na região Nordeste (58,9%) e Centro-Oeste (56,46%), em
comparação com a região Sul (49,68%). Já as regiões Norte e Sudeste
apresentaram um percentual de 53,54% e 49,92%, respectivamente.
Entre os fatores
comportamentais associados à presença de HPV de alto risco, o que chama a
atenção é o uso do tabaco. Fumantes ou ex-fumantes apresentaram uma taxa maior
de infecção: 41,13%, enquanto a taxa é 32,98% entre não fumantes. Dos jovens
entrevistados, 15,7% fumam cigarros, 72,4% relataram já terem feito uso de bebidas
alcoólicas e 31,6% de drogas, ao longo da vida. Em relação às infecções
sexualmente transmissíveis (IST), 13,8% relataram a presença de uma IST prévia
ou apresentaram resultado positivo no teste rápido para HIV ou sífilis.
Para Eliana Wendland, pesquisadora
que conduziu o estudo, uma das grandes surpresas que a pesquisa trouxe foi a
falta de conhecimento sobre o HPV e suas consequências , não só entre os
jovens, mas também entre os profissionais de saúde. “Somente cerca de 44% dos
jovens tinha recebido alguma informação prévia sobre HPV de um profissional de
saúde, ou seja, menos da metade, e muitas vezes esses profissionais não sabiam
orientar sobre o vírus e os problemas relacionados a ele”, relatou.
Vacinação
Para diminuir a incidência de
câncer no país, e proteger a população contra o vírus HPV, o Ministério da
Saúde implantou a vacinação contra HPV desde 2014 para meninas de 11 a 13
anos como estratégia para o enfrentamento da doença. Até hoje, mais de 34
milhões de doses já foram distribuídas para as Unidades Básicas de Saúde de
todo o Brasil. De junho a dezembro de 2018, a previsão é que mais 5,6 milhões
sejam distribuídas. A vacina é recomendada para meninas de 9 a 14 anos,
meninos de 11 a 14 anos, para pessoas vivendo com HIV e aids, transplantados
de medula óssea e órgãos sólidos e pacientes oncológicos de 9 a 26 anos.
Desde a incorporação da
vacina, 4,9 milhões de meninas procuraram as unidades do Sistema Único de Saúde
(SUS) para completar o esquema com a segunda dose, totalizando 48,8% na faixa
etária de 9 a 14 anos. Já com a primeira dose, foram vacinadas 8 milhões de
meninas nesta mesma faixa, o que corresponde a 79,3%. No entanto, o Ministério
da Saúde alerta que a cobertura vacinal só está completa com as duas doses.
Entre os meninos, foram vacinados com a primeira dose 32,9% do público-alvo,
média ainda abaixo do esperado, que é de 80%.
A coordenadora substituta do
PNI, Ana Goretti, reforçou a segurança da vacina e a importância das pessoas
procurarem os postos de saúde. Segundo Ana Goretti, “ é inadmissível que
com todas as evidências científicas disponíveis sobre a segurança dessa
vacina e o seu impacto na redução dos graves problemas ocasionados
pelo vírus HPV, se tenha ainda uma baixa adesão a vacina, permitindo
que milhões de adolescentes brasileiros fiquem vulneráveis. É urgente que
todos os profissionais de saúde que lidam com esse público incentivem a
vacinação”
A diretora do Departamento das
IST, do HIV/AIDS e das Hepatites Virais (DIAVH), Adele Benzaken, reiterou a
fala da coordenadora do PNI. “As sociedades e os conselhos de classe precisam
ser mais presentes e proativos nas recomendações para seus profissionais sobre
a importância da vacina HPV. Precisamos dessa ajuda para melhorar a adesão da
vacina”.
O médico Aluísio Segurado, da
Sociedade Brasileira de Infectologista, parabenizou o PNI pela iniciativa de
parceria na pesquisa.” É fundamental, o PNI, como o maior programa de
imunização no mundo, se preocupar em apoiar uma pesquisa que traz respostas
para a sociedade sobre o tema. Uma base de estudos ampla, não só previamente à
implementação de uma tecnologia, como a vacina contra o HPV, mas também
posteriormente a essa estratégia”.
Por Nucom SVS
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