O simples anúncio, da empresa farmacêutica americana Inovo, realizado na semana passada, apresentando seus planos para o desenvolvimento de uma vacina genética contra o Zika, em uma das mais importantes revistas de economia e negócios a “Fortune”, fez com que suas ações subissem 8% na Bolsa de Nova York.
As vacinas que movimentaram, em 2005, algo em torno de 9 Bilhões de Dólares Americanos, fecharam o ano de 2014 com faturamento aproximado de 24 Bilhões, parte do mercado global de R$ 300 bilhões, segundo estimativas da OMS. O segmento cresce entre 10 a 15% ao ano, praticamente o dobro da evolução média dos outros medicamentos que flutuam entre os 5 a 7%.
A ONG, Médicos Sem Fronteira divulgou, em relatório no ano passado, que o custo de vacinas de crianças no mundo, mesmo nas regiões menos favorecidas, cresceu mais de 70 vezes se comparado com 2001.
Grandes players do mercado farmacêutico global chegaram a descontinuar, venderam plantas, fundiram e verticalizaram operações, e direcionaram as pesquisas, na busca de verdadeiras “blockbusters”, destinadas ao mercado privado de adultos, e elevado valor agregado.
O advento e as nefastas consequências de microcefalia atribuídas ao vírus Zika, transmitido pelo mosquito “aedes aegypt”, mesmo vetor da Dengue e de Chicungunya, já caracteriza uma epidemia reconhecida pela própria OMS, e, a julgar pela exponencial velocidade de evolução se transformará em “pandemia”, se não mundial, pelo menos em mais de 20 países das Américas e parte da Europa onde já foram notificados casos.
As doenças transmitidas pelo mosquito e o próprio vetor, historicamente, foram tratados com certa negligencia e parcimônia pelas autoridades sanitárias, como parecia uma doença “benigna”, de ciclo rápido, que a população de certa forma está acostumada pelo convívio com as outras infecções como as provocadas pelos vírus da Dengue e mais recentemente com Chicungunya, mas, com as consequências recentemente expostas com o exponencial crescimento das notificações de microcefalia, acendeu a luzes Amarelas e Vermelhas obrigando as Autoridades a adotar outro modelo de governança para administrar o surto.
A academia e os produtores igualmente foram despertados e, agora, demonstram grande interesse para desenvolver medicamentos, diagnósticos, métodos de controle do mosquito transmissor, e outros aparelhamentos necessários para enfrentar esta verdadeira cruzada.
A cada dia, por vezes mais de um anúncio é realizado sobre o tema: equipes multidisciplinares, interministeriais, instituições ligadas a pesquisa e desenvolvimento, a rede pública de produtores de medicamentos que, ontem(11), teve seu ponto alto ao anunciar a parceria entre o Instituto Evandro Chagas e a Universidade do Texas, Medical Branch dos Estados Unidos, objetivando o desenvolvimento compartilhado, em regime de fast track, da vacina para imunização contra o Zika.
O problema de milhares de pessoas agora é transformado em oportunidade ímpar de negócios. Especialmente, para os grandes players da indústria farmacêutica multinacional, que há menos de 6 meses, negligenciavam completamente as doenças transmitidas pelo mosquito aedes aegypts e, pouca importância davam ao desenvolvimento de terapias capazes de proporcionar soluções rápidas e eficazes para utilização imediata, assim como ocorre com várias outras doenças de baixo interesse comercial para o segmento privado.
Em momentos como este é que se percebe o verdadeiro valor da parceria estratégica da REDE Oficial de produtores públicos de medicamentos com o Ministério da Saúde, como ferramenta capaz de rapidamente responder às demandas e a curtíssimo prazo disponibilizar o “kit diagnóstico tríplice” Dengue, Chicungunya e Zika, já realizando exames laboratoriais na Rede de laboratórios referenciados.
As iniciativas como as do Inst. Evandro Chagas, Butantan, BioManguinhos, do IBMP no TECPAR, da FUNED e do IVB, Unicamp, dentre outras, que se dedicam buscar soluções em vacinas, soros, diagnósticos, alguns com parcerias internacionais como, anunciado pelo Ministro da Saúde a GSK compõem o projeto de BioManguinhos, não levam em conta a ótica do negócio, pelo negócio, Instituições Públicas não tem ações em bolsas, não distribuem dividendos ou bônus aos seus dirigentes, são induzidas meramente pelo comprometimento com a saúde pública.
Igualmente se apresenta uma oportunidade sem precedentes da Academia, convidada a participar de um processo verticalizado, em rede, otimizando todas as sinergias e potencialidades desenvolvidas, mesmo que por iniciativas isoladas, e avançar com projetos robustos, consistentes que de fato transformem conhecimento em benefícios em prol da sociedade.
Empresas multinacionais clássicas do segmento, como: MSD (Merck Sharp Dohme) parceira do Butantan para a vacina contra o HPV, a Sanofi – Pasteur que detém o registro da vacina contra Dengue no Brasil, a GSK que mantem parcerias consolidadas com BioManguinhos estão alinhadas e engajadas com o projeto.
Infelizmente, mesmo com tamanha mobilização o que se vislumbra no horizonte para as vacinas, no momento, sinaliza com potenciais resultados entre o 2º e 3º ano, vindouros. Considerando, otimistamente ainda, que se confirmem os resultados preconizados, com segurança e eficácia, que os órgãos de regulação acompanhem o par e passo de todo processo, pondo em prática um verdadeiro e necessário “fast track”, exigido pelas circunstancias emergenciais que vivemos, sem deixar comprometer a segurança sanitária e sem expor pessoas a qualquer tipo de risco.
O Governo tem anunciado, sistemática e repetidamente, que não faltarão recursos para o enfrentamento desta guerra, as áreas de fomento já avançaram e estão com muitas chamadas públicas para projetos focados no tema.
Logo, se as providencias de médio e longo prazo estão encaminhadas é necessário votar a atenção para os próximos 2 a 3 anos, período que, quanto muito, teremos disponíveis apenas diagnósticos mais rápidos e confiáveis para identificar a doença.
Outro viés para estruturação de médio e longo prazo é a necessidade de formar e consolidar Instituições e Grupos de referência capazes de proporcionar atendimento especializado para as centenas, quiçá milhares, de crianças com microcefalia, frutos deste surto do Zika vírus.
Por tudo é imprescindível que esta seríssima questão de saúde pública, não fique estagnada nos interesses comerciais, no lobby dos negócios, na pesquisa burocrática da acadêmica, nas iniciativas acadêmicas com fomento públicas que nunca resulta em benefício da população, enfim é imperioso que o processo avance com esforço de toda cadeia envolvida, priorizando neste momento a redução e quem sabe eliminação do mosquito.
Cuidar para que o mosquito não encontre criadouros é de responsabilidade de cada cidadão.
Mario Sergio Ramalho
Secretário Executivo
FRENTE PARLAMENTAR DOS PRODUTOS PÚBLICOS DE MEDICAMENTOS
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