O Brasil começou na semana
passada uma pesquisa para conseguir um certificado internacional de eliminação
do tracoma como problema de saúde pública. Infecção bacteriana faz os cílios
encostarem no globo ocular, causando deficiências visuais e cegueira
permanente. Doença afeta principalmente populações pobres.
Os procedimentos de
verificação estão sendo feitos conforme a metodologia de mapeamento recomendada
pela iniciativa Tropical Data e pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS),
escritório regional da Organização Mundial da Saúde (OMS).
O inquérito, de abrangência
nacional, teve início em Pernambuco. Análises têm por alvo áreas endêmicas,
onde a transmissão da patologia é contínua, e regiões onde falta saneamento
básico, um problema social avaliado como um risco para a proliferação da
doença.
No Brasil, o projeto é
conduzido pelo Ministério da Saúde e pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). As
duas instituições enviam profissionais especializados às casas das pessoas para
fazer exames em crianças e adultos, além de avaliar as condições de acesso a
água e esgoto.
Até o momento, sete países –
Camboja, Gana, Laos, México, Marrocos, Nepal e Omã – foram reconhecidos pela
OMS como tendo eliminado o tracoma como um problema de saúde pública.
A erradicação total dessa
enfermidade depende de uma série de fatores que ultrapassam o setor de saúde.
Por isso, o primeiro passo é eliminar a infecção como um problema de saúde
pública.
Para alcançar esse resultado,
é necessário comprovar a prevalência de tracoma inflamatório (ativo) em menos
de 5% das crianças de um a nove anos de idade. Entre a população com mais de 15
anos, a OMS exige um índice menor que 0,2% de prevalência da triquíase
tracomatosa — uma complicação na qual ocorre uma distorção na posição dos
cílios, que se viram na direção dos olhos, chegando a encostar no globo ocular.
O sintoma pode reduzir a visão ou até mesmo causar cegueira.
“Todos os países das Américas
estão desenvolvendo atividades de vigilância ou em fase de implementação dos
inquéritos. O esforço que o Brasil está fazendo agora é importante para coletar
as evidências necessárias para solicitar no futuro a validação oficial da
eliminação do tracoma como problema de saúde pública”, explica Martha Saboyá,
assessora regional da OPAS/OMS para doenças negligenciadas.
Áreas endêmicas
Em 2017, 165 milhões de
pessoas viviam em áreas endêmicas de tracoma, onde a transmissão da patologia
ocorre de forma contínua e constante. A doença é um problema de saúde pública
em muitas das áreas mais pobres e rurais de 41 países da África, América Central
e do Sul, Ásia, Austrália e Oriente Médio. A infecção é responsável pela
cegueira ou deficiência visual de cerca de 1,9 milhão de pessoas.
Nas Américas, a doença afeta
populações pobres do Brasil, Colômbia, Guatemala e Peru. Segundo a OPAS, na
região, quase 5 milhões de pessoas vivem em áreas onde o tracoma é endêmico.
Cegueira irreversível
O tracoma é uma doença ocular
causada pela bactéria Chlamydia trachomatis. A cegueira provocada pela
enfermidade é irreversível.
A infecção se espalha por meio
do contato direto de pessoa para pessoa ou com roupas e peças de cama e banho
contaminadas (toalhas, lenços, fronhas, entre outros utensílios). Outra forma
de transmissão, menos comum nas Américas, é por moscas que estiveram em contato
com secreções dos olhos ou do nariz de um indivíduo infectado.
Quando há episódios repetidos
de infecção ao longo de muitos anos, os cílios podem ficar em posição
defeituosa, tocando o globo ocular, o que provoca dor e desconforto, assim como
danos permanentes à córnea.
Estratégia da OMS
A Assembleia Mundial da Saúde
adotou em 1998 a resolução WHA51.11, visando à eliminação global do tracoma
como um problema de saúde pública. A estratégia da OMS se baseia na correção
cirúrgica para casos avançados da doença; antibióticos para eliminar a bactéria
causadora da enfermidade; promoção da higiene facial; e melhorias ambientais
para reduzir a transmissão.
Em 2017, mais de 230 mil
pessoas no mundo receberam tratamento cirúrgico para o tracoma avançado e 83,5
milhões de pessoas foram tratadas com antibióticos.
Exame oftalmológico.
Foto: OPAS - ONU
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