A Organização Pan-Americana da Saúde/Organização
Mundial da Saúde (OPAS/OMS) reafirmou no início da semana seu compromisso em
trabalhar junto aos países da região das Américas para eliminar doenças
transmissíveis até 2030. Um novo marco de ação foi apresentado no 54º Congresso
da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (Medtrop), em Olinda (PE), por
Jarbas Barbosa, subdiretor do organismo internacional.
“Estamos trabalhando em consonância com os
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) para ter gerações futuras livres
de doenças transmissíveis nas Américas. Para isso, precisamos conseguir o
acesso universal a medidas de detecção dessas enfermidades e tratamento
precoce”, afirmou Barbosa. O subdiretor da OPAS disse ainda que há um esforço
para incluir doenças e condições não transmissíveis em um marco diferente,
tratando não só a transmissão e as mortes, mas também as morbidades e sequelas.
O novo marco é constituído por quatro linhas de
atuação, que envolvem serviços de saúde integrados; geração, análise e
disseminação de estratégias robustas; abordagem dos determinantes ambientais e
sociais; e a integração com a atenção primária à saúde. “Está sendo feito um
mapeamento de todas as doenças e as dimensões de cada uma delas, que terá um
conjunto de indicadores construídos com uma abordagem multissetorial”. Segundo
Barbosa, as consultas com os países devem ter lugar ao fim de 2018, seguindo
para aprovação no Conselho Diretivo da OPAS no próximo ano.
Barbosa também traçou um panorama da atual situação
das doenças transmissíveis nas Américas, entre elas o sarampo. “Neste ano, a
Venezuela completou mais de 12 meses de transmissão sustentada de sarampo e,
com isso, perdeu o certificado de eliminação da doença. Os outros países da
região continuam com sua certificação individual, mas existem riscos. O Brasil
vem fazendo campanhas de vacinação junto com estados e municípios, mas
se não interromper a transmissão da doença até fevereiro de 2019, também pode
perder seu certificado”, complementou.
Um outro desafio do Brasil, segundo Barbosa, é
conseguir pensar em formas eficazes de quebrar as barreiras de acesso às
vacinas para a população, adaptando os sistemas de saúde às suas necessidades.
“Mães e pais que trabalham não conseguem levar seus filhos para se vacinar
durante o horário comercial, em dias de semana. A vacina está no posto de saúde,
mas as pessoas não conseguem chegar a ela.”
Vírus zika e os desafios impostos à saúde pública
A primeira conferência do Congresso deste ano abordou o vírus zika e sua resposta no âmbito do Brasil. Enrique Vásquez, coordenador de Doenças Transmissíveis e Análise de Situação de Saúde da OPAS/OMS, trouxe à memória o MedTrop de 2015, em Fortaleza, onde o tema já havia sido discutido. “Nenhum de nós ali sabia o que iria suceder poucos meses depois. Essa é uma oportunidade para saber como foi a construção do conhecimento sobre a doença e suas consequências."
A primeira conferência do Congresso deste ano abordou o vírus zika e sua resposta no âmbito do Brasil. Enrique Vásquez, coordenador de Doenças Transmissíveis e Análise de Situação de Saúde da OPAS/OMS, trouxe à memória o MedTrop de 2015, em Fortaleza, onde o tema já havia sido discutido. “Nenhum de nós ali sabia o que iria suceder poucos meses depois. Essa é uma oportunidade para saber como foi a construção do conhecimento sobre a doença e suas consequências."
A conferencista do evento, Maria de Fátima Pessoa
Militão de Albuquerque, integrante do Grupo de Pesquisa da Epidemia da
Microcefalia (MERG) desde 2015, apresentou uma linha do tempo da epidemia, que
teve lugar primeiramente no Brasil, espalhando-se depois para mais de 40
países. Ela lembrou que o aumento do número de neonatos com microcefalia
começou a ser percebido em agosto de 2015, em Pernambuco, por duas
neuropedriatras. A partir desse acontecimento, a evolução da epidemia se deu
rapidamente. “Desde a percepção de que havia um agregado de dados de qualidade
até a declaração de estado de emergência de saúde pública nacional, pelo
Ministério da Saúde, e da reunião convocada para a criação do MERG, passaram-se
apenas três meses”.
A síndrome congênita do vírus zika foi incluída na
Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à
Saúde (CID 11), lançada pela OMS em junho deste ano.
Já na mesa redonda “Global vector control
response/2017-2030: é possível alcançar?”, Ana Carolina Faria e Silva, dos
Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) no Brasil, e Renato Vieira,
coordenador geral de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, falaram
sobre a ferramenta da OMS para o controle de vetores. Vásquez, que coordenou a
atividade, afirmou que o documento, adotado na Assembleia Mundial da Saúde em maio
de 2017, tem como principal objetivo apontar intervenções “para reduzir a carga
das doenças causadas por vetores que afetam seres humanos”.
Ana Carolina revelou que 80% da população mundial
está suscetível a contrair doenças causadas por vetores. “O documento chama os
países a reverem suas estratégias de controle vetorial e seus planos
operacionais de ação”, disse. Entre essas enfermidades estão a malária, dengue,
zika, chikungunya, Chagas e oncocercose. Ela citou os quatro pilares do marco
da resposta, sendo eles: reforçar as ações e a colaboração intersetorial e
intrasetorial; conseguir participação e mobilização das comunidades; melhorar a
vigilância de vetores e o monitoramento e a avaliação das intervenções; e
ampliar e integrar ferramentas e enfoques.
Para Vieira, a publicação do documento da OMS foi
oportuna para o país fortalecer suas capacidades de lidar com emergências.
Falou ainda sobre alguns dos desafios para o controle de vetores no Brasil,
citando o caso da febre amarela. Em dois anos, o Brasil teve mais de 2 mil
casos de febre amarela – mais do que foi registrado em 36 anos, de 1980 a 2016
–, disse o coordenador. Ele afirma que um dos avanços no tema foi a criação do
Comitê Técnico Assessor do Ministério da Saúde para Vetores, do qual a OPAS/OMS
participa. “Essa iniciativa tenta trazer, do ponto de vista científico e
técnico, um suporte à tomada de decisão do Ministério da Saúde e a integração
não só dos programas, mas entre o setor saúde, sociedades científicas e poder
público para nos trazer propostas de respostas práticas”.
OPAS
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