Os países devem cooperar na
luta contra a pandemia de COVID-19 e adaptar, inovar e reorientar o trabalho de
saúde pública, afirmou nesta segunda-feira (28) a diretora da Organização
Pan-Americana da Saúde (OPAS), Carissa F. Etienne, na sessão de abertura do 58º
Conselho Diretor - reunião de todos os ministros da saúde das
Américas.
“O mundo pós-COVID-19 será
moldado pelas decisões tomadas na luta contra o vírus. A profunda incerteza
sobre o vírus e sua trajetória, e sobre como outros países responderão, só
aumenta a importância da liderança. No mínimo, os líderes de nossa região e de
todo o mundo devem cooperar para lutar contra o vírus e eliminá-lo
coletivamente”, disse Etienne.
A diretora da OPAS acrescentou
que a pandemia requer “adaptações, inovação e reorientação de nossa cooperação
técnica, pois esta não pode ser ‘apenas um negócio’ para a Organização e seus
países. “Os países devem argumentar aos seus cidadãos que a segurança em casa
requer cooperação fora dela. A perda monumental de vidas humanas resultante
desta pandemia deve ser um lembrete suficientemente poderoso da necessidade
imperativa de mudanças significativas e equitativas no nível da sociedade e dos
indivíduos.”
A cerimônia de abertura do
Conselho Diretor também contou com a participação da primeira-ministra de
Barbados, Mia Mottley; do presidente da Colômbia, Ivan Duque; do
secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro; e
do presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Luis Alberto
Moreno. O ministro da Saúde da Costa Rica, Daniel Salas, deu as boas-vindas aos
participantes junto ao diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS),
Tedros Adhanom Ghebreyesus.
Orientação personalizada da
OPAS na região
A primeira-ministra de
Barbados, Mia Mottley, agradeceu à OPAS por seu papel único no tratamento da
pandemia de COVID-19 na Região das Américas. “A OPAS tem servido bem aos nossos
estados por mais de 100 anos e continuará sendo a grande dama da saúde pública
por pelo menos mais 100”, expressou.
A Região deve se unir “apesar
de nossos idiomas, tamanhos, diferenças culturais e dificuldades
socioeconômicas para superar esse catalisador microscópico e mudar a ordem
mundial da qual a Mãe Terra tanto precisava. O vírus deixou grandes países em
todo o mundo de joelhos”, disse Mottley. E por isso é vital que a OPAS “adapte
sua orientação a todos nós - os grandes, os não tão grandes e os países
pequenos, como meu próprio Barbados”.
A primeira-ministra também
destacou a necessidade urgente de impulsionar as economias, especialmente no
Caribe, para facilitar um retorno seguro ao turismo de cruzeiros, do qual
dependem as economias de muitos países. “Mas isso deve ser feito de forma a
garantir a segurança dos nossos trabalhadores”, preconizando o acesso
prioritário às vacinas e à terapêutica, quando disponíveis, aos trabalhadores
do turismo.
Uma resposta em fases e
baseada na ciência
O presidente da Colômbia, Iván
Duque, descreveu os esforços de seu país para enfrentar o que chamou de "o
maior desafio de nossa história recente". A Colômbia, disse ele, enfrentou
a crise "cedo, por fases e com informações confiáveis, acompanhada por
especialistas e cientistas". O país trabalhou em três eixos: proteger a saúde
de todos, incluindo os mais vulneráveis, proteger o tecido social para evitar a
perda de conquistas de décadas na superação da pobreza e desenvolver
ferramentas para reavivar nossa capacidade produtiva, adicionou.
Duque descreveu como o país
passou de um laboratório no início da crise para 100 laboratórios públicos e
privados que processam testes. A Colômbia dobrou os leitos de terapia intensiva
em cinco meses e treinou dezenas de milhares de profissionais de saúde. Também
criou o Fundo de Mitigação de Emergências e uma reserva com milhões de
equipamentos de proteção individual e implementou medidas sociais que hoje
alcançam cerca de 10 milhões de famílias.
Além disso, o presidente
destacou que a Colômbia também elaborou um plano de reativação com o objetivo
de mitigar os impactos da COVID-19 na atividade produtiva e lançar as bases
para uma recuperação econômica rápida, sustentável e socialmente consciente,
com um eixo transversal de fortalecimento da saúde pública. “Sabemos que a
pandemia não vai acabar logo, assim como sabemos que só iremos para frente se
fizermos isso juntos”, frisou.
Solidariedade e unidade na
região
“Hoje, nós, como líderes das
Américas, enfrentamos um desafio de saúde sem precedentes em nossas vidas. A
COVID-19 causou mortes e destruição econômica em todos os nossos países. Mas
continuaremos a combater a pandemia juntos, no espírito de família e no
espírito das Américas, disse o secretário de saúde dos Estados Unidos, Alex
Azar II. “Ninguém nas Américas está a salvo deste vírus até que todos nas Américas
estejam seguros.”
Azar afirmou que os Estados
Unidos “estenderão uma mão amiga a todos os necessitados. Continuaremos a ser,
como temos sido durante a era do pós-guerra, o maior doador humanitário e
global de saúde do planeta. Dentro desse trabalho, nosso próprio hemisfério é
sempre uma prioridade”. Ele disse ainda que seu país já enviou dezenas de
milhões de dólares em assistência ao desenvolvimento para ajudar no combate à
pandemia, bem como assistência técnica a pelo menos 24 países nas Américas.
Azar disse que seu país espera
“trabalhar com os Estados Membros e a liderança da OPAS para mais melhorias no
futuro próximo”. E acrescentou: “Vamos nos comprometer novamente com o espírito
que lançou a cooperação em saúde nas Américas: o espírito aberto e honesto de
que precisamos para proteger a todos nós das doenças”.
O ministro da Saúde da Costa
Rica e presidente cessante do Conselho Diretor, Daniel Salas, disse que,
"em meio a esta pandemia, nenhuma decisão foi fácil". Ele lamentou
que os países estivessem competindo na corrida para adquirir equipamentos de
proteção individual, suprimentos de laboratório, tecnologias de diagnóstico e
outros insumos.
Para avançar, “temos de
recorrer à solidariedade e à unidade”, disse, instando os países “a não se
deixarem levar pelo desejo de adquirir todas as vacinas” contra a COVID-19
quando disponíveis “se isso impedir outros de terem acesso a esta ferramenta
que reduzirá a carga sobre os sistemas de saúde e reabrirá gradualmente as
economias". O ministro lembrou que “com resiliência, empatia e união” a
batalha contra a COVID-19 pode ser vencida.
O papel das organizações
multilaterais
O secretário-geral da
Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, afirmou que o trabalho
da OPAS foi fundamental em 2020 em face da pandemia de COVID-19. “A perda de
vidas, empregos e incertezas sobre o futuro imediato nos colocam numa situação
em que a capacidade de resposta das instituições públicas e dos nossos
governos, bem como a eficácia e resposta dos atuais sistemas de governança, são
postos à prova”, ressaltou.
Almagro observou que, para a
OEA, “a ação urgente é uma prioridade, especialmente em apoio aos mais pobres e
vulneráveis” e, nesse sentido, “a cooperação e a coordenação entre organismos
internacionais e interamericanos podem ajudar a responder às necessidades de
apoio apresentadas. por países”. Ele destacou o trabalho da OEA e da OPAS para
gerar uma coordenação e resposta multissetorial em apoio aos países da região.
“Os desafios que temos pela
frente como região e de ajuda multilateral são imensos”, destacou Almagro. “O
papel da OPAS será central para cumprir esses objetivos.”
O presidente do Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID), Luis Alberto Moreno, ressaltou que “a
pandemia demonstrou a fragilidade dos sistemas de saúde” e alertou sobre um
risco significativo de retrocessos tanto na pobreza e desigualdades quanto nos
resultados de saúde.
Moreno indicou que a superação
da crise pandêmica exigirá liderança, trabalho conjunto entre os países e
inovação na região. Também destacou o COVAX, mecanismo para facilitar o acesso
à vacina contra a COVID-19, como um “excelente exemplo de como países e
agências multilaterais podem trabalhar em soluções inovadoras”. O BID está
trabalhando com os países para financiar sua participação nesse mecanismo,
explicou, e aprovou mais de US$ 20 bilhões em empréstimos para que os países
possam enfrentar o impacto da pandemia na saúde e em outras áreas. Moreno pediu
o fortalecimento dos sistemas de saúde e o aumento dos gastos com saúde
pública, entre outras medidas, para garantir que os países estejam preparados
para futuras emergências.
“Salvar vidas com as
ferramentas que temos agora”
O diretor-geral da OMS,
Tedros, disse que “a única saída da pandemia é por meio da unidade nacional e
da solidariedade global”, destacando que “o nacionalismo só vai prolongar a
pandemia”.
Tedros também alertou que não
podemos esperar por uma vacina: “devemos salvar vidas com as ferramentas que
temos agora”. Para isso, ele propôs que os países adotassem quatro prioridades:
prevenir a amplificação de eventos com uma abordagem baseada no risco em nível
local; proteger os vulneráveis para salvar vidas e reduzir a carga sobre os
sistemas de saúde; educar e capacitar comunidades para proteger a si mesmas e
aos outros com uma abordagem integral; e fazer bem o fundamental – buscar
casos, testar, isolar, colocar em quarentena e rastrear seus contatos.
“Temos um enorme desafio para
controlar a pandemia, mas o desafio ainda maior será o que faremos quando a
pandemia terminar”, disse Tedros, enfatizando que “investir em saúde não é
apenas a coisa certa a se fazer, é a coisa mais inteligente a se fazer”.
O diretor-geral da OMS
destacou que, embora haja muitos relatórios, análises e recomendações sobre a
resposta à pandemia, “todos nós devemos nos olhar no espelho. Quaisquer que
sejam as lições a serem aprendidas desta vez, devemos aprendê-las. Quaisquer
mudanças que precisem ser feitas, nós devemos mudar. Quaisquer erros que
tenhamos cometido, devemos ter a humildade de reconhecê-los. Precisamos de um
julgamento honesto".
“A história nos julgará - não
apenas pelo que fizemos durante a pandemia, mas pelo que fizermos quando ela
acabar Não é desculpa para não cumprirmos os compromissos que assumimos”,
enfatizou Tedros.
As discussões sobre a resposta
dos países à pandemia de COVID-19 serão abordadas em profundidade nesta
terça-feira, 29 de setembro.
O Conselho Diretor da OPAS
reúne ministros da saúde e delegados de alto nível dos países membros da OPAS e
OMS para discutir e analisar políticas regionais de saúde e definir prioridades
para cooperação técnica e colaboração entre países.
Acompanhe o 58º Conselho
Diretor: https://www.paho.org/pt/orgaos-diretores
Mais informações: https://www.paho.org/pt/orgaos-diretores/conselho-diretor/58o-conselho-diretor