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quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Como recuperar e manter a economia após a pandemia?

Tema foi debatido em webinário do qual participaram os economistas Waldery Rodrigues, Gustavo Franco e Rodrigo Orair. Somente o auxílio-emergencial já consumiu mais de R$ 320 bilhões dos cofres públicos neste ano

Por Secom TCU

Para além da saúde, a pandemia do novo coronavírus acarretou uma série de desafios para as economias mundiais. Os governos tiveram que enveredar esforços para responder à crise sanitária e atender às demandas da população, cada qual com a sua particularidade.  

No Brasil, não foi diferente – somente o auxílio-emergencial já consumiu mais de R$ 320 bilhões dos cofres públicos. Diante desse cenário, quais são as possíveis saídas para a retomada econômica do País? O que os sinais recentes, como o crescimento da atividade industrial, dizem sobre isso? Em que medida a recuperação pode ser sustentada?

O Tribunal de Contas da União (TCU) convidou três especialistas para debater essas e outras questões durante o quinto webinário da série “Impactos da Pandemia na Economia”, realizado no dia 22/10. São eles: o secretário especial de Fazenda do Ministério da Economia (MEcon), Waldery Rodrigues; o economista e ex-presidente do Banco Central (BC) Gustavo Franco; e o economista Rodrigo Orair, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Pelo TCU, participaram o coordenador-geral de Controle Externo de Políticas Públicas (Cogep), Junnius Marques Arifa, e o secretário de Macroavaliação Governamental (Semag), Leonardo Albernaz, que mediou a discussão.

Ao abrir o encontro, o coordenador do Tribunal destacou que os indicadores macroeconômicos evidenciam uma situação fiscal delicada no País. Ao final do ano, a previsão é que a dívida pública do governo federal terá crescido em torno de 10 pontos percentuais em um único exercício, podendo ultrapassar, pela primeira vez na história, 100% do Produto Interno Bruto (PIB). As projeções fiscais também indicam recorde em relação ao déficit primário, que deve exceder R$ 800 bilhões – valor que supera o acumulado dos déficits primários dos últimos seis anos.

Na avaliação de Junnius, os desafios são enormes. “A pandemia exigiu esforços muito grandes do governo brasileiro. Ao mesmo tempo em que observamos uma redução no número de mortes pela Covid-19, vai ficando cada vez mais claro os grandes desafios que o Brasil deve enfrentar para voltar aos trilhos normais de crescimento econômico e social”, disse. “O TCU tem feito acompanhamentos contínuos em diversas áreas – saúde, educação, emprego, segurança pública –, e vamos agora debater alguns questionamentos que surgiram a partir de alguns trabalhos”, acrescentou.

Assista, abaixo, a íntegra do evento:


A série de webinários é uma iniciativa do Grupo Temático de Sustentabilidade e Qualidade do Gasto Público do Centro de Altos Estudos em Controle e Administração Pública (Cecap/TCU) e acontece no âmbito do Coopera – Programa especial de atuação no enfrentamento à crise da Covid-19. Veja alguns pontos de destaque:

Waldery Rodrigues

“2020 é um ano completamente fora da curva, não só para o Brasil, mas para todo o mundo. A pandemia trouxe uma série de mazelas e precisou de ações céleres para enfrentá-las, do ponto de vista do governo e também de toda a sociedade. Para tanto, nós adotamos duas diretrizes principais. A primeira, não deixar nenhuma pessoa para trás, ou seja, cuidar em particular dos mais vulneráveis. A segunda, o cuidado com a economia, com o emprego. Essas duas diretrizes devem caminhar em conjunto para que possamos, em um período já de retomada, seguir em frente com manutenção de emprego e geração de renda.”

“Nós estamos com um valor de R$ 607 bilhões de delta de primário adicional, de esforço primário adicional em termos de combate à Covid-19 e seus vários segmentos. O auxílio-emergencial atinge mais de R$ 320 bilhões – é um número elevado, mas fazemos isso de maneira que ele seja meritório, controlado e contido em 2020. Esse é um ponto importantíssimo: que esses gastos não se espraiem para o ano que vem.” 

“A posição do Brasil, em termos de gastos [com a pandemia], já está superior à média dos países avançados e muito superior a dos países emergentes. Um dos melhores remédios é dar transparência ao gasto público e voltar ao ponto que tínhamos em 2019, que era a busca de equilíbrio fiscal, não só para a União, mas também para estados e municípios, daí a preocupação com o pacto federativo.”

Gustavo Franco

“Nós ficamos devendo em termos de reformas de constituição de economia de mercado na década de 1990 e até hoje estamos discutindo reformas que já eram para ter sido feitas. E, no entanto, o tema micro já se impõe como o novo paradigma de reformas. É muito mais próprio, hoje em dia, se pensar em construções cumulativas micro, que vão gradualmente construindo, por exemplo, um ambiente de negócios ou de competitividade, mas todos eles com a ideia de que é possível construir de forma granular a adesão do país às melhores práticas. Essa é a expressão-chave para as reformas da nossa década. Nós temos que adotar melhores práticas internacionais porque isso nos coloca falando a mesma língua que tantos outros países.”

“Prevalece, no nosso país, uma espécie de negacionismo fiscal em que existe um ceticismo que parece às vezes saudável sobre a escassez de recursos. O parlamentar, tipicamente, prefere confrontar o Executivo quando ele diz que não tem dinheiro. Ele prefere isso a competir com o colega por recursos orçamentários escassos, baseados no mérito da despesa que ele está propondo. É sempre melhor confrontar o Executivo do que jogar o jogo orçamentário como ele devesse ser jogado – e como o é no primeiro mundo –, em que o orçamento é o coração da democracia e as prioridades de gasto público competem entre si abertamente. Não é a prática orçamentária que estamos acostumados a ver no Brasil.”  

“A boa notícia é que há liquidez no sistema. Os Bancos Centrais do mundo todo estão atuando segundo o playbook de 2008, que foram os protocolos adotados para lidar com a crise. O Banco Central sabe como se faz para injetar liquidez no sistema – fizeram isso em 2008, em uma escala inédita. Fazer de novo agora foi fácil e mais, dar um pequeno overkill, pode gerar um pouco de clima de bolha, mas isso é menos importante neste momento. Os Bancos Centrais fizeram um pouco mais do que se esperava em matéria de criação de liquidez e o resultado é que, no mundo inteiro, há excesso de liquidez e efervescência financeira nas bolsas.”

Rodrigo Orair

“É interessante que os países responderam à crise de maneira mais ou menos igual, principalmente os ocidentais. Em uma primeira etapa, [agiram para] mitigar e conter a crise de saúde, com medidas de distanciamento social que têm impactos em termos de limitar as atividades econômicas e socais. E, depois, para evitar a crise econômica, a primeira ação se sustentou em dois pilares: sustentar renda e liquidez.”

“Agora entramos em uma terceira fase, em que se começa a flexibilizar as medidas de isolamento e é possível pensar em recuperação econômica. É muito interessante nesta fase porque houve uma nova reflexão da política fiscal e da política tributária.”

“A OCDE e outros organismos internacionais separam as respostas à Covid-19 em quatro etapas: a primeira, emergencial; a segunda, também emergencial, mas ligada a condições de solvência; a terceira, de estímulos fiscais para a recuperação econômica; e a quarta, de consolidação fiscal. E eles estão sugerindo novos arranjos, por exemplo, um novo papel dos organismos multilaterais em dar suporte aos países emergentes; atuação do Banco Central, que terá que absorver títulos de longo prazo e suavizar os custos dessa recuperação antes da consolidação fiscal.”

Acesse a íntegra dos webinários sobre os impactos da pandemia na economia:

  1. Equilíbrio entre proteção social e recuperação econômica – (4/6)
  2. Medidas emergenciais de proteção às empresas – (18/6)
  3. Perspectivas para sustentabilidade fiscal e o financiamento de políticas públicas – (25/6)
  4. Produtividade e competitividade da economia no pós-crise – (8/10) 

Serviço

Secom

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