Queda na cobertura vacinal e reaparecimento de doenças podem estar associados à propagação de informações falsas sobre os imunizantes
A circulação de notícias
falsas, o medo de eventos adversos e a sensação de segurança decorrente da
eliminação de doenças são fatores que vêm contribuindo para a queda das
coberturas vacinais no Brasil. Dados do Ministério da Saúde mostram que,
até o dia 22 de outubro, nenhumas das vacinas do calendário nacional atingiu os
indicadores preconizados pelo Programa Nacional de Imunizações. Para a
coordenadora do PNI , Francieli Fontana, o movimento antivacina também
pode contribuir para os indicadores.
Nesse cenário, o
presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM), Juarez
Cunha, também avalia que o movimento antivacina é um dos protagonistas na
propagação das fake news. “As inverdades que têm circulado podem
impactar no número de pessoas não vacinadas no país. Coloca nossa população,
especialmente as nossas crianças, em risco, colaborando para o retorno de
doenças que já estavam controladas ou eliminadas. É o caso do sarampo”, afirma.
Em 2019, o Brasil perdeu a
certificação de país livre da doença. Isso aconteceu porque o país conviveu,
por 12 meses e de forma endêmica, com casos confirmados da doença. Países dos
continentes europeu e africano também registraram um maior número de casos na última
década.
O presidente da SBIm lembra
que o movimento ganhou por causa de um artigo falso, publicado em 1998 pelo
médico inglês Andrew Wakefield, no qual ele incitava que a vacina do sarampo
causava autismo. O artigo foi desmentido e retirados dos meios científicos, mas
as consequências repercutem ainda hoje.
PROBLEMA MUNDIAL
A hesitação em vacinar foi
apontada como um problema mundial pela Organização
Mundial da Saúde e o Fundo das Nações Unidas. De acordo com estudos, a
probabilidade de uma criança nascida ser totalmente vacinada com todas as
vacinas recomendadas mundialmente até os 5 anos de idade é inferior a 20%. Em
2019, quase 14 milhões de crianças perderam a oportunidade de receber as
vacinas oferecidas para a faixa etária.
“Depois da água potável, a
vacinação trouxe uma melhoria na qualidade de vida das pessoas e uma redução da
mortalidade”, conta a médica especialista em vigilância em saúde, Melissa Palmieri.
Ainda de acordo com ela, vacinar é um pacto social. Prova disso são os
casos de poliomelite no Brasil, sem registros desde 1990.
FAKE NEWS
Vacina pode causar autismo? A
melhor higiene faz doenças desaparecerem? É perigoso aplicar doses de imunizantes
em um mesmo dia? Doenças evitáveis por vacinas já foram erradicadas?
Essas são as principais
dúvidas registradas no Saúde
Sem Fake News – canal criado pelo Ministério da Saúde
para fornecer informação segura sobre saúde aos brasileiros. No ar há pouco
mais de dois anos, o canal tem mais de 99 mil dúvidas registradas.
Um dos grandes mitos
repercutidos sobre o assunto é o de que a aplicação de mais de uma vacina no
mesmo dia poderia interferir na saúde da criança. “O sistema imune está
preparado para responder a vários estímulos ao mesmo tempo, como é o caso da
vacina tríplice viral. Tanto é que, quando a criança nasce e vai para o meio
ambiente, tudo é novo para ela. O organismo tem capacidade de produzir resposta
adequada”, esclarece o presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações.
EVENTOS ADVERSOS
Os especialistas reconhecem
que qualquer medicamento ou imunobiológico pode causar eventos adversos, mesmo
que sejam leves, como dor local, vermelhidão no braço, dor de cabeça ou febre
baixa. “Isso não é motivo para deixar de vacinar. Vacinar é uma estratégia
segura”, reforça o doutor em saúde coletiva Eder Gatti.
Ainda de acordo com ele, o
maior evento adverso é deixar de vacinar. “O impacto que as vacinas causam é
praticamente insignificante. Divulgar informações contrárias às vacinas é que
põe em xeque a credibilidade do programa de imunizações e provoca a queda de
cobertura”, completa.
POR QUE CONFIAR?
Todas as vacinas
disponibilizadas no Programa Nacional de Imunizações passam pelo crivo da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que obedece aos parâmetros
internacionais para avaliar segurança, imunogenicidade e eficácia.
Uma vez incorporada no
Calendário Nacional de Vacinação, antes de ir para o posto de saúde, a vacina
passa por uma avaliação criteriosa do Instituto Nacional de Controle e Qualidade
em Saúde (INCQS), que realiza ensaios laboratoriais para o controle de
qualidade de produtos com interesse para a saúde.
Os componentes utilizados para
a fabricação de vacinas servem para a conservação das mesmas e auxiliam no
aumento da proteção imunológica da pessoa vacinada. Segundo os especialistas,
os ventos adversos são raros e na maioria das vezes estão relacionados ao
indivíduo que recebeu a dose, como alguma alergia ou alguma imunodeficiência
preexistente (transplantados ou com HIV). Para esses casos, foram criados os
Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE) para facilitar o
acesso da população às vacinas especiais.
Nesse sentido, o Ministério da
Saúde garante que a vacinação é segura e eficaz. “Não há nenhuma dúvida com relação
a isso, por mais que grupos antivacinas queiram aparecer e tomar espaço na
mídia”, reforça Francieli. O Programa Nacional de Imunizações (PNI) existe há
47 anos e atualmente oferece 18 vacinas no Calendário Nacional de Vacinação de
Crianças e Adolescentes, sete vacinas para adultos e cinco para idosos,
disponibilizadas gratuitamente nas salas de vacinação do SUS.
Por André de Castro
Ministérioda Saúde
(61) 3315-3580 / 3315-3853
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