Foto: Rodrigo Nunes/MS
O nosso corpo funciona no
automático, e, por isso, vai sempre tentar gastar menos energia. Assim, sempre
trocamos escadas por elevadores ou escadas rolantes, caminhadas por carro. Além
disso, a tecnologia também contribui cada vez mais para nos manter nesse
status. Antes, para abrir o vidro do carro era preciso girar a manivela, hoje o
vidro é elétrico. Para ligar a TV ou mudar de canal, o controle evita que o
indivíduo precise se levantar. Essas ações do dia a dia são o suficiente para
agravar cada vez mais o problema de sedentarismo e obesidade no país.
É com a mensagem de que
pequenos hábitos do dia a dia podem fazer toda a diferença em nossa saúde, que
Marcio Atalla, professor de educação física e especialista em treinamento de
alto rendimento, conversou com os trabalhadores do Ministério da Saúde na tarde
desta quinta (20). O encontro aconteceu no auditório do prédio sede, em
Brasília.
O Blog da Saúde conversou com
o especialista sobre como as pessoas podem começar a ser mais saudáveis, e
sobre o projeto Cidade Saudável, que colocou a população de Jaguariúna (SP)
para se exercitar e mudar o padrão de vida a partir de mudanças regulares no
cotidiano.
Confira a entrevista:
Blog da Saúde: Hoje,
mais da metade dos brasileiros está acima do peso. Cerca de 18% estão obesos e
as mortes por doenças crônicas já correspondem por mais de 72% dos óbitos no
Brasil. Na sua opinião, o que nos levou a chegar nesse cenário e como podemos
mudar essa realidade?
Marcio Atalla: Essa
situação da obesidade preocupa. Não só a obesidade, mas também o sobrepeso, se
você associar isso aos dados do sedentarismo. Quando você associa o
sedentarismo com o sobrepeso e a obesidade, são fatores de risco para as
maiores doenças crônicas. Eu não tenho dúvida de que o que levou a população, não
só brasileira, mas grande parte da população mundial, a esse aumento de peso, é
a diminuição do movimento. Quando você deixa de gastar de 200, 300, 350, 400
calorias todos os dias, isso obviamente vai impactar em um sobrepeso. E pensar
que o sedentarismo, ele não é só pra perder peso. O nosso corpo é uma máquina.
Ela é totalmente projetada para funcionar com movimento. Imagina o problema que
a gente está: o sedentarismo é o carro chefe que leva para uma obesidade e
sobrepeso, e ao mesmo tempo eu não estou dando para o meu corpo o movimento que
é fundamental para ele manter o organismo em equilíbrio. Então você tem uma
série de intercorrências por conta do sedentarismo associado ao sobrepeso.
Blog da Saúde: Para
quem tem dificuldade de se exercitar, e não tem a oportunidade de contar com um
profissional como você dando apoio, incentivando, o que pode servir como
pontapé para começar a praticar atividade física?
Marcio Atalla: A
gente costuma brincar que se alguém está esperando acordar com uma vontade
irresistível de fazer exercício, esse dia não vai chegar. Porque o ser humano é
poupador e foi assim que ele sobreviveu ao longo de centenas de milhares de
anos. Hoje, eu vejo e encaro esse problema, como um problema de saúde pública.
Normalmente o ser humano vai mudar de duas maneiras: ou você altera o meio
ambiente dele, e você obriga a fazer movimento. Isso foi testado em algumas
cidades do mundo e com muita eficiência, como Copenhagen, Viena, Amsterdã.
Ninguém lá ama andar de bicicleta e acordou com uma vontade maravilhosa de sair
pedalando. Simplesmente dificultaram tanto a vida da pessoa com o transporte de
carro, que a pessoa é obrigada a andar a pé ou se movimentar com bicicleta. O
resultado disso é a diminuição de uma série de doenças crônicas e no nível de
obesidade e sobrepeso da população. A outra maneira que você tem de mudar o
cidadão é premiando, coisa que no Brasil a gente ainda não pode fazer, mas tem
outros países que fazem isso, como Canadá, por exemplo. Criar o hábito não é
fácil, tem algumas estratégias como, por exemplo, escolher qualquer tipo de
movimento que seja possível você inserir no seu dia, e não necessariamente ir
para a academia, ou participar de um grupo de corrida. Às vezes subir escadas é
mais viável e vai ser tão eficiente para a saúde quanto. Então, acho que o
primeiro passo de uma pessoa é analisar “como é o meu dia” e ai entender como
inserir um movimento possível de ter regularidade. Porque o que vai mudar é a
regularidade, e dentro disso você pode inserir estratégias, como envolver um
amigo, você pode criar mini desafios, mini objetivos e vai alcançando ao longo
do tempo. Cada pessoa funciona de um jeito.
Blog da Saúde: E
foi a partir disso que surgiu a ideia do projeto Cidade Saudável?
Marcio Atalla: Totalmente.
Esse projeto é inédito no mundo, nunca foi feito, e a gente vai publicar o
resultado e um artigo científico pela USP no final de março. E a ideia é essa:
se você não encarar o movimento como uma medicina preventiva mais eficiente,
mais barata, e como um problema de saúde pública, você pode esquecer. É preciso
pensar em como eu mudo o estilo de vida da população. O estilo de vida é
responsável por quase 70% da nossa saúde, então é ai que a gente tem que
começar a pensar.
Blog da Saúde: Há
a pretensão de continuar com esse projeto em outras localidades?
Marcio Atalla: Sim.
Já tem sondagem de várias cidades, mas eu acho que isso tem que ser uma
política de saúde pública mesmo. Eu enquanto pessoa física, se eu pensar o meu
lado, obviamente as cidades vão me procurando e eu implemento, e é muito bom.
Mas eu acho que isso tem que ser assumido como um programa de saúde pública,
porque é o jeito de resolver esse problema no médio e longo prazo.
Blog da Saúde: A
alimentação e os exercícios físicos são elementos inseparáveis para conseguir
melhorar a qualidade de vida? Ou não?
Marcio Atalla: O
exercício físico você não negocia. Nosso corpo precisa dele. Quanto mais
exercício físico eu tenho, mais eu posso errar na alimentação. Se eu não tenho
nenhum exercício físico, e segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) eu não
posso ser considerado uma pessoa saudável, sou potencialmente doente, eu vou
poder errar nada na alimentação. Claro que a alimentação tem que andar junto
quando você pensa no estilo de vida, mas você não tem uma regra muito clara
para alimentação. Em cada lugar você tem um tipo de alimentação, um hábito, e
cada pessoa tem um gosto diferente, então hoje a gente tem um Guia Alimentar
para a População Brasileira muito bom e que é referencia no mundo, a ser
seguido. Eu mesmo sigo o Guia nas minhas intervenções. Ele é ótimo e é simples
comer mais produtos in natura. A gente tem que descomplicar a alimentação,
parar de tratar a alimentação do jeito que ela vem sendo tratada hoje, onde
alguns alimentos são vistos como veneno, sendo que a gente consumiu ele por 10,
20 mil anos. Também não existe alimento santo, e a gente tem que ter menos
culpa na hora da alimentação. É preciso buscar isso que o Guia propõe: ter
alimentação in natura, e sempre estar em movimento. Cada pessoa vai ter que
achar um jeito. Pode ser caminhando mais, pode ser subindo escadas, pode ser
indo para uma academia, não importa, ela tem que ver como é possível isso, e a
partir dai ir equilibrando essas duas variáveis.
Aline Czezacki, para o Blog da
Saúde


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