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sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Marcio Atalla fala sobre obesidade e sedentarismo em evento no Ministério da Saúde

Foto: Rodrigo Nunes/MS

O nosso corpo funciona no automático, e, por isso, vai sempre tentar gastar menos energia. Assim, sempre trocamos escadas por elevadores ou escadas rolantes, caminhadas por carro. Além disso, a tecnologia também contribui cada vez mais para nos manter nesse status. Antes, para abrir o vidro do carro era preciso girar a manivela, hoje o vidro é elétrico. Para ligar a TV ou mudar de canal, o controle evita que o indivíduo precise se levantar. Essas ações do dia a dia são o suficiente para agravar cada vez mais o problema de sedentarismo e obesidade no país.

É com a mensagem de que pequenos hábitos do dia a dia podem fazer toda a diferença em nossa saúde, que Marcio Atalla, professor de educação física e especialista em treinamento de alto rendimento, conversou com os trabalhadores do Ministério da Saúde na tarde desta quinta (20). O encontro aconteceu no auditório do prédio sede, em Brasília.

O Blog da Saúde conversou com o especialista sobre como as pessoas podem começar a ser mais saudáveis, e sobre o projeto Cidade Saudável, que colocou a população de Jaguariúna (SP) para se exercitar e mudar o padrão de vida a partir de mudanças regulares no cotidiano. 

Confira a entrevista:

Blog da Saúde: Hoje, mais da metade dos brasileiros está acima do peso. Cerca de 18% estão obesos e as mortes por doenças crônicas já correspondem por mais de 72% dos óbitos no Brasil. Na sua opinião, o que nos levou a chegar nesse cenário e como podemos mudar essa realidade?
Marcio Atalla: Essa situação da obesidade preocupa. Não só a obesidade, mas também o sobrepeso, se você associar isso aos dados do sedentarismo. Quando você associa o sedentarismo com o sobrepeso e a obesidade, são fatores de risco para as maiores doenças crônicas. Eu não tenho dúvida de que o que levou a população, não só brasileira, mas grande parte da população mundial, a esse aumento de peso, é a diminuição do movimento. Quando você deixa de gastar de 200, 300, 350, 400 calorias todos os dias, isso obviamente vai impactar em um sobrepeso. E pensar que o sedentarismo, ele não é só pra perder peso. O nosso corpo é uma máquina. Ela é totalmente projetada para funcionar com movimento. Imagina o problema que a gente está: o sedentarismo é o carro chefe que leva para uma obesidade e sobrepeso, e ao mesmo tempo eu não estou dando para o meu corpo o movimento que é fundamental para ele manter o organismo em equilíbrio. Então você tem uma série de intercorrências por conta do sedentarismo associado ao sobrepeso.

Blog da Saúde: Para quem tem dificuldade de se exercitar, e não tem a oportunidade de contar com um profissional como você dando apoio, incentivando, o que pode servir como pontapé para começar a praticar atividade física?
Marcio Atalla: A gente costuma brincar que se alguém está esperando acordar com uma vontade irresistível de fazer exercício, esse dia não vai chegar. Porque o ser humano é poupador e foi assim que ele sobreviveu ao longo de centenas de milhares de anos. Hoje, eu vejo e encaro esse problema, como um problema de saúde pública. Normalmente o ser humano vai mudar de duas maneiras: ou você altera o meio ambiente dele, e você obriga a fazer movimento. Isso foi testado em algumas cidades do mundo e com muita eficiência, como Copenhagen, Viena, Amsterdã. Ninguém lá ama andar de bicicleta e acordou com uma vontade maravilhosa de sair pedalando. Simplesmente dificultaram tanto a vida da pessoa com o transporte de carro, que a pessoa é obrigada a andar a pé ou se movimentar com bicicleta. O resultado disso é a diminuição de uma série de doenças crônicas e no nível de obesidade e sobrepeso da população. A outra maneira que você tem de mudar o cidadão é premiando, coisa que no Brasil a gente ainda não pode fazer, mas tem outros países que fazem isso, como Canadá, por exemplo. Criar o hábito não é fácil, tem algumas estratégias como, por exemplo, escolher qualquer tipo de movimento que seja possível você inserir no seu dia, e não necessariamente ir para a academia, ou participar de um grupo de corrida. Às vezes subir escadas é mais viável e vai ser tão eficiente para a saúde quanto. Então, acho que o primeiro passo de uma pessoa é analisar “como é o meu dia” e ai entender como inserir um movimento possível de ter regularidade. Porque o que vai mudar é a regularidade, e dentro disso você pode inserir estratégias, como envolver um amigo, você pode criar mini desafios, mini objetivos e vai alcançando ao longo do tempo. Cada pessoa funciona de um jeito.

Blog da Saúde: E foi a partir disso que surgiu a ideia do projeto Cidade Saudável?
Marcio Atalla: Totalmente. Esse projeto é inédito no mundo, nunca foi feito, e a gente vai publicar o resultado e um artigo científico pela USP no final de março. E a ideia é essa: se você não encarar o movimento como uma medicina preventiva mais eficiente, mais barata, e como um problema de saúde pública, você pode esquecer. É preciso pensar em como eu mudo o estilo de vida da população. O estilo de vida é responsável por quase 70% da nossa saúde, então é ai que a gente tem que começar a pensar.

Blog da Saúde: Há a pretensão de continuar com esse projeto em outras localidades?
Marcio Atalla: Sim. Já tem sondagem de várias cidades, mas eu acho que isso tem que ser uma política de saúde pública mesmo. Eu enquanto pessoa física, se eu pensar o meu lado, obviamente as cidades vão me procurando e eu implemento, e é muito bom. Mas eu acho que isso tem que ser assumido como um programa de saúde pública, porque é o jeito de resolver esse problema no médio e longo prazo.

Blog da Saúde: A alimentação e os exercícios físicos são elementos inseparáveis para conseguir melhorar a qualidade de vida? Ou não?
Marcio Atalla: O exercício físico você não negocia. Nosso corpo precisa dele. Quanto mais exercício físico eu tenho, mais eu posso errar na alimentação. Se eu não tenho nenhum exercício físico, e segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) eu não posso ser considerado uma pessoa saudável, sou potencialmente doente, eu vou poder errar nada na alimentação. Claro que a alimentação tem que andar junto quando você pensa no estilo de vida, mas você não tem uma regra muito clara para alimentação. Em cada lugar você tem um tipo de alimentação, um hábito, e cada pessoa tem um gosto diferente, então hoje a gente tem um Guia Alimentar para a População Brasileira muito bom e que é referencia no mundo, a ser seguido. Eu mesmo sigo o Guia nas minhas intervenções. Ele é ótimo e é simples comer mais produtos in natura. A gente tem que descomplicar a alimentação, parar de tratar a alimentação do jeito que ela vem sendo tratada hoje, onde alguns alimentos são vistos como veneno, sendo que a gente consumiu ele por 10, 20 mil anos. Também não existe alimento santo, e a gente tem que ter menos culpa na hora da alimentação. É preciso buscar isso que o Guia propõe: ter alimentação in natura, e sempre estar em movimento. Cada pessoa vai ter que achar um jeito. Pode ser caminhando mais, pode ser subindo escadas, pode ser indo para uma academia, não importa, ela tem que ver como é possível isso, e a partir dai ir equilibrando essas duas variáveis.

Aline Czezacki, para o Blog da Saúde


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