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Os testes
de eficácia dos antidepressivos são regularmente alvo de questionamentos
por médicos e cientistas, que não conseguem ter acesso aos dados das empresas
farmacêuticas. [Imagem: Cortesia L. Brian Stauffer/UIUC]
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Questão ética
Os resultados decepcionantes da maioria dos testes clínicos
de medicamentos e tratamentos não poderão mais ficar escondidos nas gavetas dos
cientistas e das empresas farmacêuticas - ao menos nos EUA.
O Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS) e os Institutos
Nacionais de Saúde (NIH) daquele país divulgaram as novas regras, longamente
aguardadas.
A partir de agora, os cientistas deverão divulgar o projeto
e os resultados de todos os ensaios clínicos. Aqueles que descumprirem as
normas serão penalizados e não poderão obter novos fundos públicos para
pesquisas.
"Eu acredito que várias das grandes universidades
simplesmente não reconheceram que, se você faz um experimento em uma pessoa e
obtém seu consentimento, você realmente tem a obrigação de tornar os resultados
conhecidos," disse o professor Robert Califf, chefe da FDA (Food and
Drug Administration). "Isto é fundamentalmente uma questão
ética."
Acertos e erros da ciência
As novas regras visam coibir o grande número de ensaios
clínicos que são realizados, mas nunca publicados.
A maioria dos estudos que falham nos estágios iniciais
nunca são divulgados, disse Christopher Gill, pesquisador de saúde da
Universidade de Boston: "Do ponto de vista dos consumidores e da ciência,
as falhas são tão importantes quanto os sucessos".
A não-divulgação impede que outros pesquisadores saibam o
que não funciona, que outras equipes possam avaliar os métodos usados no teste,
que as agências de financiamento saibam como o dinheiro público foi gasto, e
que a população saiba o que realmente ocorre durante esses testes.
Alguns desses ensaios só vêm a público quando os
resultados são catastróficos, como ocorreu recentemente na França, quando
um fármaco em teste causou a morte de voluntários. Outro exemplo também
recente foi uma reanálise dos dados do estudo que mostrou que, em alguns casos,
a vacina contra a dengue pode fazer mais mal que bem, algo que não foi
divulgado originalmente pela empresa farmacêutica.
Tortura dos números
Outras mudanças introduzidas pela nova legislação
norte-americana incluem exigências de que os cientistas relatem detalhes sobre
como eles planejaram os ensaios, descrevam as estatísticas que vão usar para
analisar os resultados e revelem quaisquer alterações que ocorram no decorrer
do estudo.
Isto deve ajudar a resolver um problema conhecido como
"tortura" ou "trituração dos dados" - ou p-hacking -
quando os cientistas usam várias técnicas estatísticas até encontrar uma que dê
resultados positivos - e só essa é publicada.
Agora a expectativa é que os demais países possam começar a
criar suas próprias legislações com base no exemplo norte-americano.
Com informações da Nature



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