Atualmente,
o governo brasileiro gasta em torno de R$ 8 bilhões por ano com a compra de
biofármacos, que são distribuídos no Sistema Único de Saúde (SUS). Os
biofármacos são medicamentos obtidos por alguma fonte ou processo biológico, ou
seja, o princípio ativo do remédio é obtido através do emprego industrial de
microorganismos ou células modificadas geneticamente. Para reduzir essa
dependência, uma das iniciativas é a construção de fábricas que produzam
biofármacos em território nacional.
Uma
dessa unidades será administrada pela Fundação Instituto Oswaldo Cruz
(Fiocruz).“Vai ser possível produzir no país o princípio ativo, que é o
componente de maior valor agregado desse medicamento”, disse Rodrigo Coelho
Pinto, responsável pela planta de fabricação de biofármacos da
Fiocruz/Manguinhos.
Com
a unidade, a expectativa é reduzir em 30% as importações, dependendo da
quantidade de produto cuja tecnologia for nacionalizada.
Um
dos remédios que será produzido pela fábrica é a alfaepoetina, indicada para
tratamento de anemia resultante de insuficiência renal crônica. “Aos poucos, a
gente vai incorporando tecnologia desses medicamentos, que o ministério tem
maior gasto para o fornecimento à população no Sistema Único da Saúde (SUS)”,
disse.
Quando
a fábrica entrar em funcionamento, a ideia é que de cinco a seis meses possam
ser produzidos cerca de 12 milhões a 14 milhões de frascos da alfaepoetina, o
que corresponde à demanda nacional.
A unidade
da Fiocruz já iniciou a qualificação de vários sistemas, como os sistemas de
água, de geração de vapor e de utilidades, considerados imprescindíveis para a
produção dos remédios.
No
final do ano, serão iniciados os testes de qualificação dos sistemas de
produção propriamente ditos, incluindo o equipamento onde é feito o cultivo da
célula para a síntese do produto. Já a operação para a fabricação de lotes
comerciais está prevista para ocorrer em dois anos. Os lotes vão servir de base
para etapas regulatórias, como autorização da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) para produção e venda no país.
“A
planta tem capacidade para produzir alfaepoetina e mais dois ou três produtos
ao longo do ano para atender a demanda do ministério [da Saúde]”, disse Coelho
Pinto.
Procurado
pela Agência Brasil, o Ministério da Saúde informou que os medicamentos
biológicos representam 4% da quantidade distribuída pelo SUS e 51% das despesas
com compras.
Além
da fábrica da Fiocruz, estão previstas outras duas unidades: uma no Instituto
Butantan e uma no Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar). “Ao todo, serão
R$ 6 bilhões em investimentos, públicos e privados, que permitirão a produção
de medicamentos para o tratamento de pessoas com câncer; soros contra raiva e
picadas de animais venenosos; e vacinas para gripe, hepatite A e HPV, por
exemplo”, informou o ministério.
Outra
iniciativa, segundo o ministério, são 81 parcerias em andamento – chamadas
Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDPs) – com 18 laboratórios
públicos e 43 privados para desenvolvimento de 88 medicamentos, quatro vacinas
e 13 produtos para a saúde, que envolvem 18 biofármacos não produzidos no
Brasil e presentes no SUS para diversos tratamentos, como, por exemplo, de
câncer. Ao final dos projetos, a previsão é economizar R$ 5,3 bilhões.
Coppe
Nesta
semana, pesquisadores de 13 países participaram do debate sobre os avanços e
desafios nas pesquisas e produção de biofármacos e vacinas, que será encerrado
amanhã (4). Organizado pelo Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pesquisa e
Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(Coppe-UFRJ), o seminário ocorre a cada dois anos e está na sétima edição.
De
acordo com a professora de engenharia química da Coppe, Leda Castilho, o Brasil
está cerca de 30 anos atrasado na produção de biofármacos e necessita formar
mão de obra especializada.
Segundo
a Coppe, os biofármacos devem contabilizar US$ 220 bilhões em vendas este ano, o
que representa cerca de 20% das vendas da indústria farmacêutica mundial.
Coordenado
por Leda Castilho, o Laboratório de Engenharia de Cultivos Celulares (LECC) da
Coppe, trabalho com desenvolvimento de tecnologia para fabricação de
biofármacos para hemofilia, tratamento do colesterol e potenciais vacinas
contra a Zika e a febre amarela.
De
acordo com a coordenadora, o laboratório está caminhando para desenvolvimento
de células que produzem partículas que imitam o vírus da Zika. “Elas são muito
seguras e quando essas partículas que imitam o vírus são usadas em vacinas,
elas deslancham uma resposta imune no organismo que as recebe, de forma que a
pessoa passa a produzir anticorpos para o vírus e passa a estar protegida caso
o vírus venha a infectá-la”.
O laboratório
trabalha para reduzir custos e produzir as células em larga escala.
Fonte: Isto
É Dinheiro Online – SP
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