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sexta-feira, 18 de agosto de 2017

Hemobrás agora tem que investir na gestão, dizem especialistas

Mesmo após o ministro da Saúde, Ricardo Barros, recuar da ideia de levar parte da produção da Empresa Brasileira de Hemoderivados (Hemobrás) para o Paraná, a estatal ainda enfrenta desafios para se fortalecer e atingir o potencial pleno. Além da conclusão da fábrica e a qualificação da mão de obra, especialistas do setor apontam ser necessário colocar técnicos especializados na área para comandar e desenvolver o complexo fabril.

“Desde o início, a Hemobrás não foi entregue a técnicos que entendessem do setor. A tecnologia que será desenvolvida lá é muito refinada. A estatal deve ser conduzida por pessoas com expertise internacional”, explica o médico e ex-secretário estadual de Saúde, Guilherme Robalinho.

Ele lembra, ainda, que alguns diretores da estatal são administradores e até médicos, mas com experiência em outras áreas como saúde pública e cardiologia. O atual presidente interino, Oswaldo Castilho, era técnico do Ministério da Fazenda.

Para o professor de Administração e Logística da Faculdade Boa Viagem (DeVry/FBV), Paulo Alencar, é necessário se espelhar em um modelo de gestão privado. “O corpo da diretoria deve ser mais técnico, menos político. Isso pode aumentar a produtividade e, sem dúvida, a eficiência”, comenta.

Após vários erros na condução do projeto e denúncias de corrupção na gestão Lula e Dilma Rousseff, a Hemobrás, recentemente, esteve no meio de uma disputa política, por causa do seu grande potencial econômico.

Criada em 2004, por meio de lei federal, tem o objetivo de tornar o Brasil autossuficiente na produção de hemoderivados, medicamentos derivados do fracionamento de plasma, usados no tratamento de pessoas com hemofilia, aids e outras doenças. A parceira internacional nessa parte da produção é a empresa LFB, que fraciona o plasma brasileiro na França. Então, são adquiridos os medicamentos albumina, imunoglobulina, fator VIII e fator XIX.

Além disso, a Hemobrás também vai produzir o fator VIII recombinante, produto sintético de alto valor agregado feito a partir de células humanas ou animais. A estatal tem contrato com a empresa irlandesa Shire para fornecer o medicamento e transferir a tecnologia para produção. Quando for capaz de produzir o remédio, poderá exportar para toda a América Latina, com exceção do México.

Porém, após o investimento de R$ 1 bilhão, a planta em Goiana, na Zona da Mata Norte, está 70% concluída. Por isso, a Hemobrás ainda não é capaz de produzir nada. Atualmente, a estatal apenas gerencia a rede de plasma do Brasil e distribui medicamentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Recentemente, o ministro da Saúde, Ricardo Barros, queria produzir o fator VIII recombinante em uma nova fábrica em Maringá, no Paraná, seu reduto político, que seria construída por U$ 250 milhões. Isso fazia parte da proposta da empresa suíça Octapharma, em parceria com o Instituto de Tecnologia do Paraná (TecPar). Por conta de pressão da bancada pernambucana, ele recuou e, agora, acertou nova parceria com a Shire para concluir a fábrica de recombinante VIII por U$ 300 milhões (cerca de R$ 957 milhões).

“Foi uma vitória dos pernambucanos unidos, todos os partidos políticos. É hora de estar atento, de não deixar adormecido o processo e desenvolver o polo moderno”, complementa Guilherme Robalinho.

PLASMA
Após o embate político pelo fator recombinante VIII, agora o Ministério da Saúde trata em separado sobre a conclusão da fábrica de fracionamento de plasma prevista na planta da Hemobrás em Goiana. Segundo o órgão, para finalizar a obra, também é necessário investimento privado, mas o objeto será tratado em outra negociação, uma vez que não faz parte da proposta da Shire.


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