Mesmo após o ministro da
Saúde, Ricardo Barros, recuar da ideia de levar parte da produção da Empresa
Brasileira de Hemoderivados (Hemobrás) para o Paraná, a estatal ainda enfrenta
desafios para se fortalecer e atingir o potencial pleno. Além da conclusão da
fábrica e a qualificação da mão de obra, especialistas do setor apontam ser
necessário colocar técnicos especializados na área para comandar e desenvolver
o complexo fabril.
“Desde o início, a Hemobrás
não foi entregue a técnicos que entendessem do setor. A tecnologia que será
desenvolvida lá é muito refinada. A estatal deve ser conduzida por pessoas com
expertise internacional”, explica o médico e ex-secretário estadual de Saúde,
Guilherme Robalinho.
Ele lembra, ainda, que alguns
diretores da estatal são administradores e até médicos, mas com experiência em
outras áreas como saúde pública e cardiologia. O atual presidente interino,
Oswaldo Castilho, era técnico do Ministério da Fazenda.
Para o professor de
Administração e Logística da Faculdade Boa Viagem (DeVry/FBV), Paulo Alencar, é
necessário se espelhar em um modelo de gestão privado. “O corpo da diretoria
deve ser mais técnico, menos político. Isso pode aumentar a produtividade e,
sem dúvida, a eficiência”, comenta.
Após vários erros na condução
do projeto e denúncias de corrupção na gestão Lula e Dilma Rousseff, a
Hemobrás, recentemente, esteve no meio de uma disputa política, por causa do
seu grande potencial econômico.
Criada em 2004, por meio de
lei federal, tem o objetivo de tornar o Brasil autossuficiente na produção de
hemoderivados, medicamentos derivados do fracionamento de plasma, usados no
tratamento de pessoas com hemofilia, aids e outras doenças. A parceira internacional
nessa parte da produção é a empresa LFB, que fraciona o plasma brasileiro na
França. Então, são adquiridos os medicamentos albumina, imunoglobulina, fator
VIII e fator XIX.
Além disso, a Hemobrás também
vai produzir o fator VIII recombinante, produto sintético de alto valor
agregado feito a partir de células humanas ou animais. A estatal tem contrato
com a empresa irlandesa Shire para fornecer o medicamento e transferir a
tecnologia para produção. Quando for capaz de produzir o remédio, poderá exportar
para toda a América Latina, com exceção do México.
Porém, após o investimento de
R$ 1 bilhão, a planta em Goiana, na Zona da Mata Norte, está 70% concluída. Por
isso, a Hemobrás ainda não é capaz de produzir nada. Atualmente, a estatal
apenas gerencia a rede de plasma do Brasil e distribui medicamentos pelo
Sistema Único de Saúde (SUS).
Recentemente, o ministro da
Saúde, Ricardo Barros, queria produzir o fator VIII recombinante em uma nova
fábrica em Maringá, no Paraná, seu reduto político, que seria construída por U$
250 milhões. Isso fazia parte da proposta da empresa suíça Octapharma, em
parceria com o Instituto de Tecnologia do Paraná (TecPar). Por conta de pressão
da bancada pernambucana, ele recuou e, agora, acertou nova parceria com a Shire
para concluir a fábrica de recombinante VIII por U$ 300 milhões (cerca de R$
957 milhões).
“Foi uma vitória dos
pernambucanos unidos, todos os partidos políticos. É hora de estar atento, de
não deixar adormecido o processo e desenvolver o polo moderno”, complementa
Guilherme Robalinho.
PLASMA
Após o embate político pelo
fator recombinante VIII, agora o Ministério da Saúde trata em separado sobre a
conclusão da fábrica de fracionamento de plasma prevista na planta da Hemobrás
em Goiana. Segundo o órgão, para finalizar a obra, também é necessário
investimento privado, mas o objeto será tratado em outra negociação, uma vez
que não faz parte da proposta da Shire.
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