Publicado em 10/02/2021 -15:55 Por Alana Gandra - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro
Se tudo correr como previsto e
houver os investimentos necessários, o Brasil terá uma vacina nacional contra o
novo coronavírus (covid-19) em 2022. O primeiro imunizante nacional contra a
covid-19 está sendo desenvolvido pelo Centro de Tecnologia em Vacinas
(CT-Vacinas) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), junto com outros
estudos relevantes na mesma área de vacinas.
A parceria firmada no dia 4 de
fevereiro entre a UFMG, o governo de Minas Gerais e o Ministério da Ciência,
Tecnologia e Inovações (MCTI) pode acelerar a produção de vacinas no estado,
disse, em entrevista à Agência Brasil, a professora Ana Paula
Fernandes, uma das coordenadoras do CT-Vacinas.
Outros parceiros poderão
participar do projeto, entre os quais a Fundação Ezequiel Dias (Funed), que tem
uma fábrica para produção de vacinas. A professora disse que a parceria está
sendo avaliada.
Testes
No ano passado, foram
realizados testes em modelos animais (camundongos), quando a equipe do CT-Vacinas
identificou os antígenos e a melhor composição nesse sentido. “Fizemos testes
em animais, inclusive em animais transgênicos [geneticamente modificados],
necessários para esse tipo de análise”, informou Ana Paula.
A equipe está se preparando
para lançar estudos clínicos, seguindo os parâmetros da Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa), para depois começar os testes em humanos.
Para definir qual vai ser a
composição da vacina, serão feitos testes de toxigenicidade em outros dois
modelos, que poderão ser ratos e coelhos, de modo a cumprir exigência da
Anvisa. “Será preparado um lote piloto para testagem em animais, e que servirá
também para humanos, e usa essa formulação para o teste clínico de segurança,
inicialmente, imunogenicidade, e, depois, o teste de proteção”, disse a
professora da UFMG.
A perspectiva é que, havendo
investimentos, os testes em humanos poderão ser realizados ainda este ano,
disse a professora.
Independência
Na fase inicial do projeto e
nas alternativas buscadas pelo CT-Vacinas, foram gastos R$ 5 milhões. Ana Paula
Fernandes disse que para as fases 1 e 2 - testes em animais -, o valor dos
investimentos oscila entre R$ 15 milhões e R$ 30 milhões. A etapa clínica, que
envolve os testes em humanos, é bem mais cara, alcançando recursos em torno de
R$ 100 milhões.
Ana Paula destacou que esse
investimento, embora seja elevado, “é menor do que aquele que está sendo feito
para a transferência das tecnologias de fora”.
“Esse processo vai ser,
realmente, um marco histórico, que vai poder ser replicado para outros
processos, para que o Brasil tenha independência nessa área estratégica”, disse
a coordenadora do CT-Vacinas.
De acordo com Ana Paula, todos
os países do grupo do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), à
exceção do Brasil, “conseguem abocanhar, digamos assim, uma fração considerável
do mercado de insumos em vacinas mundialmente”, o que repercute de maneira
positiva em suas balanças comerciais.
“O Brasil tem competência para
fazer isso. Precisa é colocar os elos da cadeia conectados”, disse a
professora. Na avaliação de Ana Paula, o projeto da UFMG tem esse
vínculo.
Ela disse que, ao contrário do
Instituto Butantan ou da Biomanguinhos, que estão trazendo tecnologia de fora e
produzindo no Brasil, o CT-Vacinas está construindo um processo do início ao
fim. “Estamos chamando de vacina de raiz”.
A coordenadora disse que a
construção desse processo, o domínio dessas plataformas de tecnologia, são
estratégicos, “e o Brasil não tem isso”. Ela lembra que todas as vacinas usadas
em humanos no Brasil são de tecnologias importadas.
Ana Paulo disse que a equipe
do CT-Vacinas já dominou as diferentes plataformas para produção de vacinas em
vetores virais, mas que isso não significa, entretanto, que em uma única vacina
serão usados todos esses vetores ou uma combinação deles. No momento, segundo a
professora, mesmo a partir da produção da primeira vacina nacional, o
indicativo é que serão necessárias duas doses para imunização da população.
“Mas ela é uma vacina muito mais fácil de ser produzida, porque o sistema de
produção dela não tem a complexidade, por exemplo, de uma Coronavac”,
tratando-se de uma alternativa mais simples e mais viável.
Continuidade
Ana Paula acredita que ao
longo dos próximos meses serão concluídos os estudos clínicos da fase 1 e 2, de
imunogenicidade e segurança em humanos, prevendo para o segundo semestre o
início da fase 3, em humanos. A nova vacina deverá estar disponível no próximo
ano.
A professora da UFMG disse que
uma vacina desse tipo vai continuar sendo necessária no Brasil porque, “hoje, a
cada dia que passa, a gente tem mais certeza de que vamos entrar possivelmente
em uma sistemática de doses anuais para coronavírus, assim como é para
Influenza”.
Segundo Ana Paula, o vírus vai
continuar circulando e variantes vão surgir, o que demandará plataformas que
contornem o problema do surgimento dessas variáveis do coronavírus.
A reitora da UFMG, Sandra
Almeida, não tem dúvidas que a parceria com o MCTI e o governo mineiro “será
fundamental não apenas para a continuidade do desenvolvimento do imunizante
contra o coronavírus, mas também para as pesquisas com vacinas a longo
prazo”.
“Necessitamos, mais do que
nunca, de articulação entre as universidades e os órgãos públicos estaduais e
federais para garantir investimento contínuo”.
Já o ministro Marcos Pontes
disse que a vacina da UFMG, desenvolvida com tecnologia nacional, “é
importantíssima para o estado [de Minas Gerais] e para o país e tem grande
relevância para a ciência brasileira”.
Edição: Fernando Fraga
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