O diagnóstico precoce é um
fator primordial para o sucesso do tratamento de qualquer doença. Exames mais
simples, mais baratos e com apresentação de resultado mais rápida ganham ainda
mais importância no caso de epidemias com a da dengue no Brasil. Pesquisadoras
da Fundação Ezequiel Dias (Funed) e da Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG) estão desenvolvendo um kit de diagnóstico da dengue que detecta em 20
minutos a contaminação pelo vírus. O estudo que já dura quatro anos é
coordenado pelas pesquisadoras Alzira Batista Cecílio e Erna Kroon e deve
resultar em um exame rápido e seguro e que vai representar uma importante
ferramenta para o tratamento dos pacientes com suspeita da dengue.
Segundo a Secretaria de Estado
de Saúde, somente neste ano foram confirmados quase três mil casos de dengue em
Minas Gerais. A maior parte foi registrada em janeiro (1.820). Em fevereiro,
foram 1.402 casos. Apesar dos números bem menores do que o do mesmo período do
ano passado (em janeiro de 2014, a secretaria contabilizou 4.009 pessoas com
dengue e em fevereiro, 7.607), a situação está longe de ser confortável. No ano
passado, 49 pessoas morreram em decorrência da doença. Oito mortes apenas em
Passos, no Sul de Minas. Em 2015 foi confirmada a primeira morte por dengue em
Minas Gerais, na cidade de Iguatama, na região Centro-Oeste.
"Os testes usados
atualmente são importados e a demora do resultado tem pouca utilidade sobre a
decisão do tratamento. Eles hoje servem, muito mais, para notificação e, como
estatística, ajudar no traçado de políticas de saúde do que efetivamente sobre
o tratamento imediato de quem está doente", explica Alzira.
A técnica utilizada no teste é
a imunocromatografia. O método consiste em uma pequena fita, que em contato com
a amostra do paciente, se contaminado, reage à presença do vírus e muda de cor.
O teste funciona da mesma forma que o teste de gravidez. Uma molécula
determinada revela a presença do vírus. O desenvolvimento do teste já está
adiantado e a expectativa é que até o meio do ano a molécula já esteja
identificada e até dezembro o protótipo do teste seja entregue.
"É um teste simples, que não
necessita de equipamento. Ele não é itinerante porque precisa da coleta de
sangue e extração do soro desse sangue. Assim ele continua sendo de laboratório
e só poderá ser aplicado por profissionais da saúde treinados", afirma a
pesquisadora.
A propriedade do teste será da
Funed e da UFMG, que decidirão em conjunto pela fabricação do teste em escala
ou pela transferência de tecnologia. Outra opção é o estabelecimento de uma
parceria com uma empresa privada que se interesse pelo produto.
Além dos ganhos com a produção
do teste que pode substituir os importados e também gerar divisas para o País
através da venda para outros países, o kit já começa a render dividendos ao
longo da pesquisa. A montagem da plataforma de estudos na Funed para a pesquisa
e o envolvimento de pesquisadores e estudantes das duas instituições é vista
como um ganho perene.
"Montamos uma estrutura
que poderá ser utilizada para desenvolvimento de tecnologia para o combate a
outras doenças. A participação das equipes da UFMG e da Funed, com
pesquisadores efetivos, estudantes e estagiários é uma forma importante de
capacitação, difusão e geração de conhecimentos. Isso é muito importante para
um país como o nosso, em que é muito difícil desenvolver pesquisa. Esse é um
ganho que acumulamos não só para cada um de nós, mas para o Estado e para o
País", avalia.
Inovação
O kit é um dos 17 projetos da
Funed apoiados pelo Programa de Incentivo à Inovação (PII), realizado pelo
Serviço de Apoio às Pequenas e Micro Empresas de Minas Gerais (Sebrae Minas),
em parceria com a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Estado
de Minas Gerais (Sectes).
Segundo a analista da Unidade
de Inovação e Tecnologia do Sebrae Minas, Andrea Furtado, o programa tem como
objetivo transformar pesquisas acadêmicas em negócios. "O primeiro passo é
o diagnóstico técnico-econômico. Muitas vezes os pesquisadores estão tão
envolvidos como trabalho que não tem tempo de pensar em empreender. Também
falta formação para isso e esse é o nosso papel. O PII aceita pesquisas
aplicadas que já estejam em um determinado nível de desenvolvimento",
informa Andrea Furtado.
Os recursos são repassados na
forma de insumos e divididos pelas instituições participantes, no caso Sebrae
Minas, Sectes e Funed/UFMG. O programa já está na 16ª edição. "Qualquer
instituição que tenha pesquisa pode solicitar informações sobre o programa. É
feita uma avaliação dos projetos e o diagnóstico de viabilidade. No caso da
Funed escolhemos 17 projetos para o estudo de viabilidade e dez deles receberam
recursos. Recebemos, por exemplo uma solicitação de uma instituição de Montes
Claros (Norte de Minas), mas eles não tinha massa crítica para participar. A
solução foi criar um pool de instituições e assim conseguimos levar o PII para
o Norte de Minas. O importante é que as instituições e pesquisadores busquem
informações, nos procurem. Mesmo que não exista oportunidade dentro do PII
poderemos indicar outros caminhos", destaca a gestora.
(Fonte: Diário do Comércio –
10/03/2015)
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