Na reunião foi discutido riscos de infecções
resistentes a medicamentos. Britânicos pediram apoio do governo brasileiro a
pacote global de ações para enfrentar o problema
O Ministro da Saúde,
Marcelo Castro, recebeu nesta quarta-feira (7), em Brasília, representantes do
governo britânico que vieram ao Brasil pedir apoio à ação internacional de
combate às infecções resistentes aos medicamentos. Composta pelos pesquisadores
Lord Jim O’Neill e Dame Sally Davies, a delegação está no Brasil para
apresentar estudos que chamam a atenção aos problemas relacionados à
resistência antimicrobiana.
Durante o encontro, o
ministro Marcelo Castro ressaltou o comprometimento do governo brasileiro com a
questão e reafirmou o compromisso do Ministério da Saúde no controle à propagação
e contenção da resistência aos medicamentos. Durante a reunião, os
pesquisadores elogiaram a legislação brasileira que, a partir de 2011, passou a
regulamentar a venda de antibióticos, com a exigência da prescrição médica.
Os pesquisadores, que estão
no Brasil desde a segunda-feira (05), participaram de encontros com
representantes do Governo Federal e governo do Estado do Rio de Janeiro, além
de outras instituições como Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ),
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa) e Fundação Getúlio Vargas. O objetivo da visita é alertar autoridades,
empresas farmacêuticas e produtores do setor agrícola-pecuário sobre os riscos
associados ao aparecimento, à propagação e à contenção da resistência aos
medicamentos. A visita também tem como finalidade conhecer o que é feito no
Brasil em termos de pesquisa e de políticas públicas para enfrentar este
problema.
De acordo com os estudos
apresentados pelos pesquisadores britânicos, caso não sejam tomadas medidas, as
infecções provenientes de resistência a medicamentos poderão matar, pelo menos,
10 milhões de pessoas anualmente, até 2050. Isso significará um custo estimado
100 trilhões de dólares na economia mundial. Até 2016, o especialista e sua
equipe recomendarão um pacote de ações para enfrentar a ameaça crescente da
resistência antimicrobiana, sendo que um dos objetivos da missão é pedir apoio
ao governo brasileiro a essa ação.
Para Jim O’Neill,
coordenador da pesquisa encomendada pelo governo britânico, para apurar o custo
humano e financeiro dos riscos de infecções resistentes a medicamentos, “o
Brasil pode desempenhar um papel global de liderança ao incluir a resistência
antimicrobiana como tópico relevante de discussão em reuniões do G20 e na
Assembleia Geral da ONU. “Quero conhecer lideranças nacionais para entender
como o país pode colaborar no desenvolvimento de novas drogas e métodos de
diagnóstico”, afirma Lord O’Neill.
Uma das políticas
elogiadas pelos pesquisadores britânicos é a legislação brasileira que
regulamenta a venda de antibióticos no Brasil deste o ano de 2011, com a
exigência da prescrição médica. Monitoramento da Anvisa indica que houve
queda de 10% na comercialização destes medicamentos no período de 2011 a 2013,
após a regulamentação.
Dados da Anvisa também
demonstram diminuição da automedicação e aumento do uso racional de
antimicrobianos, além de redução dos casos de resistência bacteriana. Isso foi
possível a partir do monitoramento sanitário e farmacoepidemiológico do consumo
de antimicrobianos na comunidade e o fortalecimento da “conscientização”
da população sobre a necessidade de consumir medicamentos por meio de
orientação de profissional habilitado. A fiscalização das farmácias e drogarias
é realizada por vigilâncias sanitárias de Estados e Municípios.
Consumir medicamentos de
forma inadequada ou usá-lo de forma irracional pode causar dependência,
resistência a antibióticos, reações adversas, intoxicação e até a morte. Além
disso, a combinação errada de medicamentos também oferece riscos à saúde. A
automedicação pode também levar ao agravamento da doença, já que a utilização
de medicamentos sem a informação adequada pode esconder determinados sintomas e
fazer com que a doença evolua de forma mais grave.
PANORAMA NO MUNDO - Atualmente as infecções de superbactérias, associadas a
doenças como a tuberculose, matam cerca de 700 mil pessoas por ano ao redor do
mundo, ao passo que cânceres matam 8,2 milhões. De acordo com as projeções do
estudo de O’Neill, as mortes anuais relacionadas a casos de doenças resistentes
a antibióticos poderão chegar, em 2050, a 4,7 milhões na Ásia, 4,1 na África e
392 mil na América Latina.
Para a pesquisadora Sally
Davies, o problema do uso excessivo de antibióticos é global e a política
brasileira de restrição foi elogiada: “Fiquei impressionada que com o fato de
vocês, em 2011, terem introduzido a obrigatoriedade de prescrição médica para o
uso do antibiótico”. Poucos países do mundo fazem isso, destacou a
pesquisadora.
Por Nivaldo Coelho, da
Agência Saúde
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