Há
dois anos, sem alarde, a pequena equipe da Coordenação de Hepatites Virais vem
empreendendo uma discreta revolução no Departamento de DST, Aids e Hepatites
Virais do Ministério da Saúde – bem como nas vidas de milhares de pacientes
acometidos pela doença no Brasil. De forma despretensiosa e incansável,
amparada pela diretoria do Departamento, a Coordenação vem enfrentando o
instável cenário político brasileiro para consolidar o que, hoje – globalmente
–, é considerado por muitos um dos melhores protocolos para o tratamento de
hepatite viral C no mundo.
Lançado
em 2015 após intensa revisão de literatura, o Protocolo Clínico e Diretrizes
Terapêuticas para Hepatite C e Coinfecções já resulta em taxa de cura superior
a 95% entre os primeiros pacientes tratados no Sistema Único de Saúde (SUS). O
tratamento, que dura entre 12 e 24 semanas, usa medicamentos que têm
pouquíssimos efeitos colaterais: sofosbuvir, daclatasvir e simeprevir. Mas não
é só: no Brasil, o custo desses medicamentos – muito alto em todo o mundo – foi
drasticamente reduzido após intensa negociação pelo Ministério da Saúde. Como
não poderia deixar de ser, a redução nos preços vem resultando num salto no
número de pacientes tratados pelo SUS: em 2015, foram realizados 15.821
tratamentos; em 2016, até agora, mais de 15 mil pacientes já iniciaram
tratamento – e a previsão do Departamento é que mais 30 mil pacientes recebam
os novos antivirais até o fim do ano.
A
influência dos novos padrões brasileiros já se faz sentir em vários países do
mundo, na forma de redução de preços e adoção do novo Protocolo. Segundo a
Organização Mundial de Saúde (OMS), o país é – ao lado de Ucrânia e Mongólia –
um exemplo a ser seguido, sendo o único país com renda média no grupo. Em 2014,
no Brasil, o tratamento custava entre US$ 19 mil e US$ 20 mil ao ano; em 2015,
esse custo oscilou entre US$ 11,100 e US$ 9,425. Para o ano de 2016, a previsão
é que cada tratamento para hepatite C irá custar US$ 5,300 aos cofres públicos.
DIA
MUNDIAL – O mês de julho abriga o
Dia Mundial de Combate às Hepatites Virais, celebrado no dia 28. A data foi
instituída em 2010 pela OMS e, desde então, o DDAHV vem cumprindo uma série de
metas e ações integradas de prevenção e controle para o enfrentamento da doença
no Brasil. Hoje, estima-se que a hepatite C afete mais de 185 milhões de
pessoas em todos os continentes, e que seja responsável por cerca de 350 mil
mortes por ano.
Mas
o foco do Brasil não está apenas no tratamento da hepatite C, evidentemente. No
último mês de junho, uma nova versão do Protocolo Clínico e Diretrizes
Terapêuticas para Hepatite B e Coinfecções – lançado em 2011 e agora acrescido
de recomendações feitas pela OMS, entre outras – foi aprovada pela Comissão
Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) e segue para consulta
pública, para receber contribuições. Em seguida, o Protocolo será reavaliado,
encaminhado para publicação e incorporado.
MÉRITO – Aos 32 anos, o jovem coordenador de
Hepatites Virais do Departamento, Marcelo Naveira – médico infectologista formado
pela Faculdade de Ciências Médicas de Santos (SP), mestre em Saúde Pública pela
Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health (EUA) e com experiência no
estudo da hepatite C em vários países –, é reticente ao assumir a autoria dos
recentes avanços da área: “O mérito é de todo o Ministério da Saúde, da
diretoria do Departamento, da equipe da Coordenação de Hepatites Virais, dos
gestores do SUS e da sociedade civil”, diz.
Em
2014, ONGs de apoio a infectados com hepatite C reuniram mais de 65 mil assinaturas
em abaixo-assinado para pedir a redução dos preços dos medicamentos disponíveis
no SUS para o tratamento da doença. O pedido foi bem-sucedido e, em dezembro do
mesmo ano, representantes dessas ONGs visitaram o DDAHV e desfraldaram uma
enorme bandeira de 240 metros – assinada por infectados, familiares e
simpatizantes da causa – diante do prédio do Departamento, em sinal de apoio à
gestão das hepatites no Brasil.
Fonte: Departamento de DST,
Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde
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