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domingo, 19 de agosto de 2018

Eu sou lobista


Confira relatos sobre como é trabalhar no ramo Combatendo a desconfiança
Graduado em administração de empresas e em direito, Luiz Henrique Bezerra, 40 anos, começou a atuar em RIG quando trabalhou na Confederação Nacional da Indústria (CNI). "Assumi a chefia do escritório da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) aqui em Brasília. Foi quando eu entrei definitivamente no ramo", rememora. Atualmente, ele trabalha na Volkswagen do Brasil e tem de monitorar tudo o que acontece no Congresso Nacional. "Sempre acompanho projetos de lei e políticas públicas governamentais que impactam diretamente a indústria automobilística", relata. "Precisamos contribuir para a construção desses projetos de lei que estão em tramitação e ajudar a melhorá-los, muitas vezes promovendo alterações junto ao Congresso ou ao Poder Executivo para ajustá-los à realidade do consumidor e da indústria brasileira", exemplifica.

Luiz Henrique diz que nunca sofreu nenhum tipo de preconceito direto por atuar como lobista, mas a discriminação velada existe. "Quando digo o que faço, as pessoas começam a olhar com certa desconfiança e ficam curiosas para saber como funciona meu trabalho", conta. Ele destaca que o reconhecimento do Ministério do Trabalho e Emprego é muito importante para desmitificar o lobby. Luiz Henrique acredita que uma regulamentação traria mais transparência e seriedade ao setor, facilitando o trabalho de quem atua no ramo de forma séria. "Queremos ser reconhecidos como profissionais sérios e que agem às claras. Quem faz coisa errada quer estar sempre escondido, por isso não temos problema em falar da nossa atividade", defende.

Compartilhando experiências
Paula Johns, 51, é socióloga e atua na área de relações institucionais e governamentais desde 2003. O interesse pelo ramo surgiu quando trabalhou com um tratado internacional de tabaco que, quando chegou ao Senado, havia ficado travado por causa de lobby oposto que articulava pela indústria do tabaco. "Foi assim que comecei a visitar senadores para levar informações sobre saúde pública. Então, um dos aprendizados foi enfrentar o adversário no espaço legislativo", lembra. Atualmente, ela é diretora-geral da ACT Promoção da Saúde, que foi fundada em 2006 com o nome de Aliança de Controle do Tabagismo. A instituição é voltada para políticas públicas de controle do tabagismo e prevenção de outros fatores de riscos de doenças crônicas. Entre os trabalhos desenvolvidos por Paula, está um curso de compartilhamento de experiências.

"Defendemos uma causa e, como atuamos na promoção de políticas públicas, desenvolvemos um conjunto de ações para que nossas ideias sejam implementadas", explica ela, que é mestre em desenvolvimento internacional. Paula fez um curso de relações governamentais no Insper. "As aulas ensinaram táticas, técnicas e estratégias para exercer a função de lobista", pontua. Para a socióloga, a discussão da regulamentação do lobby é importante, justamente para desconstruir essa aura de ilicitude que permeia o assunto. "Essa pauta se tornou mais uma defesa de uma categoria profissional do que uma questão de se aumentar os mecanismos de transparência do lobista" diz. De acordo com ela, ficou nítido que a categoria de sente mal em ser chamada de lobista, pois atribui-se a uma conotação negativa; por isso, passou-se a usar o termo relações institucionais e governamentais.

Atuando com transparência
O advogado Paulo Castelo Branco, 74, é especialista em mediação e conciliação e processo legislativo e trabalha como profissional de RIG desde 1980. "Nós levamos às autoridades os interesses dos nossos clientes para que o Congresso Nacional tivesse conhecimento e, assim, as leis pudessem ser bem elaboradas", lembra. Atualmente, ele continua advogando e exercendo a atividade de lobista. A contratação é caso a caso. "A pessoa me procura para eu avaliar se os interesses dela são compatíveis com a legalidade, com a Constituição Federal e também os princípios éticos que devem ser respeitados", explica. Apesar da má fama que escândalos de corrupção acabaram atribuindo ao lobby, o advogado diz que nunca sofreu nenhum tipo de preconceito por atuar na área. "Sempre desempenhei uma atividade bem conceituada, sou respeitado e honro os limites das relações institucionais e governamentais", afirma.

Correio Brasiliense


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