Desarranjo administrativo da
era Lula-Dilma levou ao desmonte dos sistemas de prevenção de doenças
Apesar da mobilização nacional
contra o sarampo e a poliomelite, no último sábado, quando mais de 36 mil
postos de saúde funcionaram em todo o país, os índices de cobertura vacinal
dessas doenças ainda permanecem longe da meta. Segundo o Ministério da
Saúde, a campanha atingiu, até segunda-feira, pouco mais da metade (51%) do
público-alvo, ou seja, 5,7 milhões do total de 11,2 milhões de crianças de um a
5 anos incompletos. O objetivo é imunizar 95% até 31 de agosto.
Entre os estados com pior
desempenho, está o Rio de Janeiro. De acordo com a Secretaria estadual
de Saúde, do público-alvo (812 mil crianças), foram vacinados até agora
33,39% contra o sarampo e 31,94% contra a pólio. Percentuais que colocam o Rio
na lanterna do ranking, abaixo do Pará (33,59% paia o sarampo e 33,6% para a
pólio, segundo o Ministério da Saúde). Na outra ponta, encontram-se
Rondônia (85% para a pólio e 83,45% para o sarampo) e Amapá (76,15% para a pólio
e 75,96% para o sarampo). Pelo menos dois estados - Amazonas e Roraima - já
enfrentam surtos de sarampo, doença que foi considerada erradicada das Américas
em 2016.
Esses resultados desfavoráveis
sugerem que autoridades federais, estaduais e municipais da saúde estão apenas
se dedicando a cumprir tabela, ou seja, a rotina prevista nos manuais que, em
última análise, significa oferecer as vacinas ao público e, eventualmente,
convocá-lo ao posto mais próximo. É óbvio que isso não tem sido suficiente para
motivar as pessoas. Os números estão aí.
O que não fica visível para o
público é a desorganização do aparato estatal que resultou nesse descalabro. A
vacinação em massa, periódica, é uma iniciativa louvável da rede pública e
antecede à existência do SUS. Começou em 1979 e, progressivamente, levou o país
a um padrão de prevenção sanitária invejável à maioria dos países. O que se
viu, a partir do governo Lula, foi um desarranjo na gestão do sistema público,
cujas causas estão em administração deficiente, disputas técnicas e suspeitas
sobre as compras de vacinas (HPV, por exemplo).
A esse quadro, somou-se, mais
recentemente, o ativismo político de militantes vinculados ao PT e partidos
satélites que, em posições estratégicas nas áreas de prevenção sanitária federal,
estaduais e municipais, contribuíram decisivamente para impasses na formulação
e execução das campanhas públicas de vacinação. E desse grupo o absurdo
discurso eleitoral de que o impeachment de Dilma fez o país regredir na
vacinação, na mortalidade infantil e "voltar ao mapa da fome".
A bagunça na saúde, iniciada
na era Lula, levou, sim, a uma desorganização do sistema e sinaliza que o país
pode de fato regredir na prevenção de doenças, na mortalidade infantil e na
manutenção dos níveis básicos de nutrição dos mais pobres. Isso, se mantidas as
condições da última década, quando o aparelhamento político e a letargia
administrativa contaminaram a gestão, as prioridades e os mecanismos estatais
para proteção da saúde dos brasileiros.
Editorial de O Globo
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