Em relação ao editorial de
ontem dia 22 de agosto publicado no Jornal O Globo, Temporão e Jose Agenor
enviaram carta, transcrita a abaixo, ao jornal:
Agressão irresponsável do
jornal O Globo ao programa de vacinação.
Em seu afã de procurar
culpados pelo atual surto de sarampo que afeta alguns estados, o jornal O Globo
em seu editorial de 22 de agosto sob o título “ Ativismo e má gestão prejudicam
vacinação no país”, ataca a credibilidade de um dos pilares da saúde pública
brasileira, o Programa Nacional de Imunizações. Causa espécie que, no momento
em que o grupo Globo faz uma campanha contra fake news, o jornal faça
exatamente o contrário produzindo de modo irresponsável uma grande Fake News
que ofende os milhares de profissionais que ao longo de décadas construíram
esse patrimônio da saúde brasileira.
Em seus 45 anos, o programa
vem de modo continuado acumulando êxitos e reconhecimento nacional e
internacional. Não se trata de obra de um governo, mas conquista histórica da
população brasileira, cuja gestão tem sido de continuidade até os dias de hoje.
Os autores do editorial desconhecem a complexidade de um programa dessa
natureza, a multiplicidade de investimentos e de processos de trabalho
envolvidos.
As vacinas e a vigilância em
saúde pública permitiram a erradicação da varíola e a interrupção da
transmissão da poliomielite. Há nove anos, o País está livre de casos de
rubéola e, há dois, teve reconhecida a eliminação do sarampo, que hoje volta a
nos ameaçar.
O sucesso de um programa de
vacinação pode ser medido pela população alcançada e pelas doenças prevenidas.
Nessas duas dimensões, o período de maior crescimento do PNI foi justamente
aquele em que Lula e Dilma estiveram na Presidência do Brasil, com incorporação
de novas vacinas e ampliação da parcela da população beneficiada.
As vacinas oferecidas na rede
de atenção básica, que eram 14, em 2002, passaram a 20, nas gestões Lula e
Dilma. Foram incorporadas, entre outras, aquelas que protegem contra a
meningite C, contra a diarreia causada pelo Rotavírus que evitou a morte de
1.800 crianças por ano no país, contra o pneumococos e a do papilomavírus, que
previne o câncer de colo de útero, produzida pelo Instituto Butantan, do
Governo do Estado de São Paulo, e sobre cujo processo de aquisição não paira
qualquer tipo de suspeita. E em 2010 foi realizada a vacinação contra a gripe
H1N1 com 88 milhões de pessoas protegidas.
No período, inúmeras
iniciativas aprimoraram a capacidade de gestão do programa, como o Projeto
Inovacina, iniciado em 2006, a implantação do monitoramento rápido de
coberturas vacinais, do “vacinômetro” e do novo sistema de informações, que
permitirá conhecer a situação vacinal das pessoas, e não somente o número de
doses aplicadas, como sempre se fez.
Nesses governos, começou a
construção da nova fábrica de vacinas de Bio-Manguinhos, inaugurada então na
gestão Temer, e investiu-se, por meio de parcerias entre laboratórios privados
e produtores públicos, na nacionalização de diversos produtos que eram importados,
propiciando economia, desenvolvimento tecnológico e assegurando estabilidade no
suprimento para o programa público nacional.
O programa, no entanto, passa
por ameaças. Em situações como a da inclusão da vacina contra a dengue pelo
Estado do Paraná, estado do então Ministro da Saúde, em 2016, o governo agiu
sem suficiente respaldo técnico e hoje essa vacina só é recomendada pela
Organização Mundial de Saúde – OMS para quem já teve infecção por dengue. Os
cortes orçamentários causados pela emenda constitucional 95 comprometem a
sustentabilidade da atenção básica e o trabalho das equipes de saúde da
família. Por mais que os sistemas de aquisição, suprimento e armazenamento de
imunobiológicos funcionem bem, são os profissionais desses serviços que acompanham
a situação vacinal das pessoas de suas áreas, convocam, visitam as casas e
efetivamente administram as vacinas, trabalho que está sendo prejudicado.
O Programa Nacional de
Imunizações brasileiro é uma obra coletiva, que envolve milhares de serviços e
profissionais das três esferas de governo, o apoio dos mais reconhecidos
especialistas do país, presentes no Comitê Técnico Assessor, o reconhecimento das
sociedades profissionais, dos Conselhos de Secretários Estaduais e Municipais
de Saúde e da Organização Mundial de Saúde. A política de vacinação é orgulho
da saúde pública brasileira a ser preservada e aperfeiçoada e não merece ser
atacada de modo leviano e sem base em qualquer evidência científica.
Assinam: José Gomes Temporão,
ex-ministro da saúde e Membro Titular da Academia Nacional de Medicina e José
Agenor Alvares da Silva, ex-ministro da saúde
Diário do Centro do Mundo
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