Grupo, que reúne 45 empresas,
defende remuneração que leve em consideração o resultado do atendimento e o
custo
Insatisfeitas com o preço, a
qualidade e o tipo de serviço oferecido pelos planos de saúde, 45 grandes
empresas nacionais estão unindo forças para pressionar as operadoras a
desenvolverem novos modelos de convênio. Reunidas pela Confederação Nacional da
Indústria (CNI), essas companhias querem mudar o atual formato, com pagamento
por serviço, por um modelo que leve em consideração a performance, ou seja, o
resultado do atendimento ao paciente e o custo. Além disso, pedem mais
transparência.
Os planos de saúde representam
entre 15% e 20% da folha de pagamento das indústrias, segundo a CNI. Pesquisas
da entidade feitas com funcionários apontam que o benefício é um dos principais
fatores que mantêm as pessoas no emprego. Por outro lado, de acordo com um
levantamento da GE no Brasil, uma das empresas membro do grupo, os empregados
dizem que a qualidade do serviço não é satisfatória.
A fórmula "preço alto de
um serviço que gera insatisfação" não é boa para essas empresas. Não à
toa, esse grupo, criado em 2016, saltou de oito membros para os atuais 45.
Entre as companhias estão, além da GE Brasil, Coca-Cola, Ambev, Odebrecht, CSN,
Embraer e Petrobras. O grupo já começou a se reunir com membros da Agência
Nacional de Saúde Suplementar (ANS) para tentar tirar os pleitos do
campo das ideias.
- Nossa agenda não é só para
redução de custos. Também pleiteamos mais transparência de dados e mais acesso
às informações de gastos para fazermos prevenção. Seria uma forma de conter a
inflação da saúde - explicou Pablo Cesário, gerente executivo de Gestão de
Defesa de Interesses da CNI.
Em julho, membros da diretoria
da ANS foram à CNI ouviras empresas. Amanhã, é a vez de as companhias irem à
sede da ANS.
- Neste grupo, identificamos
que todas as indústrias enfrentam o mesmo problema. As operadoras de saúde
trabalham apenas com "serviços de prateleira", que não atendem às
nossas necessidades - comentou Márcia Agosti, líder de gestão de saúde da GE
Brasil.
'É URGENTE DISCUTIR CUSTO'
Para ilustrar como a oferta
das operadoras é insatisfatória às corporações industriais, Márcia contou que,
há oito anos, a GE investe em um programa paralelo aos convênios médicos, para
dar suporte aos funcionários que trabalham em obras distantes de centros
urbanos, como na construção de hidrelétricas ou usinas eólicas.
- Mapeamos os hospitais que
podem atender os funcionários que estão atuando em áreas distantes e fizemos
uma parceria com uma empresa que faz o transporte da obra até o ponto de
atendimento contou, para completar: - Ao longo do tempo, a assistência médica
adotou cada vez mais um modelo de verticalização, que se aproxima dos grandes
centros e deixa um pouco de lado o atendimento dos usuários que estão
distantes.
A entrada das empresas na
discussão é uma sinalização que os tempos estão mudando, diz Solange Beatriz
Palheiro Mendes, presidente da FenaSaúde (Federação Nacional de Saúde
Suplementar), acrescentando que as alterações na remuneração já estão mostrando
resultado:
- Onde o modelo foi alterado,
a redução de custo é de 20% a 30%. Os resultados assistenciais estão sendo
avaliados.
Martha Oliveira, diretora
executiva da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), acredita que
não haverá no futuro um modelo hegemônico, como o atual, com pagamento por
serviço, mas uma combinação de várias possibilidades. A grande dificuldade, diz
ela, é chegar a um acordo sobre o que é qualidade em saúde e como medir o
desempenho de um tratamento:
- Precisamos combinar qual
será o valor importante nesse cenário. Hoje, a qualidade não é um valor, o
sistema privilegia a ineficiência.
Para Reinaldo Scheibe,
presidente da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), discutir
custos na saúde é urgente:
- Há um grande esforço para
mudar a forma de pagamento e de relacionamento entre operadores e prestadores
de serviços na cadeia de saúde. É urgente discutir custos. Está claro que não
há recurso para dar tudo para todo mundo, nem no setor privado nem no público.
A ANS garante que os tipos de
planos existentes hoje permitem às operadoras fazer segmentação de assistência
e cobertura, com a formatação de produtos "que atendam às diferentes
necessidades dos beneficiários e, ainda assim, capazes de preservar a sustentabilidade
das empresas no longo prazo". A ANS defende que a mudança do modelo de
remuneração seja feita não apenas para reduzir custos, mas a estimular a melhor
qualidade do atendimento e dos resultados.
Roberta Scrivano, Luciana
Casemiro e Glauce Cavalcanti, O Globo
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