O
IBGE publicou em dezembro a mais recente edição da Pesquisa Industrial de
Inovação Tecnológica (Pintec), que mostra o panorama das atividades realizadas
pelas empresas brasileiras. No cômputo geral, o cenário não pode ser
considerado positivo, especialmente em razão da ampliação do apoio público às
atividades.
Os
dados da pesquisa indicam que 36% das empresas brasileiras introduziram algum
tipo de inovação no período de 2012-2014, ante 35,7% na edição anterior, um
panorama que pode ser avaliado como estável no período.
Além
disso, os dispêndios empresariais em inovação chegaram a R$ 33,6 bilhões em
2014, equivalente a 0,61% do PIB brasileiro, sem um aumento expressivo em
relação aos levantamentos de 2011 e 2008, respectivamente 0,59% e 0,58%.
Um
movimento a ser destacado na pesquisa é a mudança na composição do investimento
em pesquisa e desenvolvimento (P&D) das empresas nacionais. Desde 2008,
elas estão reduzindo o volume de investimentos em P&D realizados
internamente e ampliando os projetos em parceria com institutos de pesquisa,
universidades ou outras empresas. Esse movimento precisa ser melhor
compreendido, mas parece indicar um cenário positivo: as relações de interação
entre universidades e empresas estão aumentando, ou seja, o conhecimento
científico e tecnológico gerado nas universidades está mais presente no
conteúdo de inovação das empresas.
Outro
destaque refere-se ao apoio público às atividades de inovação. No período
2012-2014, 17,3 mil empresas, o equivalente a 40% das inovadoras, declararam
ter recebido algum apoio do governo para suas atividades nesse sentido,
proporção maior que a observada no período 2009-2011 (34,2%).
Esse
apoio público, no entanto, acabou preponderantemente direcionado para a
aquisição de máquinas e equipamentos, item relevante para o cotidiano das
empresas, mas com menor potencial de geração de inovações disruptivas. Mais de
14 mil empresas (75% das que receberam apoio público) atuaram dessa forma.
Por
sua vez, ainda é baixo o volume de apoio público aos investimentos em P&D
interno das empresas. Apenas 14% desses investimentos são financiados com
recursos públicos (2009-2011 foi 11%). A maior parte desses dispêndios, cerca
de 84% do total, é financiada com recursos próprios das empresas.
O
Estado tem um papel central no fomento a ciência, tecnologia & inovação. Há
incontáveis casos internacionais bem-sucedidos, em que o fomento público foi
essencial para o desenvolvimento de novas tecnologias aplicadas a
telecomunicações, saúde, energia, agricultura e outras áreas prioritárias. O
Brasil segue a mesma trajetória, mas com muitas dificuldades e
descontinuidades.
As
medidas para o estímulo à inovação devem incluir o aprimoramento dos mecanismos
governamentais e o descontingenciamento dos recursos públicos que são
arrecadados para esse fim. Não há como estimular o investimento privado em
inovação sem que haja o aporte de recursos públicos que reduzam os riscos do
investidor, especialmente no caso dos projetos mais disruptivos, como aqueles
que são apoiados no mundo todo com subvenção econômica.
É
necessário fazer melhor uso dos nossos limitados recursos, para que a próxima
Pintec mostre resultados melhores. O desafio é imenso.
(Marcos
Cintra é presidente da Finep e vice-presidente da Fundação Getúlio Vargas)
(Fonte:
O Globo – 03/01/2016)
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