Um grupo internacional de
pesquisadores investigou a trajetória do vírus Zika desde a chegada ao Brasil
até ao momento que começou a se espalhar pelas Américas. A equipe fica a bordo
de um laboratório móvel e munido com uma tecnologia inovadora de sequenciamento
genético. A pesquisa faz parte projeto ZiBRA (Zika no Brasil Análise em Tempo
Real, na sigla em inglês). Os primeiros resultado foram divulgados na última semana, na revista Nature.
De acordo com os cientistas, o
objetivo do trabalho é monitorar a evolução do genoma viral, tanto para
entender o que ocorreu como para prever surtos futuros e manter os métodos
diagnósticos atualizados. Segundo a pesquisa, o Zika teria sido introduzido no
Nordeste brasileiro em fevereiro de 2014. Nesse ano, é provável que tenha
havido transmissão pela região, mas não acentuada.
“A combinação de dados
epidemiológicos e genéticos nos permitiu perceber que houve circulação
silenciosa do Zika em todas as regiões das Américas pelo menos um ano antes da
primeira confirmação do vírus, em maio de 2015”, disse Nuno Faria, pesquisador
do Departamento de Zoologia da Universidade de Oxford, no Reino Unido, e
primeiro autor do artigo.
A conclusão é que
provavelmente o grande surto aconteceu em 2015, simultaneamente ao de dengue.
Do Nordeste, o Zika teria se espalhado para a região Sudeste do Brasil, Rio de
Janeiro, inicialmente, e também para o Caribe e outros países da América do Sul
e Central, chegando à Flórida, nos Estados Unidos.
A pesquisa foi baseada na
análise de 254 genomas completos do patógeno, 54 dos quais sequenciados para
este estudo. A maior parte desses novos dados genéticos foi obtida com um
sequenciador portátil conhecido como MinION, da Oxford Nanopore Technologies,
que pesa menos de 100 gramas.
Os protocolos que permitiram
usar essa tecnologia no sequenciamento do Zika foram desenvolvidos no âmbito do
projeto ZiBRA e renderam um segundo artigo publicado na revista Nature
Protocols.
O projeto ZiBRA foi aprovado
em uma chamada de propostas lançada em conjunto pelas agências de fomento
britânicas Medical Research Council, Newton Fund e Wellcome Trust. Aos esforços
se uniram pesquisadores financiados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq), Fapesp, Fiocruz, Instituto Evandro Chagas,
Ministério da Saúde, USP, Universidade de Birmingham (Reino Unido) e
Universidade de Oxford.
Um laboratório móvel foi
montado em um ônibus, que visitou ao longo de 2016 os Laboratórios Centrais de
Saúde Pública (Lacen) do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas.
Além de Alcântara, Faria e Sabino, também coordenaram a iniciativa os
pesquisadores Nicholas Loman, da Escola de Biociências da Universidade de
Birmingham, Oliver Pybus, do Departamento de Zoologia da University of Oxford,
e Marcio Nunes, do Instituto Evandro Chagas do Pará.
Com o apoio de outros dois
laboratórios fixos na Fiocruz da Bahia, em Salvador, e no IMT-USP, em São
Paulo, também foram sequenciados e isolados da região Sudeste e do Tocantins.
Ainda no âmbito do projeto ZiBRA, foram analisados os genomas de quatro
isolados virais do México e cinco da Colômbia – todos sequenciados nos Estados
Unidos por colaboradores do grupo.
Além de auxiliar os Lacen no
diagnóstico de centenas de casos suspeitos ao longo de 2016, os pesquisadores
do ZiBRA também ensinaram as equipes que participaram ao longo da viagem a
fazer a vigilância genômica usando o sequenciador portátil MinION. A fase atual
do projeto conta com apoio do CNPq, da Organização Pan-Americana da Saúde
(OPAS) e do Ministério da Saúde.
Saiba mais sobre o projeto
ZiBRA neste link. www.zibraproject.org.
Fonte: (Agência ABIPTI, com
informações da Fapesp)
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