Microcefalia, distúrbios
neurológicos, auditivos e visuais, epilepsia e danos nos ossos e nas
articulações são algumas das características da Síndrome Congênita do Zika
(SCZ) descritas pela Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da
Saúde (OPAS/OMS). No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde,
aproximadamente 2.000 bebês foram confirmados com deficiências graves, como
resultado da Zika, desde o início da epidemia em 2015. Foi diante desse cenário
que a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em parceria com Centro Internacional de
Evidência em Deficiência (ICED), da London School of Hygiene & Tropical
Medicine (LSHTM), criou o projeto Auxiliando profissionais da saúde a prover os
cuidados necessários às famílias de crianças com síndrome congênita relacionada
ao Zika vírus no Brasil.
Aprovado pelo Fundo Newton,
por meio do edital institucional Links Zika Virus, o projeto busca desenvolver
cursos educacionais on-line de acesso aberto para capacitar profissionais de
saúde com intuito de ajudar a atender as necessidades de crianças com SCZ e
outras síndromes, bem como apoiar seus familiares. O trabalho é conduzido pelo
ICED, que é um centro de pesquisa com vasta experiência no desenvolvimento de
ferramentas de treinamento on-line e que investiga as necessidades de saúde de
pessoas com deficiência. Principal parceira do projeto no Brasil, a Fiocruz
está atuando com o auxílio dos profissionais de saúde e famílias afetadas pela
SCZ. Além disso, o projeto conta com a colaboração da Fundação de Ensino e
Pesquisa em Ciências da Saúde (Fepesc), que irá auxiliar na difusão das
ferramentas desenvolvidas e do Hospital Infantil de Brasília, que também vai
colaborar com o desenvolvimento das ferramentas de formação e participar
ativamente das oficinas que serão realizadas ao longo do projeto.
Segundo a coordenadora do
Programa de Educação, Cultura e Saúde (Pecs) da Fiocruz Brasília e coordenadora
projeto no Brasil, Luciana Sepúlveda, trata-se de um projeto agregador que
pretende buscar soluções e respostas para uma situação muito complexa. “O
projeto é ambicioso, na medida em que busca integrar no currículo da formação
permanente questões basilares da prática cotidiana vivenciadas pelos
profissionais. Estas questões vão além da divulgação das normativas e
protocolos do Ministério da Saúde, embora seja importante garantir que tais
informações sejam compreendidas pelos profissionais. Além disso, esta é uma
oportunidade de abertura de diálogo, compartilhamento e aprendizagem com a Dra.
Hanna Kupper e sua equipe, da London School of Hygiene and Tropical Medicine”,
avalia.
A pesquisa terá três etapas:
análise situacional; desenvolvimento do programa de treinamento; e avaliação da
viabilidade e aceitabilidade e finalização do programa. Durante a análise
situacional, serão realizadas entrevistas qualitativas em profundidade e
criação de grupos focais com famílias de bebês com SCZ, em Brasília. Também
serão feitas entrevistas com especialistas-chave do Brasil e de outros países
para identificar possíveis métodos de como os profissionais de saúde podem
apoiar ainda mais as necessidades de crianças com SCZ. Já no desenvolvimento do
programa de treinamento, os parceiros do ICED e do Brasil realizarão workshops
sobre os planos para o programa de treinamento e definição de conteúdo e
métodos de ensino. Na última etapa, o curso de formação será liberado e
divulgado amplamente e um questionário será distribuído para todos os
participantes do treinamento, a fim de avaliar o impacto da formação.
No momento, o plano de
trabalho do projeto encontra-se em fase de detalhamento e no final de maio está
prevista a primeira oficina local que contará com a participação da Fiocruz, do
Hospital da Criança de Brasília, da Fepecs, do Fundo de População das Nações
das Nações Unidas (UNFPA) e da Secretaria de Estado de Saúde do GDF, que irão
discutir sobre a etapa de análise situacional do projeto.
Luciana ressalta que, embora a
SCZ não representa, até o momento, uma emergência de saúde pública no DF, o
serviço de saúde precisa estar preparado para acolher e cuidar destes casos
quando ocorrerem. “Estamos acostumados a apagar incêndio, no entanto,
precisamos mudar esta cultura e nos prepararmos antes da emergência em saúde
pública acontecer. Assim, acredito que o curso vai contribuir para a melhoria
do atendimento das necessidades de famílias com crianças com problemas
sensoriais, motores e cognitivos, causados ou não pelo vírus Zika”, afirma.
Por: Fernanda Miranda (Fiocruz
Brasília)
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