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domingo, 28 de maio de 2017

Missão é reanimar setor produtivo brasileiro', diz novo presidente do BNDES

Economista Paulo Rabello de Castro assumirá os trabalhos na semana que vem; primeira ação deve ser uma reunião com os diretores da instituição

Idiana Tomazelli | O Estado de S.Paulo

Indicado hoje como novo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o economista Paulo Rabello de Castro afirmou em entrevista exclusiva ao Estado / Broadcast que sua principal missão à frente da instituição de fomento será "reanimar o setor produtivo brasileiro".

Rabello de Castro ainda teceu elogios ao trabalho de sua antecessora, Maria Silvia Bastos Marques, que comunicou hoje ao presidente Michel Temer sua saída da presidência do banco. "Vai ser difícil discordar da Maria Silvia em qualquer coisa que ela tenha feito, tamanha é minha admiração por ela", disse.

O novo presidente do BNDES se disse disposto a encarar "desafios espinhosos", como é o caso do crédito no Brasil. "Tenho a missão de reanimar o setor produtivo brasileiro, leia-se industrial principalmente. É uma missão dura, mas grandiosa", afirmou. Segundo Rabello de Castro, o setor industrial merece maior atenção uma vez que o setor agrícola "está bem cuidado por seu próprio desempenho e estímulo de preços".

O economista, que até hoje presidiu o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), lembrou que fundou e atuou até o ano passado como diretor-presidente da SR Rating, classificadora de risco, o que lhe confere experiência na área. "Mais rigoroso que eu num olhar sobre crédito, impossível", disse.

Nos últimos meses, Maria Silvia tornara-se alvo de críticas de empresários e de integrantes do próprio governo por ter "travado o crédito". A maior pressão, como mostrou o Broadcast, partia do ministro Moreira Franco, responsável pelo Programa de Parcerias de Investimento, que abrange concessões, privatizações e Parcerias Público-Privadas. Sem financiamento, o programa não deslancha.

"Nenhum banqueiro pode ser criticado por ser rigoroso. Se essa crítica pesava sobre Maria Silvia, ela está de parabéns", disse hoje Rabello de Castro.

O novo presidente do BNDES assume os trabalhos já na semana que vem, e a primeira ação deve ser uma reunião com os diretores da instituição. Rabello de Castro quer tomar pé de todos os projetos do banco, inclusive da criação da Taxa de Longo Prazo (TLP), que vai substituir a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP). A nova TLP seguirá o juro pago nos títulos do governo conhecidos como NTN-B, atrelados à inflação. Com isso, ela acabará sendo influenciada diretamente pela dinâmica da economia e pode acabar com uma das grandes distorções do mercado de crédito no Brasil hoje, a falta de coordenação com a taxa básica de juros, a Selic.

"Eu vou me inteirar quando chegar lá, mas de pronto vou dizer: vai ser difícil discordar da Maria Sílvia em qualquer coisa que ela tenha feito, tamanha é minha admiração por ela. Pode ter sido até fator determinante (para aceitar o convite), ela é profundamente confiável", disse o novo presidente do BNDES.

Rabello de Castro estava em uma sala de conferências do IBGE, no centro do Rioaguardando uma reunião virtual com representantes do Ministério do Planejamento para falar de novos projetos quando recebeu a ligação do presidente Michel Temer, pouco antes das 18h de hoje. Ele disse que "estranhou" a demora no início da reunião, e depois ficou sabendo que o ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, estava no Palácio do Planalto.

Rabello de Castro gravaria ainda uma mensagem de despedida para o público interno do IBGE, instituto que presidiu por quase um ano. "Sou ibegeano e serei sempre", disse

Novo presidente do BNDES é ligado ao DEM
Igor Gadelha | O Estado de S. Paulo

O novo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o economista Paulo Rabello de Castro, é filiado ao Partido Novo, mas é muito ligado ao DEM. Segundo democratas, Rabello costumava prestar serviços à legenda, como a elaboração de análises sobre economia. Ele é do O Instituto Millenium, entidade sem fins lucrativos e sem vinculação político-partidária com sede no Rio de Janeiro.

Parlamentares do DEM afirmam que Rabello teria admitido nas últimas semanas que estava “angustiado” na presidência do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cargo que ocupava desde junho de 2016. “Ele achava que não tinha mais o que fazer lá”, contou um cacique do partido.

O presidente nacional do DEM, senador José Agripino (RN), negou que Rabello seja indicado político da legenda. “Ele é simpatizante do nosso partido, um amigo há muito tempo. Eventualmente ele participava de eventos no partido”, disse o parlamentar potiguar.

O DEM tem a sétima maior bancada da Câmara, com 29 deputados, entre eles o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Como presidente da Câmara, caberá a Maia aceitar ou não os pedidos de impeachment do presidente Michel Temer.


Empresários pedem retomada de financiamento pelo BNDES
Restrição ao crédito subsidiado era uma das principais críticas do empresariado à condução de Maria Silvia no banco de fomento

- O Estado de S.Paulo

Empresários esperam que o novo presidente do BNDES, Paulo Rabello, retome projetos de financiamento, mas analistas defendem a limitação de recursos.

O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, diz, em nota, que “o novo presidente do BNDES não pode perder a oportunidade de executar com celeridade os projetos de financiamento para a indústria e para a infraestrutura.” Segundo ele, esses investimentos são essenciais para ajudar a retomada do crescimento da economia brasileira. “O Brasil não pode parar.”
Já o presidente da Abiquim (representa a indústria química), Fernando Figueiredo, espera que o novo executivo “ajude a reconduzir o banco ao seu papel histórico, de fomentar o desenvolvimento social”, papel que, para ele, Maria Silva não vinha cumprindo.

Frederico D’Ávila, presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), diz que o BNDES deve agir como instituição pública, que preserva o interesse público. “Como é acionista da JBS e contribuiu para a formação desse oligopsônio, o BNDES não pode deixar a situação ir por água abaixo, senão arrebenta com a cadeia inteira.”

O professor do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), Aloisio Araújo, porém, espera que o BNDES mantenha política mais rigorosa e promova um enxugamento. “Os empresários têm de saber que os recursos estão limitados”.

“A política da Maria Silva estava correta, em substituição ao que vinha sendo feito antes, com o excesso de subsídio a empresas eleitas”, diz Samuel Pessôa, do Ibre. O professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), Renato Fragelli, acredita que, ao reduzir o subsídio, ela “desagradou a burguesia nacional.”

Para José Luis Oreiro, economista da UnB, a saída de Maria Silva pode ser indicativo de que o chamado dream team, a equipe econômica de Michel Temer, pode estar se desfazendo. Ele lembra da pressão dentro do governo por parte de empresários para que flexibilizassem o crédito. “Talvez o aperto do BNDES tenha sido exagerado.”

Maria Silvia Bastos desmontou política do PT no BNDES
Nicola Pamplona | Folha de S. Paulo

RIO - Indicada para dar novo rumo a uma instituição que a oposição ao governo Dilma se acostumou a chamar de "caixa-preta", Maria Silvia Bastos Marques deu início a uma guinada estratégica no BNDES durante gestão de um ano.

Logo após assumir, suspendeu a liberação de US$ 4,7 bilhões a empresas investigadas pela Lava Jato, referentes a 25 contratos de financiamento à exportação de serviços, a maior parte para países das Américas do Sul e Central.

A decisão respondia à recomendação da AGU (Advocacia-Geral da União), mas também atendeu a críticas sobre o favorecimento das empreiteiras e de países alinhados com a política externa dos governos petistas.

A política para o segmento foi revista, e os contratos, reavaliados, considerando os impactos para o país e o risco do banco em cada projeto.

Marques defendeu um BNDES mais "seletivo" nos financiamentos e com um papel mais focado na coordenação do que na concessão de crédito para o novo programa de concessões elaborado pelo governo Temer.

Nesse sentido, reduziu os financiamentos reajustados pela TJLP (taxa de juros de longo prazo, mais baixa do que as cobradas pelo mercado), com o argumento de que é necessário atrair bancos privados para o crédito de longo prazo no país e liberar o dinheiro mais barato para projetos com viés de sustentabilidade ambiental e inovação.

O distanciamento com relação às políticas de seus antecessores se ampliou com a decisão de acabar com empréstimos-ponte concedidos a empresas enquanto o banco fazia a análise dos financiamentos de longo prazo e com a devolução antecipada de R$ 100 bilhões ao Tesouro.

As medidas geraram questionamentos sobre a capacidade do banco de continuar apoiando investimentos e críticas com relação a uma suposta redução no seu tamanho. "Não me preocupo com tamanho", já havia adiantado a executiva, em sua primeira entrevista à Folha ao assumir a função. Ela defendia que a marca de sua gestão seria a "eficácia" na concessão dos financiamentos.

A maior mudança foi promovida em março, quando o governo anunciou a substituição da TJLP (hoje em 7% ao ano) por uma nova taxa, chamada apenas de taxa de longo prazo (TLP) e com maior aderência aos juros cobrados pelo mercado nas negociações de títulos do Tesouro.

Nos últimos 15 dias, enfrentou sua maior crise, com a Operação Bullish e a delação dos donos da JBS, que acirrou um racha com os funcionários do banco.

Marques pregou serenidade e prometeu investigações, mas deixa o banco sem esclarecer as acusações sobre a "caixa-preta do BNDES" —em geral, mostrava-se desconfortável diante de perguntas e evitava menções à expressão.


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