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segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Falta de recursos para manutenção prejudica laboratórios de ponta

Na última quarta-feira, o Comitê do Nobel anunciou a concessão do prêmio de Química deste ano a três cientistas europeus por suas contribuições para o uso da microscopia eletrônica no estudo de biomoléculas. A escolha reflete uma tendência do prêmio de também reconhecer os avanços técnicos e metodológicos que estão permitindo diversas descobertas não só na bioquímica como na ciência de materiais. Apenas neste século, desenvolvimentos como estes também levaram o Nobel de Química em 2002, 2008, 2009 e 2014. E não é por menos, já que estes avanços foram fundamentais para as pesquisas que renderam praticamente todos os outros prêmios na área nos anos 2000.

Diante desta crescente importância da tecnologia nas pesquisas de ponta nos campos da biologia e novos materiais, o Brasil investiu pesado em infraestrutura para os estudos do universo microscópico nos últimos anos. Segundo Wanderley de Souza, diretor científico da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), só nos últimos dez anos a empresa pública, vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações (MCTIC) investiu R$ 3,2 bilhões no aparelhamento de laboratórios espalhados pelo país, incluindo a aquisição de sofisticados equipamentos que usam as técnicas de microscopia, ressonância magnética nuclear e cristalografia vencedoras do Nobel de Química deste e dos últimos anos.

- Em qualquer país que apoie efetivamente a ciência, uma das prioridades é ter uma infraestrutura condizente com a realidade das pesquisas de ponta no mundo, o que envolve equipamentos, treinamento de pessoal e manutenção, e o Brasil fez um grande investimento nisso - destaca.

Este dinheiro, no entanto, corre o risco de ser desperdiçado, pelo menos em parte, com os cortes nos orçamentos de ciência e tecnologia do governo federal. Exemplo disso é um dos mais avançados microscópios eletrônicos do Centro Nacional de Biologia Estrutural e Bioimagem (Cenabio), na UFRJ. Souza conta que, sem recursos para manutenção, o aparelho está parado.

- No momento, nossa grande prioridade não é nem comprar novos equipamentos, mas fazer com que os que temos funcionem e bem, recebendo melhorias como novas câmeras e detectores - diz Souza.

Cenário parecido enfrenta o vizinho Centro Nacional de Ressonância Magnética Nuclear Jiri Jonas, também parte do Cenabio. Lá, dois dos principais aparelhos estão funcionando com capacidade reduzida, também devido à falta de verbas para manutenção.

- A conta que se faz lá fora é de cerca de 20% do valor do equipamento em manutenção por ano - cita Jerson Lima Silva, diretor do laboratório e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Biologia Estrutural e Bioimagem (Inbeb), ao qual o Cenabio está vinculado. - Aqui, isso sempre ficou entre 10% e 5%, mas com menos que 5% não dá para mantê-los em funcionamento e arriscamos até perder os equipamentos.

Com isso, o avanço de diversas pesquisas está sendo prejudicado, incluindo as envolvendo o vírus da zika, relata Silva:

- A ciência não espera. É muito bom termos equipamentos para fazer experimentos de ponta aqui, mas precisamos de condições para isso também. Ou então vamos voltar para os anos 1990, quando vivíamos numa "ponte aérea" levando amostras para laboratórios nos EUA e na Europa. Isto é muito pouco prático, e sai caro também

Cesar Baima, O.Globo


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