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quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Operação na Farmácia de Alto Custos

Criada em 1993 para acelerar o tratamento de pacientes crônicos, da Farmácia de Alto Custo da capital federal passou a centralizar uma das áreas com mais problemas na Secretaria de Saúde. Denúncias de falta de estrutura, desabastecimento e falhas na aquisição dos remédios desencadearam uma investigação do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). Ontem, promotores constataram que há desperdício de medicamentos e armazenamento inadequado. Pela primeira vez, o serviço se tornou alvo de uma operação.

Os doentes sequer haviam começado a ser atendidos quando os promotores deflagraram a Operação Custo Alto, na Farmácia de Alto Custo da 102 Sul. Cerca de 30 mil pessoas dependem dos medicamentos distribuídos pelo local, sendo que 20 mil somente na unidade da Asa Sul. O Ministério Público só não interditou o local por não haver outro de mesmo porte para o atendimento. "Seria imprudente neste momento. O cidadão precisa dela", justifica o promotor de Defesa dos Direitos Difusos, Fábio Nascimento.

O promotor Luís Henrique Ishihara, da 4ª Promotoria de Justiça de Defesa de Saúde (Prosus), passou quase sete horas na Farmácia de Alto Custo. Ele investiga se houve negligência ou alguma falha na gestão. "Todos que são responsáveis pelo planejamento, pela compra e pelo armazenamento, além do secretário de Saúde, podem responder por improbidade administrativa", pondera.

Durante a fiscalização, os promotores encontraram medicamentos vencidos desde 2013. O Conselho Regional de Farmácia e a Diretoria de Vigilância Sanitária (Divisa) devem concluir relatórios que apontarão falhas técnicas, como o uso de geladeiras inadequadas para o armazenamento de medicamentos. "Queremos saber como esses medicamentos vencidos chegaram, se a Secretaria de Saúde recebeu perto do vencimento, se eles ficaram estocados até vencerem ou se não foram distribuídos para os pacientes", conclui Ishihara.

Em nota, a Secretaria de Saúde negou qualquer irregularidade. "Muitas vezes, para gerenciar eventual falta de medicamentos, são recebidas doações de outros estados com prazo de validade curta para atender a situações emergenciais", explica o texto. E conclui: "Os produtos estavam separados daqueles em boa condição e, consequentemente, não estão sendo dispensados aos pacientes."

A qualidade do serviço é criticada por quem depende da Farmácia de Alto Custo. A desempregada Edna Pereira da Costa, 46 anos, tem dor crônica e insuficiência renal. Ela mora em Unaí (MG), pega três horas de ônibus -- oferecido pela Prefeitura -- para chegar à 102 Sul, distante 164km de sua casa. Nem sempre consegue o remédio. "Agora, vou precisar olhar a data de validade sempre", disse, indignada. Ela emenda. "Não posso arcar com o valor desse remédio", lamenta.

Desabastecimento 
Atualmente, 30% dos medicamentos disponibilizados pela Farmácia de Alto Custo estão com o estoque zerado. De 200 drogas, 60 estão em falta. Somente o Ministério da Saúde gastou R$ 15 milhões com o custeio do serviço entre março de 2016 e deste ano. A Secretaria de Saúde estima que são necessários R$ 270 milhões para custear a compra de medicamentos em 2018.

A Secretaria de Saúde, no entanto, admite que os serviços estão aquém da necessidade. A pasta destaca que cerca de mil novos pacientes são registrados mensalmente. Ao todo, 30 mil pessoas dependem dos remédios distribuídos, sendo 18 mil somente na Estação 102 Sul do Metrô. "A inauguração da nova unidade do Gama é de caráter emergencial para a execução apropriada dos serviços", alega a secretaria, em nota. O projeto de ampliação da Farmácia de Alto Custo é de outubro de 2015.

Para Ishihara, a estrutura da Farmácia de Alto Custo não é boa para o atendimento. Ele deve cobrar da Secretaria de Saúde melhorias no setor.. "A procura é muito grande. Pelo que percebi, a estrutura é insuficiente e inadequada, e o sistema é burocrático. É preciso um lugar mais adequado para o atendimento e o armazenamento dos medicamentos para prestar um serviço de qualidade e eficiente", destaca.

» OTÁVIO AUGUSTO, LUCAS VIDIGAL
Especial para o Correio


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