Uma pesquisa inédita,
desenvolvida em parceria pela Fiocruz Pernambuco e o Centro de Tecnologias
Estratégicas do Nordeste (Cetene), utiliza um tipo de proteína, a lectina, para
melhorar a qualidade dos implantes ósseos ou dentários, tornando-os mais
eficientes em se integrarem ao organismo do paciente.
Nessa investigação, a lectina
utilizada foi extraída do soro do peixe Tilápia do Nilo (Oreochromis
nicolitus - Onil). Um tipo de proteína que tem afinidade pelo açúcar,
presente na superfície das células. Essa característica da lectina a faz atrair
as células para se depositarem na superfície do implante, favorecendo uma
melhor integração ao tecido ósseo. “A gente observou que a presença da lectina
no implante propicia uma colonização pelas células do paciente muito mais
rápida e uniforme”, explica a orientadora do projeto, a pesquisadora da Fiocruz
Pernambuco Regina Bressan. “Se elas são as primeiras a aderir no local, as
bactérias ficam sem espaço para se instalarem e dar início a um processo
infeccioso, um risco frequente nesse tipo de intervenção”. As infecções
associadas a implantes médicos costumam ser resistentes aos mecanismos do
sistema imune e difíceis de tratar com antibióticos.
Os implantes utilizados na
pesquisa foram produzidos com nanotubos (cilindros com proporções extremamente
reduzidas, nanométricas) de dióxido de titânio – um material utilizado para
substituir ossos e outros tecidos duros do corpo humano. Os nanotubos foram
sintetizados no Cetene por um processo que cria uma camada de óxido, que
protege a superfície do metal e produz microrrugosidades. Este processo é
chamado de anodização. Eles formam um arcabouço para que as células se
reconstruam na superfície de contato com a prótese, num formato muito
semelhante à estrutura original dos ossos. Isso favorece a osseointegração e
faz com que esse material seja muito utilizado atualmente em implantes.
O objetivo da pesquisa foi
modificar a superfície desses nanotubos, utilizando lectinas e nanopartículas
de prata, a fim de melhorar a biocompatibilidade e conferir propriedades
antimicrobianas. “Isso porque, embora o titânio tenha várias vantagens sobre
outros biomateriais, no longo prazo podem acontecer problemas de rejeição”,
explica a autora do trabalho, a biomédica Keicyanne dos Anjos, que desenvolveu
a pesquisa durante o mestrado em Biociências e Biotecnologia em Saúde na
Fiocruz Pernambuco.
As lectinas foram obtidas
graças a uma parceria com o Departamento de Bioquímica da Universidade Federal
de Pernambuco e foram aplicadas nos implantes no laboratório de Microbiologia
da Fiocruz Pernambuco. As amostras foram caracterizadas e avaliadas quanto à
sua toxicidade, adesão celular, potencial de formação de tecido ósseo e
atividade bactericida. Esse estudo foi realizado com células cultivadas em
laboratório, mas Keicyanne já iniciou um desdobramento dessa pesquisa, agora no
doutorado, que utilizará implantes em animais. Os parâmetros estão sendo
definidos, para incorporar novos materiais ao titânio e refazer a aplicação da
prata, com um método diferente, pois não foi observada melhora nem na
biocompatibilidade nem na inibição do crescimento de bactérias com o protocolo
anteriormente utilizado
Solange Argenta (Fiocruz
Pernambuco)
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