Imunologista brasileiro anunciado entre vencedores
do programa MacArthur Fellows, conhecido como a 'bolsa dos gênios' nos EUA, diz
que seria difícil conduzir sua pesquisa no Brasil
Gaúcho, o imunologista Gabriel Victora, de 40 anos,
se graduou em Música na Mannes College of Music, em Nova York, mas, após
retomar ao Brasil, mudou radicalmente de área. Fez mestrado em Biomédicas na
USP e concluiu doutorado em Medicina na Universidade de Nova York. Com passagem
pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), ocupa atualmente o posto
de professor assistente na Universidade Rockefeller, à frente do Laboratório de
Dinâmica de Linfócitos. Victora acaba de ser anunciado um dos 24 vencedores da
edição deste ano do programa MacArthur Fellows, conhecido como a "bolsa
dos gênios" que premia os escolhidos com US$ 625 mil, pagos em cinco anos.
Ao GLOBO, ele se mostrou preocupado com a ciência no Brasil.
O senhor imaginava ser escolhido?
Eu acho que ninguém imagina. O programa MacArthur é
um pouco aleatório, não é como o Nobel, que reconhece alguma contribuição
específica para a ciência. Escolhem pessoas que acreditam ter criatividade e
potencial para fazer mais.
E como o senhor foi avisado que seria um dos
selecionados?
É o famoso telefonema anônimo de Chicago que todos
querem receber. Eles me ligaram e perguntaram se eu poderia falar em segredo.
Então, me informaram que fui um dos escolhidos. Foi meio estranho, mas uma boa
surpresa.
Pode explicar sua pesquisa?
Quando o organismo entra em contato com uma
substância estranha, seja uma vacina, um patógeno ou um alérgeno, uma resposta
imune é gerada. No início, os anticorpos não são potentes, mas vão se
fortalecendo com o tempo. O que nós estudamos é essa evolução dos anticorpos, o
processo que leva a uma melhoria da potência das defesas do organismo.
E quais seriam as aplicações práticas dessas
pesquisas? O senhor já sabe como aplicará a bolsa?
A principal aplicação é com as vacinas. Nós temos
vacinas muito boas contra vários patógenos, como o sarampo e a febre
amarela, mas para algumas doenças a gente ainda não possui vacinas, como o
HIV e a malária. Sobre a bolsa, ainda não deu tempo para pensar. Eu vou começar
em janeiro. Tenho tempo.
Você tem acompanhado a situação da ciência no
Brasil?
Sim. É uma pena o que está acontecendo. O campo
científico estava indo tão bem, aí acontecem esses cortes no orçamento. É muito
difícil fazer pesquisa sem ter a certeza de financiamento estável. Acho que o
pessoal no Brasil está sofrendo com isso.
Você pretende voltar ao Brasil?
O principal problema é a tecnologia. Não poderia
fazer minhas pesquisas aí. Talvez no futuro. O país tem profissionais de
qualidade, muito criativos. O que dificulta é a falta de financiamento e acesso
a tecnologias. Sem ciência básica, a gente não consegue progredir.
O Globo, Sérgio Matsuura
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