As vinte associações de
pacientes da ALIANÇA INDEPENDENTE DOS GRUPOS DE APOIO – AIGA vem publicamente
colocar suas considerações e preocupações em relação ao provável retrocesso que
poderá acontecer no Plano de Eliminação das Hepatites conforme alertamos em 16
de julho e, consequentemente teve enérgico posicionamento das sociedades
médicas, todas solicitando a convocação extraordinária do Comitê Técnico
Assessor das Hepatites para discutir o assunto antes de qualquer decisão tomada
em “petit comitê” e, assim, terem a oportunidade de cientificamente apresentar
opções de tratamento no protocolo que atendam pacientes e profissionais da
saúde, solicitação rapidamente atendida pelo Departamento e marcada para o
próximo dia 9 de agosto.
Seguem colocações e pontos
esclarecedores, necessários para que todos compreenderem a situação e os
problemas que uma decisão precipitada podem provocar, prejudicando os
infectados e o sistema público de saúde.
Carlos Varaldo
Presidente da AIGA
Presidente da AIGA
___________________________________________________
Existindo um Comitê Assessor de
Hepatites, não podemos aceitar que uma pequena reunião em “petit
comitê” mude totalmente as opções de tratamentos, opções essas discutidas
previamente pelo Comitê. O Comitê deve ser respeitado e a proposta do dia 11 de
julho, querendo tratar os 50.000 pacientes com sofosbuvir/daclatasvir genérico
não pode ser aceita sem uma ampla discussão do Comitê. Até o dia 5 de julho o
Departamento apresentava em eventos o Plano de Eliminação das Hepatites
conhecido de todos, com os novos DAA pangenótipos, mas no dia 11 apresentam a
ideia de querer tratar todos com um sofosbuvir genérico e o daclatasvir da BMS.
Impossível acreditar que essa mudança aconteceu em seis dias, devendo estar sendo
estudada há muito tempo.
Ninguém pode ser contra um
medicamento genérico aprovado pela Anvisa e mais ainda se realmente a sua
introdução representa uma economia considerável para o ministério.
– O que deve ser avaliado se é
uma boa opção não incorporar os quatro, ou alguns dos medicamentos recentemente
aprovados na ANVISA, Zepatier e Harvoni, já constantes no PCDT de março e
Maviret e Epclusa, aprovados recentemente e que fazem parte do Plano de
Eliminação da Hepatite e do rascunho de PCDT do Comitê de Hepatites.
– Deve se discutir se será
possível erradicar a hepatite C tratando todos os infectados com
sofosbuvir/daclatasvir? Certamente se assim for enfrentaremos alguns
inconvenientes:
– Como fica a
interiorização do tratamento? Continuaremos a realizar uma maior
quantidade de exames enviados pelo correio, um maior número de consultas ou,
ficaremos somente tratando com especialistas nas grandes cidades.
– A RVS do
sofosbuvir/daclatasvir em diversos estudos com grande número de pacientes e em vida
real ficou entre 90 e 93% e, abaixo de 90% nos cirróticos. Quais opções de
retratamento serão oferecidas.
– O sofosbuvir genérico
apresentado ainda não teve nenhum lote industrial fabricado no Brasil e nenhum
ensaio clínico realizado. Não seria prudente por parte do ministério
querer tratar TODOS os infectados com essa nova opção sem conhecer a RVS, os
efeitos adversos e interações medicamentosas, coisas que somente são avaliadas
na vida real e não numa bioequivalência. A ANVISA mantem em sigilo o processo
de registro do sofosbuvir genérico. Fica a dúvida é fabricado no Brasil ou
importado da Índia?
– Se o preço do
sofosbuvir/daclatasvir genérico for realmente melhor deveríamos inicialmente
propor comprar 10 ou 15% e, os pacientes tratados poderem ser acompanhados pelo
ministério e as sociedades médicas, quando saberemos a segurança, a RVS, os
efeitos adversos e interações medicamentosas.
– Ainda, adquirir 50.000
tratamentos não significa tratar 50.000 pacientes como consta do Plano de
Eliminação. Cirróticos e populações especiais necessitam de 24 semanas com
sofosbuvir/daclatasvir. Entre os novos diagnosticados um terço apresentam
cirrose. Então comprando 50.000 pouco mais de 40.000 infectados serão tratados
e, desses entre 7 e 10% não responderão ao tratamento. Qual o custo real para o
SUS por paciente curado?
A tabela a seguir mostra os
últimos preços ofertados e sobre os mesmos existem algumas interessantes
observações.
Propostas –
Quantitativos – preços por comprimido
Medicamento
|
50.000
|
48.000
|
40.000
|
10.000
|
2.000
|
sofosbuvir (Gilead)
|
USD 34,32
|
–
|
–
|
USD 50,00
|
USD 64,28
|
sofosbuvir (Farmanguinhos)
|
USD 8,50
|
–
|
–
|
USD 25,97
|
USD 42,85
|
daclatasvir 60mg
|
USD 7,35
|
–
|
–
|
USD 15,00
|
USD 23,28
|
sofosbuvir/velpatasvir
|
USD 23,91
|
–
|
–
|
USD 23,81
|
USD 82,14
|
glecaprevir/pirentasvir
|
–
|
USD 40,55
|
–
|
USD 50,00
|
–
|
elbasvir/grazoprevir
|
–
|
–
|
USD 12,18
|
–
|
–
|
Observações:
– Marcados na tabela em
vermelho, o preço do sofosbuvir/daclatasvir é USD 15,85 (USD 1.331,40 por
tratamento) um valor superior ao elbasvir/grazoprevir, de USD 12,18
(USD 1.023,12 por tratamento), uma opção possível para a maioria dos infectados
com o genótipo 1.
– Marcados na tabela em azul, m
10.000 tratamentos o preço do sofosbuvir/daclatasvir é USD 40,97 (USD
3.441,48 por tratamento) é um valor superior ao sofosbuvir/velpatasvir,
de USD 23,81 (USD 2.004,04 por tratamento) uma opção que deve ser
considerada.
– Em praticamente todos os
cenários o sofosbuvir/daclatasvir genérico é mais caro que os de marca
comercial. Comprar genérico ao preço ofertado, muito acima da média mundial,
colocará o Brasil em situação risível, sairíamos de ser exemplo para a OMS por
ter o tratamento com medicamentos de marca mais barato do mundo para passarmos
a ter o tratamento com genéricos mais caro do mundo. Seremos motivos de piadas.
– Não foi solicitada na
Memória de Cálculo cotação para sofosbuvir/ledipasvir (Harvoni), constante do
PCDT aprovado em março. Porque?
Na Memória de Cálculo utilizada
para a tomada de preços somente sofosbuvir/daclatasvir e sofosbuvir/velpatasvir
estavam de forma única, todos os outros medicamentos se encontravam em
combinações com quantitativos diferentes, não permitindo uma igualdade de
condições entre os fabricantes.
Os consensos internacionais
publicados em julho falam em simplificar o tratamento e a logística como única
estratégia para poder eliminar a hepatite C até o ano de 2030, todos eles
recomendam os pangenotípos, a recomendação da OMS encontrada em http://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/273174/9789241550345-eng.pdf?ua=1 e
a da “Clinical Care Options” combinando AASLD e EASL, encontradas em http://www.aigabrasil.org/otimismo/CCO_2018AU_plenary1_slides.pptx
Menor preço não significa
indicação de tratamentos constantes no PCDT por parte dos profissionais da
saúde, Exemplo o Viekira que não consegue indicações e está vencendo no
estoque.
Ainda, temos Zepatier, Harvoni,
Maviret e Epclusa aprovados pela Anvisa, os médicos. conforme os consensos
das sociedades médicas poderão prescrever o melhor para seu paciente, aquele mais
indicado, e o paciente recorrera ao judiciário voltando a época de
judicialização, aumentando a despesa na saúde.
Se o problema for o preço, o
qual não parece ser de acordo com as propostas da tabela acima colocada, então
temos que nos unir para que os fabricantes colaborem. Devemos seguir o mesmo
caminho quando conseguimos desconto de 85% para introduzir o sofosbuvir, o
daclatasvir e o simeprevir. Sendo necessário repactuar com os laboratórios
devemos ser parceiros na educação médica continuada.
Em função das decisões do Comitê
Técnico na reunião do dia 9, obrigatoriamente, em nome da transparência,
deveria ter uma nova rodada para tomada de preços, com uma nova memória de
cálculo que outorgue iguais possibilidades de competição a todos os ofertantes.
Certamente novas reduções de preços serão ofertadas.
ALIANÇA INDEPENDENTE DOS GRUPOS
DE APOIO – AIGA
Aliança Brasileira pelos Direitos Humanos e o Controle Social nas Hepatites
ONG Registro n° 055986/2009 – Tel.: (21) 3083-6271
Internet: www.aigabrasil.org e-mail: aiga@aigabrasil.org
Aliança Brasileira pelos Direitos Humanos e o Controle Social nas Hepatites
ONG Registro n° 055986/2009 – Tel.: (21) 3083-6271
Internet: www.aigabrasil.org e-mail: aiga@aigabrasil.org
Carlos Varaldo
www.hepato.com
hepato@hepato.com
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