Entre 2015 e 2016, o Brasil e vários países do
continente americano vivenciaram a emergência de epidemias causadas pelo vírus
zika, com grande repercussão mundial por causa da ocorrência de malformações
congênitas em crianças cujas mães se infectaram durante a gestação. Desde
então, um dos principais desafios para o enfrentamento da zika tem sido a
dificuldade para o diagnóstico laboratorial correto das infecções causadas pelo
vírus. Isso porque o vírus da zika apresenta similaridade com outros vírus da mesma
família, os chamados “flavivirus”, o que muitas vezes impede uma acurada
distinção das infecções causadas por eles.
Por isso, estudiosos do Brasil, Estados Unidos e
Argentina avaliaram a capacidade de dois testes sorológicos, comercialmente
disponíveis e aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)
para uso no Brasil, em identificar infecções causadas pelo zika. Os testes
avaliados foram o IgM-Elisa, que é indicado para detectar uma infecção pelo
vírus zika ocorrida recentemente, e o IgG-Elisa que é usado para verificar se a
pessoa testada já foi infectada pelo vírus zika em qualquer momento durante a
vida. Ambos os testes são produzidos pela Euroimmun.
Os resultados dessa investigação foram divulgados
no artigo científico Diagnostic performance of commercial IgM and IgG
enzyme-linked immunoassays (Elisas) for diagnosis of Zika virus infection,
publicado no Virology Journal. O estudo, coordenado pelo
pesquisador da Fiocruz Bahia, Guilherme Ribeiro, avaliou a performance dos
testes sorológicos em amostras de soros de pacientes que tinham o diagnóstico
de zika confirmado previamente por um teste molecular e também em amostras de
pessoas que não tinham infecção pelo vírus (pacientes com confirmação do
diagnóstico de dengue e doadores de sangue).
Os pesquisadores concluíram que o teste IgM-Elisa
apresentava alta especificidade, ou seja, apresentava corretamente resultados
negativos em amostras de soro de pacientes que não tinham zika, mas pouca
sensibilidade, o que significa que não conseguiam identificar a infecção nas
amostras de pacientes que tinham o diagnóstico de zika confirmado pelo teste
molecular de referência. Em comparação, embora o teste IgG-Elisa tenha
apresentado uma boa capacidade de identificar corretamente aqueles que já
tiveram uma infecção pelo vírus zika, ele mostrou baixa especificidade,
particularmente para pacientes previamente expostos a infecções por dengue, o
que significa que o teste apresentava um resultado falsamente positivo em
pacientes que não tiveram zika, mas tiveram dengue.
Estes resultados sugerem que o teste IgM-Elisa para
zika não é útil para confirmar um diagnóstico de zika em pacientes que são
suspeitos da doença, enquanto que o teste IgG-Elisa é mais adequado para o
diagnóstico de zika entre viajantes, que residem em áreas livres de transmissão
de flavivirus e nunca foram infectados pelo vírus da dengue, mas que teria
pouca utilidade em localidades onde o vírus da dengue é endêmico como no
Brasil.
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