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segunda-feira, 26 de setembro de 2022

30 anos de SUS. Viva o SUS que funciona

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Para Regina Esteves e Januario Montone, a pandemia mostrou a força e a importância do SUS, mesmo para aqueles que não percebiam sua presença na segurança dos alimentos e medicamentos que consome

Regina Estevesadministradora de empresas e diretora-presidente da Comunitas – Parcerias para o Desenvolvimento Solidário

Januario Montoneex-diretor presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e ex-secretário municipal de Saúde da cidade de São Paulo

Edição: Scriptum

Fruto das lutas pela redemocratização, o direito à saúde foi uma das maiores conquistas da Constituição de 1988 e resultou na criação do SUS (Sistema Único de Saúde) há exatos 30 anos, através da Lei Orgânica da Saúde – lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990.

O sistema público era federal, a cargo do Ministério da Previdência e Assistência Social através do INAMPS, que só em março de 1990 foi transferido para o Ministério da Saúde, que então cuidava apenas da chamada saúde coletiva, vacinação e combate a endemias, como a dengue. Hospitais e outros equipamentos eram, em sua maioria, federais ou privados, filantrópicos ou não, prestadores de serviço. Havia ainda uma tímida participação de Estados e municípios através dos mecanismos de incentivo das Ações Integradas de Saúde.

A Lei nº 8080/90 definiu a organização, financiamento e funcionamento do SUS integrando as três esferas de governo e iniciou o processo de descentralização dos equipamentos de saúde.

É preciso parar e refletir na complexidade desse processo que envolvia a estrutura federal, 26 Estados, o Distrito Federal e quase 4.500 municípios, para entender a dimensão do sucesso do SUS. Como um sistema subfinanciado que triplicou a clientela, pois antes só atendia os trabalhadores urbanos, foi capaz de reduzir a mortalidade infantil, que era de 47,1 óbitos por mil nascidos vivos, em 1990, para 12,4 em 2021?

Na pandemia da Covid-19, o SUS mostrou sua força, suas fragilidades e apontou para o futuro com a saúde digital.

A partir dos avanços da ciência em entender o vírus e as melhores maneiras de enfrentá-lo, na prevenção e no manejo dos milhões de infectados, o SUS foi capaz de se reinventar, se reorganizar, alinhando os equipamentos de saúde às exigências de isolamento e atendimento ágil e diferenciado, à abertura de milhares de novos leitos clínicos e de UTI e depois na incomparável capacidade de vacinação da população, assim que tivemos a disponibilidade delas. Chegamos a quase 700 mil mortes. Imaginem a quantos mortos chegaríamos sem o SUS!

O relativo sucesso no enfrentamento foi possível porque houve (i) financiamento, (ii) ação dos gestores, estaduais e municipais principalmente, (iii) parceria com as organizações sociais, (iv) parceria com a iniciativa privada, (v) a saúde digital enfim chegou e (vi) o engajamento da imprensa e de boa parte da sociedade.

Através de suas entidades (CONASS e CONASEMS) os gestores estaduais e municipais supriram parte da falta de coordenação federal.

As organizações sociais foram em grande parte responsáveis pela rápida reorganização dos hospitais, instalação de novos leitos clínicos e de UTI, recrutamento do pessoal necessário ao atendimento de Norte a Sul do País. As parcerias são as grandes viabilizadoras do empreendedorismo no setor público, implementando políticas públicas com regras mais flexíveis do setor privado.

A inciativa privada se mobilizou a ponto de financiar duas novas plantas de produção de vacinas, no Butantã e na Fiocruz.

A ação disruptiva da saúde digital nos permitiu desde a agilização do primeiro atendimento com as teleconsultas até o apoio de intensivistas experientes a profissionais recrutados às pressas em todo o País para atender os milhares de novos leitos de UTI e o rastreamento para vacinação.

A pandemia mostrou a força e a importância do SUS mesmo para aquela parcela da população que não percebia sua presença na segurança dos alimentos e medicamentos que consome, na qualidade da água, na vacinação e no combate a endemias. Também mostrou à população SUS Dependente que um outro SUS é possível, mais ágil, mais presente, sem filas de espera de meses, com consultas ao alcance de um celular.

Certamente esse duplo reconhecimento do SUS vai gerar frutos, vai exigir a manutenção daqueles pressupostos que ajudaram a enfrentar a pandemia: financiamento adequado, parceria público-privada, inovação tecnológica e mobilização social.

Viva o SUS!! Viva o SUS que funciona!!

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