Risco genético é
diferente de doença genética
Que duas pessoas com a mesma mutação
genética indutora de uma doença não ficam doentes com a mesma gravidade é algo
que se sabe há décadas - algumas podem nunca ficar doentes.
O aparecimento e a gravidade das
doenças genéticas podem variar amplamente.
Por exemplo, pessoas que carregam
mutações em um gene chamado CFTR eventualmente vão desenvolver fibrose
cística, uma doença pulmonar que causa o acúmulo de muco no pulmão, tornando a
respiração difícil e levando a infecções potencialmente fatais.
Mas, enquanto alguns pacientes são
diagnosticados logo ao nascer, outros não mostram quaisquer sinais da doença
até a idade adulta.
Isso tem impedido que a identificação
de "risco genético" que uma pessoa tenha de desenvolver uma doença
seja acompanhada de um prognóstico sobre o desenvolvimento - se e quando a
doença irá se manifestar - e sobre a severidade da doença.
Como a fibrose cística varia na idade
de manifestação, ela está servindo como um modelo ideal para que os
pesquisadores tentem desvendar quando uma mutação genética irá resultar em
doença, grave ou não, ou mesmo não levar à manifestação da doença.
"No momento, apenas podemos
dizer que alguém vai ter uma doença genética, mas não conseguimos dizer o quão
ruim isso pode ser. É um pouco como dizer a alguém que ele vai ter um acidente
de carro, mas não saber se será um arranhar de pára-choques ou um acidente
grave," explica o professor Andy Fraser, da Universidade de Toronto
(Canadá).
Controle da
produção de proteínas
A boa notícia é que a equipe de
Fraser descobriu uma "peça fundamental" que pode ajudar a explicar o
que torna cada paciente diferente, fazendo-o reagir à mutação genética à sua
própria maneira.
"Nós mostramos como o panorama
genético de fundo - ou seja, o conjunto único de letras de DNA presentes no
genoma de qualquer pessoa - influencia a gravidade de qualquer doença
genética," disse Fraser.
As mutações genéticas causadoras de
doenças atacam principalmente a função de um gene. Elas alteram a ordem das
letras do DNA de modo que o produto de um gene - uma proteína - acabe sendo
incapaz de fazer o seu trabalho em uma célula.
O fundo genético individual
influencia quantas proteínas devem ser produzidas, ajustando delicadamente os
genes, como se fosse um controle de volume de um aparelho eletrônico. Isto
significa que cada pessoa acaba tendo sua própria quantidade de milhares de
proteínas diferentes.
Nível das proteínas
Assim, se uma pessoa tem uma mutação
associada a uma doença, será a proteína defeituosa resultante do gene que
levará ao desenvolvimento da doença.
Mas é só quando o nível daquela
proteína defeituosa específica fica abaixo de um valor limite que as coisas
começam a piorar, com o efeito da mutação genética apresentando-se mais grave.
Se o nível da proteína não cair abaixo desse limite, a doença pode nem mesmo se
manifestar.
Isto vem dar sustentação a outra
descoberta recente, que mostrou que o câncer não necessariamente tem origem
genética - ele pode se originar de variações nos níveis das proteínas
geradas por outras causas.
"Agora, pela primeira vez,
podemos começar a prever a gravidade da doença para cada pessoa afetada medindo a sua
atividade genética pessoal, que é única," disse o professor Fraser.
"Esperamos que isso possa levar ao desenvolvimento de novas terapias que
visem diminuir a severidade de doenças genéticas, uma nova maneira de lidar com
essas condições que colocam a vida em risco."
Diário da Saúde
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