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sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Possível contingenciamento em 2016 já preocupa atores ligados ao setor de CT&I

Foto: Pedro França/Agência Senado
Audiência pública na CCT do Senado debateu impactos conjunturais e estruturais dos cortes orçamentários de 2015 para a área de CT&I

A situação econômica é tema recorrente nos debates acerca do futuro do País. Neste ano, foram necessárias adequações orçamentárias para tentar sanar os problemas fiscais e ainda estão previstos prejuízos das contas públicas para os próximos três anos. Desta maneira, todas as áreas são afetadas pelos cortes, inclusive a de ciência, tecnologia e inovação (CT&I).

Apenas em 2015, houve um corte de 30% no orçamento destinado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o que corresponde a um valor superior a R$ 2 bilhões. Para o próximo ano, a preocupação é latente quanto à capacidade de fomento a CT&I, como foi evidenciado em audiência pública na Comissão de Ciência e Tecnologia (CCT) do Senado Federal, nesta terça-feira (1°).

As estimativas apontam a necessidade de R$ 30 bilhões do orçamento governamental para o próximo ano. O temor é que a tesoura atinja programas de fomento e de financiamento de pesquisas e de bolsas de estudo, por exemplo. A súplica é para que as despesas com CT&I não entrem no “rateio” do contingenciamento, sob pena de comprometer o próprio futuro brasileiro.

“O Congresso Nacional tem que ter atenção especial com o orçamento para CT&I em 2016. Sem recursos, de forma continuada, não teremos condições de fazer o país que nós precisamos nas próximas décadas”, alertou o decano de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade de Brasília (UnB), Jaime Martins de Santana.

O ministério, por sua vez, vem fazendo o que pode para contornar a crise financeira. Segundo a secretária-executiva da pasta, Emília Maria Ribeiro, o MCTI contingenciou o que era possível e priorizou programas em andamento, em detrimento a novos projetos, como Plataformas do Conhecimento. Ainda assim, a dirigente reconhece que é preciso fazer mais para dar condições de desenvolver CT&I no Brasil.

“Tentamos impactar o mínimo possível os cortes nas áreas de pesquisa. Estamos cumprindo os programas que já estavam abertos. Mas os recursos nunca são suficientes, porque a carência nesse setor é enorme no País”, afirmou.

Uma das ideias sugeridas é que o dinheiro destinado a CT&I não pudesse ser contingenciado. Para tanto, seria colocada uma cláusula na Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2016 que garantisse este dispositivo. A medida, porém, foi anteriormente rejeitada pelo relator da peça orçamentária na Comissão Mista de Orçamento (CMO), deputado Ricardo Teobaldo (PTB-PE). Ainda assim, parlamentares e representantes do MCTI tentam negociar para que o item seja inserido no texto da LDO.

Sem previsão

Um dos principais instrumentos de fomento à pesquisa no Brasil é a Chamada Universal do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Por meio dela, cientistas de todas as áreas do conhecimento obtém financiamento para seus estudos. O pagamento dos valores referentes ao edital de 2014, porém, ainda não foi completamente efetuado pela instituição. Assim, o MCTI optou por não abrir a chamada neste ano. Segundo Emília Maria Ribeiro, a medida foi tomada para garantir que os débitos em aberto sejam sanados e evitar novas dívidas com os pesquisadores. “Não dá para criar expectativas e, depois, não cumprir”, frisou a secretária-executiva da pasta.

Uma das medidas adotadas pelo ministro Aldo é obter um empréstimo junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), no valor de R$ 2,5 bilhões. O montante seria utilizado ao longo de seis anos para recompor as perdas do MCTI e garantir o fomento a atividades de CT&I e de P&D, além de garantir verbas para financiar o programa de institutos nacionais de ciência e tecnologia (INCTs).
Ao todo, são 125 institutos, que necessitam de R$ 641,7 milhões para serem devidamente instalados. As instalações serão bancadas por uma junção de investimentos de diferentes órgãos. Do total, R$ 300 milhões serão divididos igualmente entre o CNPq, a Capes e o MCTI, por meio do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). Os R$ 341,7 milhões restantes serão investidos pelas fundações de amparo à pesquisa (FAPs) dos estados.

Dificuldades

Os cortes afetam também as universidades, especialmente os programas de pós-graduação. Um dos exemplos é a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que teve um corte de 75% da verba destinada pela Coordenação de Apoio ao Pessoal de Nível Superior (Capes) a este tipo de atividade. Segundo o pró-reitor substituto da instituição, Henrique Luiz Cuikerman, o cenário é complicado e pode impactar negativamente na formação de recursos humanos.

“Não há inventividade que possa contornar esses cortes. Como fazer para atingir o padrão de excelência acadêmica da Capes? A situação é muito difícil. Peço aqui que se reforce o repasse de recursos para as universidades e a pesquisa no orçamento de 2016”, reforçou Cuikerman.

Código

Tratado como fundamental para dar novo estímulo às atividades de CT&I, o Projeto de Lei da Câmara (PLC) 77/2015 tramita em três comissões da Casa e há o temor da classe científica de que o processo legislativo não acompanhe a celeridade pedida pelos profissionais da área. Entre os senadores há a mesma preocupação. Porém, há movimentos para garantir uma rápida tramitação da matéria.
O presidente da CCT, senador Cristovam Buarque (PDT-DF), está articulando um movimento para fazer a tramitação conjunta da matéria na CCT, na CMA, na CAE, além da CCJ. O passo seguinte, de acordo com o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), será a entrada com um requerimento de urgência para votar o PLC 77 no Plenário.

“O senador Cristovam está trabalhando nisso. Há muita burocracia e isso atrapalha o processo legislativo. É importante darmos celeridade a esse tema”, destacou o parlamentar.

Não deve parar por aí

Além do PLS 77, novas alterações legislativas devem ser encaminhadas ao Congresso Nacional nos próximos meses. Emília Maria Ribeiro divulgou durante a audiência pública que a equipe do MCTI vem trabalhando para apresentar propostas que otimizem os processos e regulamentos para CT&I. A compilação será entregue à presidente Dilma Rousseff pelo ministro Aldo Rebelo.
(Vicente Melo, da Agência Gestão CT&I)


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