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quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Debatedores apontam carência de dados sobre aids em pessoas com deficiência

Para especialistas, as campanhas de prevenção à aids devem ter essa parcela da população como público-alvo

A falta de dados para orientar políticas públicas e a ausência de campanhas educativas e de prevenção podem ser consideradas as principais barreiras para enfrentar a incidência da Aids entre as pessoas com deficiência. Essa é a opinião de especialistas que participaram de audiência pública promovida nesta quarta-feira (24) pela Comissão de Defesa das Pessoas com Deficiência.

A diretora do Projeto Caminhos da Inclusão: Sexualidade, Aids e Deficiências, Kátia Edmundo, destacou a importância de levar para as ruas o debate sobre o enfrentamento do vírus HIV e sobre a realidade das pessoas com deficiência.

"A gente precisa de trabalho específico, mas também de trabalho transversalizado. Então, precisamos que nas campanhas de HIV/aids, pessoas com deficiência possam ter lugar, que sejam visíveis nesse processo. Os jovens com deficiência que são afetados pela aids não se veem, não se reconhecem."

Vida sexual
A representante da Rede de Jovens de São Paulo, Stefany Dias da Silva, concorda que as campanhas deveriam ter foco nas pessoas com deficiência, especialmente nos jovens. Ela observa que, em geral, a sociedade não está atenta à sexualidade das pessoas com deficiência.

"As pessoas acham que o jovem com deficiência não tem vida sexual ativa ou não é capaz de ter uma vida sexual ativa. E não é bem assim. O jovem com deficiência ama, sente atração, sente tudo que um jovem sem deficiência sente. A única diferença é que ele tem limitações. Só isso."

Carência de dados
Já a deputada Erika Kokay (PT-DF), autora do pedido para a realização da audiência, destacou a carência de dados epidemiológicos para saber quantas e quem são as pessoas com deficiência que convivem com o vírus da aids. Segundo ela, isso prejudica a implantação de políticas públicas.

"Nós sabemos do aumento da incidência de aids entre jovens homens que fazem sexo com homens. Isso possibilita que façamos políticas direcionadas, a partir desse perfil epidemiológico. Mas, as pessoas com deficiência são invisíveis. Não há dados."

O representante do Ministério da Saúde Marcelo Freitas, por sua vez, admite a falta de dados, mas ressalta o esforço para se alcançar um caminho nessa batalha.

"Nós não temos ainda os números de incidência nessa população específica. Esse é um desafio no mundo todo. Agora, estamos criando linhas específicas para conseguir saber o número de novos casos em populações específicas, pois achamos que aí teremos uma ideia melhor dos números aqui no Brasil", explicou.

Marcelo Freitas destacou ainda que, além de dados sobre a incidência da Aids entre pessoas com deficiência, é importante também caracterizar o grau de vulnerabilidade dessas pessoas. Dessa forma, segundo ele, políticas públicas mais eficientes poderão ser desenvolvidas.

Pesquisas
Já o representante da Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência Wederson Rufino dos Santos, ressaltou a necessidade da realização de pesquisas e estudos sobre deficiência e aids. Ele também concorda que as campanhas devam ser acessíveis e voltadas para o público-alvo e sugeriu a adoção de estratégias de políticas públicas que também levem em conta as especificidades regionais, além da capacitação de profissionais da saúde, da educação e da área assistencial para o atendimento a pessoas com deficiência.

A representante do do Movimento das Cidadãs Positivas Maria Aparecida Lemos informou que fez uma pesquisa empírica e descobriu que a maioria dessas pessoas não tem o hábito de usar preservativos. Ela defendeu a inclusão de uma linguagem específica para cada deficiência nas campanhas educativas. "Precisamos de políticas que atendam a todos", afirmou.

Medicamentos
O escritor e ativista Alberto Simão Volpe destacou que a deficiência também pode ser adquirida por consequência do vírus HIV, inclusive pelo uso dos medicamentos, que podem provocar danos ósseos, linfomas, lipodistrofia e câncer.

"Hoje aumenta o número de mortes por doenças não diretamente relacionadas à aids, mas não existem dados. Precisamos saber realmente como está a situação. Precisamos integrar os movimentos de enfrentamento à aids", avaliou.

Reportagem - Idhelene Macedo
Edição - Adriana Resende


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