Ex-funcionária do Ministério
da Saúde teria dado laudo favorável a remédio contra leucemia revendido por
empreendimento de seu marido
RAFAELA FELICCIANO/METRÓPOLES
A suspeita é que a
instituição tenha tentado favorecer-se de nota técnica elaborada em agosto de
2016 por Giselia Ferreira, à época coordenadora-geral da área
de Componente Especializado da Assistência Farmacêutica do Ministério da
Saúde. Giselia é casada com Álvaro Pereira Iaccino, dono da Iaccino e
McGrif.
MAIS SOBRE O ASSUNTO
- MPF-DF
quer garantir a suspensão de compra de remédio chinês pelo SUS
- Mesmo
após proibição, remédio chinês contra leucemia ainda é receitado
- MPF
pede punição de servidores que compraram remédio chinês pelo SUS
De acordo com documentos
obtidos pelo Metrópoles, as suspeitas ocorreram em março de 2017,
quando uma denúncia divulgada na imprensa desqualificou o medicamento chinês
L-asparaginase – utilizado no combate à leucemia, especialmente em casos
de crianças e adolescentes.
Servidores da pasta federal
afirmam que Giselia elaborou o documento um mês após o governo decidir comprar
o remédio chinês em vez do produto oferecido por concorrentes. De acordo com os
funcionários públicos, as denúncias teriam sido levadas à imprensa pelo marido
de Giselia, numa tentativa de influenciar a opinião púbica contra a substância
produzida na China.
A estratégia teria dado certo,
tanto que os questionamentos sobre a eficácia do remédio motivaram pedido do
Ministério Público Federal à Justiça para suspender a importação
do L-asparaginase. Em 25 de setembro do ano passado, o Judiciário proibiu o Ministério da Saúde de comprar o remédio do
país asiático. O MPF ainda pediu punição aos funcionários públicos
responsáveis por autorizar a aquisição da substância.
O Ministério da Saúde recorreu
e aguarda análise do caso. Enquanto isso, o L-asparaginase chinês continua
sendo usado na rede pública de saúde, em razão dos estoques feitos nas
primeiras aquisições. Contudo, novas compras estão suspensas.
Questionamentos
Um dos documentos que embasaram o pedido do MPF foi justamente a nota técnica elaborada por Giselia. Segundo defendia no texto, o insumo asiático era falsificado e apresentava substâncias prejudiciais aos pacientes. Ainda, o relatório informava existir suspeita de que o L-asparaginase nunca havia sido testado em humanos, e a taxa de mortalidade de pessoas submetidas a esse tratamento seria alta.
Um dos documentos que embasaram o pedido do MPF foi justamente a nota técnica elaborada por Giselia. Segundo defendia no texto, o insumo asiático era falsificado e apresentava substâncias prejudiciais aos pacientes. Ainda, o relatório informava existir suspeita de que o L-asparaginase nunca havia sido testado em humanos, e a taxa de mortalidade de pessoas submetidas a esse tratamento seria alta.
Giselia também argumentava que
o insumo não tinha licença nem mesmo do governo chinês. O medicamento
acabou sendo autorizado pela pasta, depois de novas análises e
investigação de uso em cinco países, entre eles a Índia e a própria China.
O relatório de Giselia recomendava a compra do remédio
fornecido pelo laboratório alemão Bagó, justamente a empresa representada
pelo marido da então servidora do Ministério da Saúde.
Após a argumentação
apresentada na nota técnica, a pasta pediu esclarecimentos tanto à
fabricante chinesa do remédio quanto à companhia alemã, que chegou a
fornecer o L-asparaginase em anos anteriores à entrada do concorrente asiático
no mercado brasileiro.
Novos laudos sobre os
medicamentos chinês e alemão foram solicitados às áreas técnicas e jurídica
da pasta e também a outras instituições, segundo a documentação, como a
Universidade de São Paulo (USP) e a Fundação Osvaldo Cruz (FioCruz). Todos
foram favoráveis aos dois produtos.
As áreas técnicas e jurídica
do Ministério da Saúde, por sua vez, acabaram concordando que, depois das
análises e devido à diferença de preço quatro vezes maior (o remédio
chinês custava US$ 38, e o alemão, US$ 173), a marca asiática deveria ser
mantida vencedora.
0 comentários:
Postar um comentário