Projeto desenvolvido pelo
professor Osvaldo Esteves Sant’Anna, do Instituto Butantan, em parceria com a
professora Marcia Fantini, do Instituto de Física da USP, ganha aporte da
Fapesp. A pesquisa busca sintetizar, caracterizar e determinar a eficácia de sílicas
nanoestruturadas para o desenvolvimento de vacinas para difteria e tétano (DT)
e hepatite B para administração por via oral. O Jornal USP no Ar conversou
com a professora Fantini para compreender melhor quais as aplicações da sílica.
A partícula de sílica foi
escolhida pelos pesquisadores como adjuvante, isto é, elemento responsável por
transportar o antígeno, por sua característica de ativação do sistema
imunológico. Quando o óxido de silício entra no organismo, é emitido um alerta
para as células do sistema imunológico: olha, aqui tem alguma coisa errada. “A
grande contribuição foi mostrar que esse veículo [sílica] que transporta e
protege os antígenos é bastante eficiente para ativar o sistema imunológico”,
expõe a professora Fantini. Muitas infecções são adquiridas por via oral e
nasal, logo esses são os meios próprios para a imunização.
Na verdade, a partícula de
sílica não é nano, mas sim micro. A nanoestrutura está dentro da partícula. No
interior da sílica, essas estruturas são manipuladas de acordo com o antígeno
que será transportado. No caso da hepatite B, foram testadas as condições de
armazenamento, entre -20º até a temperatura ambiente, além de diferentes pHs.
Os resultados de estabilidade em temperatura ambiente, ou em refrigeradores,
foram promissores. Se aplicados à escala produtiva, resultariam na diminuição
do custo de transporte e armazenamento. Também é possível capsular o antígeno
dentro da sílica, criando uma vacina oral contra a hepatite B. Essa linha de
pesquisa levará ao aumento da cobertura vacinal e à diminuição dos custos para
o Ministério da Saúde.
O desenvolvimento de uma
polivacina análoga à tríplice bacteriana DTP, capaz de imunizar os seres
humanos contra difteria, tétano e coqueluche, é outra meta do projeto. A diferença
é que com a nanoestrutura sílica, os pesquisadores planejam que a polivacina
seja administrada por via oral. Os resultados adquiridos com a difteria
expressaram maior velocidade de resposta imunológica por via oral, se
comparados aos adjuvantes convencionais. Os experimentos com o tétano também
são promissores. A grande dificuldade será juntar todos os componentes dentro
de uma única vacina. Por enquanto, os estudos estão sendo realizados
separadamente.
Para além do desenvolvimento
da polivacina, as sílicas nanoestruturadas estão sendo testadas na composição
de analgésicos a partir de toxinas extraídas de serpentes e aranhas. Na Unesp
Jaboticabal, a sílica está sendo combinada com polímeros sensíveis ao pH para a
vacinação via oral de filhotes de porcos.
Por Jose Carlos Ferreira -
Editorias: Atualidades, Rádio USP, Jornal da USP no Ar - URL Curta: jornal.usp.br/?p=228021 Foto:
Erasmo Salomão / Ministério da Saúde via Flickr – CC
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