Cientistas e deputados
defenderam "o fim da hipocrisia e do preconceito que têm impedido a
pesquisa e o uso medicinal da Cannabis no Brasil" durante audiência
pública nesta terça-feira (29) na Câmara. O debate foi promovido pela comissão
especial que analisa projeto (PL 399/15) que altera a Lei de Drogas e regulamenta o uso medicinal da planta
popularmente conhecida como maconha.
Segundo os debatedores, a
guerra às drogas, patrocinada pelos Estados Unidos, tem criminalizado
historicamente a Cannabis e dificultado o acesso daqueles que necessitam de
remédios que podem aliviar sofrimentos nos casos de epilepsia, mal de Alzheimer
e câncer. Eles destacaram que grandes centros de pesquisa no mundo têm apontado
indícios de vários outros usos medicinais.
Sidarta Ribeiro: maconha não é erva do diabo nem é a
panaceia
Necessidade de pesquisas
A psiquiatra Lisia Van Diemen,
especialista em dependência de drogas da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, ressaltou que ainda não há estudos sobre os efeitos a longo prazo do uso
medicinal da maconha. Ela defendeu pesquisas cuidadosas para avaliar os riscos
e benefícios da Cannabis.
Regulamentação urgente
Já a deputada Natália Bonavides (PT-RN), uma das organizadoras do debate, considera urgente e necessária a liberação e regulamentação dos usos medicinais da maconha. Natália destacou as possibilidades dos componentes da maconha contra os tumores malignos.
Já a deputada Natália Bonavides (PT-RN), uma das organizadoras do debate, considera urgente e necessária a liberação e regulamentação dos usos medicinais da maconha. Natália destacou as possibilidades dos componentes da maconha contra os tumores malignos.
"Eu já perdi um dos meus
melhores amigos para o câncer. E a sensação é de impotência, porque nada do que
está disponível hoje resolve alguns casos. Para mim, é simplesmente um absurdo
que a legislação atual esteja interditando que essa pesquisa seja feita aqui no
Brasil", desabafou.
Caminho do meio
Professor do Instituto do
Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e diretor da Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), o neurocientista Sidarta Ribeiro
defende investimento público em pesquisa para identificar os riscos e
benefícios da maconha.
"Os países que inventaram
a proibição, especialmente os Estados Unidos, já desinventaram, transformaram
isso numa indústria bilionária", lembrou. De acordo com Sidarta Ribeiro,
têm crescido o número de indicações e também número de estudos mostrando para o
que não funciona. "É pensamento mágico tanto achar que a maconha é erva do
diabo e não serve para nada quanto achar que ela é uma panaceia que serve para
tudo. O caminho do meio é o correto. A gente precisa então mapear, ao longo dos
próximos anos, através de pesquisas, todas as indicações possíveis",
afirmou.
Os cientistas destacaram que o
Brasil está atrasado em relação às pesquisas que têm sido feitas em outros
países, principalmente Israel, Estados Unidos e alguns da Europa, e pode ficar
dependente das grandes empresas e laboratórios que estão patenteando
medicamentos a partir dos principais componentes da planta, como o canabidiol e
o THC.
As pesquisadoras Virgínia
Carvalho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e Margarete Akemi Kishi,
da Universidade Presbiteriana Mackenzie, observaram que mais de 7 mil pessoas
conseguiram judicialmente o direito de plantar e fazer a extração dos
componentes da maconha em casa, mas que isso não garante a qualidade e nem a
quantidade dos componentes necessários para enfrentar as doenças.
Reportagem - Newton Araújo,
Edição - Ana Chalub, Foto - Claudio Andrade/Câmara dos Deputados
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